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Sem tempo de rádio e TV, partidos do ES dependem da atuação nas redes

Sem tempo de rádio e TV, partidos do ES dependem da atuação nas redes

Regra foi alterada pela minirreforma eleitoral de 2017 e deixa de fora da propaganda eleitoral gratuita partidos "nanicos" que não performaram bem na eleição de deputados federais

Publicado em 18 de agosto de 2020 às 20:32

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Partidos não terão espaço em propagandas eleitorais em rádio e TV
Partidos não terão espaço em propagandas eleitorais em rádio e TV. (Pixabay)

Em um cenário atípico de crise econômica e sanitária, a campanha eleitoral para o pleito de novembro desafia partidos a buscarem outros meios de se conectar com os eleitores. Sem o corpo a corpo, tradicional em campanhas municipais, o uso da internet e da TV assumem um peso ainda mais decisivo na hora de conquistar votos. Para sete partidos do Espírito Santo, no entanto, o obstáculo se torna ainda maior: eles estarão fora da propaganda na TV e no rádio.

Os partidos que não alcançaram uma porcentagem mínima de votos válidos na eleição para deputados federais no país, em 2018, perderam esse espaço. Esta será a primeira vez que uma eleição municipal deverá seguir a regra, estipulada pela minirreforma eleitoral, de 2017.

As siglas perdem o direito tanto de participar do horário eleitoral quanto das inserções de até um minuto entre as programações.

Embora o TSE não tenha divulgado a lista com o tempo de cada partido, já estão fora das mídias tradicionais as seguintes siglas:

  • Rede
  • PSTU
  • PMN
  • PMB
  • PCB
  • PRTB
  • DC

Especialistas afirmam que a regra para ter direito a exposição, assim como o fim das coligações em eleições proporcionais, é uma estratégia para tentar frear a proliferação de partidos no Brasil, que atualmente conta com 33 siglas.

Presidentes das executivas estaduais lamentam a exclusão, mas garantem que já estão se organizando para usar as ferramentas que estão à disposição, como a internet e distribuição de materiais gráficos.

COMO PRETENDEM ATUAR

A Rede, que possui apenas um deputado federal eleito, é uma das siglas que não vai poder utilizar o recurso. Com 13 pré-candidatos a prefeito confirmados, o partido planeja investir na construção de coligações partidárias para as candidaturas de prefeito e vice. Dividindo chapa com partidos maiores, a legenda ganha a chance de aparecer.

Partido do atual prefeito da Serra, Audifax Barcelos, a Rede tem pré-candidatos a prefeito em todas as cidades da Grande Vitória e cerca de 400 pré-candidatos para ocupar vagas de vereador em todo o Estado.

PMN, PRTB e DC vão apostar tanto em redes sociais quanto na divulgação por meio de materiais gráficos. As legendas admitem que a pandemia dificulta o contato entre os eleitores e o material produzido, mas não veem outra solução, principalmente no caso de cidades do interior.

“Em cidades menores são muito importantes as divulgações tradicionais, o tempo de TV não influencia tanto. Não tem como não investir em material gráfico, mas também estamos focados nas redes sociais”, afirma o tesoureiro do PMN estadual, Fabiano Mendes. Os partidos têm pré-candidatos confirmados para prefeituras e cogitam entre 300 e 700 nomes para concorrer em Câmaras municipais.

O presidente estadual do PMB, Paulo Sergio Bastos, acredita que será difícil apostar em campanha tradicional devido à necessidade distanciamento social e, por isso, o partido vai dar foco total à divulgação na internet, tanto em redes sociais como em jornais on-line.

A legenda se organiza, em âmbito nacional, com os olhos em 2022. Sem representantes no Congresso, a ideia é eleger o máximo de nomes agora para preparar um cenário mais favorável à eleição de representantes nas eleições gerais. No Espírito Santo, a sigla tem 11 pré-candidatos confirmados para disputar prefeituras e mais de 300 na corrida por uma cadeira de vereador.

PSTU e PCB confiam na atuação de militantes e voluntários. Ambos devem investir na campanha de rua, tentando evitar o contato físico. “Estamos pensando em talvez usar bicicletas com som”, disse o presidente estadual do PSTU, André Góis. As siglas também vão apostar no apoio de líderes comunitários e no “boca a boca”. No PCB, materiais gráficos devem ser elaborados pelos próprios apoiadores do partido.

TEMPO DE MÍDIA AINDA É IMPORTANTE

Não é novidade o uso da internet para campanhas. Desde as últimas eleições, em 2018, as redes sociais já mostraram ter peso decisivo na escolha dos representantes. Jair Bolsonaro (sem partido), por exemplo, foi eleito presidente da República com oito segundos de TV, enquanto Geraldo Alckmin (PSDB), com cinco minutos, não foi para o segundo turno.

O cientista político Paulo Baía avalia, no entanto, que não é possível deduzir que em campanhas municipais a situação será a mesma. Por ter caráter mais local e tradicionalmente ser marcada por mais proximidade entre os candidatos e os eleitores, o pleito municipal costuma depender mais das mídias tradicionais. “Em zonas rurais e cidades no interior, por exemplo, o rádio é muito importante”, aponta.

Baía ressalta que, diante da concorrência, qualquer tipo de divulgação é valiosa para os candidatos. A eleição deve ser mais pulverizada, já que com o fim das coligações para a eleição de vereadores as siglas estão apostando em mais candidatos a prefeituras. A exposição se torna ainda mais importante.

TENTATIVA DE FREAR PROLIFERAÇÃO DE PARTIDOS

O cientista político destaca que a regra tem a intenção de frear a proliferação de partidos no Brasil e, por mais que possa ser vista como injusta por algumas pessoas, obedece “uma hierarquização que foi definida pelo próprio eleitor”, uma vez que o tempo de cada sigla é determinado pelo número de votos válidos que ela recebeu na eleição dos deputados federais.

A resolução de 2017 diz que "terão acesso aos recursos do fundo partidário e à propaganda gratuita no rádio e na televisão os partidos políticos que obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 1,5% (um e meio por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 1% (um por cento) dos votos válidos em cada uma delas ou tiverem elegido pelo menos nove deputados federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação."

O advogado eleitoral Marcelo Abelha acredita que o número grande de partidos pode fazer mal para a democracia brasileira. “Isso confunde as pessoas e não deixa claras as ideologias partidárias”, afirma.

No ano passado, três partidos já foram incorporados a siglas maiores. O PRP se uniu ao Patriota; o PHS ao Podemos e o PPL ao PC do B. Abelha acredita que a regra, que tira legendas não só da TV e do rádio, mas também do fundo partidário, foi feita para priorizar a representatividade e a ideologia dos partidos.

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