> >
Covid-19: mais procura por trabalho e menos corpo a corpo em campanhas eleitorais

Covid-19: mais procura por trabalho e menos corpo a corpo em campanhas eleitorais

Pandemia obriga partidos a focar campanhas mais virtuais. Verbas devem ser destinadas para a contratação de profissionais qualificados

Publicado em 17 de agosto de 2020 às 05:30

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Demanda por vagas em campanha eleitoral aumenta com pandemia, mas partidos miram profissionais qualificados
Demanda por vagas em campanha eleitoral aumenta com pandemia, mas partidos miram profissionais qualificados. (Amarildo)

Elisangela Aprígio, de 36 anos, era diarista e cuidadora de idosos antes de a Covid-19 chegar ao Espírito Santo. Ela é uma das capixabas que perdeu o emprego durante a pandemia que, apenas em maio, ocasionou o fechamento de 6,8 mil vagas de emprego no Estado, o pior resultado em um mês desde maio de 2004.

Sem expectativa de retorno ao trabalho, a moradora do bairro São Pedro, em Vitória, já procurou um dos cabos eleitorais da comunidade. Ela tem interesse em atuar na campanha deste ano, uma oportunidade de trabalho temporário que pode ajudar nas contas de casa.

Elisangela não é a única. O cabo eleitoral Paulo Simão afirma que, mesmo em fase de pré-campanha, tem uma lista com mais de vinte nomes interessados em uma vaga para trabalhar. Partidos e figuras políticas acreditam que a tendência é a procura aumentar quando a campanha começar, no final de setembro.

"Com a situação que estamos, tanta gente precisando e desempregada, eu quero muito conseguir essa vaga, já que não tenho perspectiva de retornar ao trabalho que fazia antes", diz a diarista.

DEMANDA MAIOR QUE A OFERTA

Todo ano eleitoral é marcado pela movimentação partidária para mobilizar uma mão de obra que faça campanhas de rua. Caminhadas ao lado dos candidatos, "bandeiraço" em semáforos e entrega de santinhos são algumas das atividades executadas pelo exército arrebanhado pelos cabos eleitorais e líderes comunitários.

Este ano, no entanto, a conta está ficando difícil de fechar. A pandemia que resultou em muita gente desempregada é a mesma que tem forçado partidos e pré-candidatos a desenharem uma campanha com distanciamento social.

Lideranças partidárias confirmam que pretendem diminuir o investimento em materiais gráficos e direcionar a maior parte da verba para contratação de profissionais qualificados para atuar com internet e redes sociais.

"A oferta está precária nos partidos. Ainda não existe uma decisão sobre financiamentos e a pandemia fez todo mundo se habituar ao virtual que, inclusive, custa menos. Vai ter algo mais avançado de investimentos digitais, nada de rua, nada de gente pra andar, nada de gasolina pra gastar", aponta o ex-deputado federal Lelo Coimbra, um dos líderes do MDB no Estado.

CAMPANHA DE RUA AINDA É NECESSÁRIA

O especialista em marketing político Darlan Campos sustenta que a campanha tradicional não vai deixar de existir, muito menos em um pleito municipal. O corpo a corpo com o eleitorado ainda será importante para quem quer se eleger em bairros mais periféricos e municípios do interior. Com o cenário da pandemia, no entanto, tudo precisará ser feito com mais cautela e em menor expressividade.

"O digital terá um peso maior, mais decisivo, mas haverá ações fora também. É impensável uma eleição municipal sem ações de rua. Vereadores, por exemplo, geralmente fazem uma campanha mais barata com menos gente especializada", assinala.

Um posicionamento que tranquiliza o diretor do sindicato das gráficas no Espírito Santo, Romulo Samorini. Ele tem esperanças de que o impacto, embora certo, não seja tão forte. Geralmente, em anos eleitorais, a demanda chega a ser 40% maior, o que acaba gerando empregos temporários.

Desta vez, o resultado deve ser mais tímido. "A gente nunca passou por isso, esperamos as demandas, porém de uma forma menor. Não vai ser os 40%, mas não acho que vai ser ruim. Eles precisam estar na rua. É uma guerra né?", pondera.

Mesmo considerando que o investimento em métodos tradicionais de divulgação é necessário e, de forma atípica, deve acontecer, siglas como PDT e Republicanos já negociam uma fatia maior do orçamento para contratação de profissionais qualificados.

De acordo com Darlan Campos, os valores pagos a profissionais de comunicação para atuar nas campanhas pode ser até 30% a mais do que o mercado paga, o que, na hora de dividir o financiamento, deve causar cortes em outros "braços" da campanha.

UM QUE FAZ O TRABALHO DE 50

A percepção de que a campanha será virtual já chega em quem há 20 anos trabalha com campanhas de rua. Robinho Botelho, de Cariacica, afirma que a pandemia acelerou a mudança, mas o número de pessoas na rua já vem diminuindo há alguns anos. Ele relata que em pleitos anteriores chegou a organizar 200, 300 pessoas nas ruas e, este ano, "se tiver perna pra isso" pretende colocar cerca de 80.

Botelho acredita que vai faltar espaço para quem precisa e procura, mas com o crescimento do peso da internet isso já era esperado. "O candidato não vai conseguir chegar lá na ponta se ele não tiver alguém na rua, mas vão ser poucos. Vai ter muita gente atrás do computador e pouca gente na rua. Um cara atrás de um computador faz o trabalho de 50 pessoas na rua e, com certeza, com um alcance muito maior", pontua.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais