Repórter / jafonso@redegazeta.com.br
Publicado em 16 de julho de 2025 às 11:40
Em menos de uma semana, bairros da Região 5, em Vila Velha, registraram nove baleados e três mortos. Segundo a Polícia Civil, o clima de tensão se intensificou em maio deste ano, quando um dos líderes da facção Terceiro Comando Puro (TCP), Lucas de Almeida Bernardo, foi preso durante uma operação do Ministério Público do Espírito Santo (MPES). A partir de então, o grupo rival, Primeiro Comando de Vitória (PCV), tenta tomar o território. Mas a guerra não é tão simples: tem outros bastidores envolvidos, como um racha dentro do próprio PCV e ordens que saem de dentro de presídios. Entenda abaixo o que está por trás dos conflitos na área.
Antes de tudo, é importante entender que a Região 5 é formada por mais de 22 bairros. Deles, apenas dois são área de atuação do TCP: Ulisses Guimarães e Vinte e Três de Maio, chefiados pelos irmãos gêmeos Lucas de Almeida Bernardo e Luciano de Almeida Bernardo. Já o tráfico de drogas dos outros bairros é gerido pelo PCV, sob comando de Cleuton Gomes Pereira, o Frajola.
Segundo o subsecretário de Inteligência da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), Romualdo Gianordoli, Luciano e Frajola já estavam atrás das grades, mas Lucas foi preso em maio, momento em que os bairros dominados pelo TCP ficaram fragilizados: era a hora perfeita para o PCV tentar tomar a região. Foi quando os ataques aumentaram.
Major Cézar
Comandante da 13ª Companhia Independente da PMDe acordo com o delegado Romualdo, historicamente os bairros Ulisses Guimarães e Vinte e Três de Maio não tinham tanto poder de fogo: não possuíam fuzil e tinham poucas munições e armas, mas nesses últimos conflitos eles estão se defendendo com armamento pesado. De onde veio isso? Tudo indica que tenha relação com um racha ocorrido dentro da facção PCV.
Conforme noticiado por A Gazeta no início deste ano, lideranças antigas do PCV, como o Frajola, não reconhecem os novos chefes da facção. Por esse motivo, querem sair do grupo. Isso fez com que os novos começassem a atacar áreas dominadas pelos antigos.
Um dos chefes desse "novo" PCV é Sérgio Raimundo Soares, o Serginho Cauê. "É importante falar nesse indivíduo porque ele tem patrocinado guerras em toda a Grande Vitória: ele tem área de domínio em Industrial, Novo Porto Canoa, em outros bairros da Serra, e tem patrocinado guerras em vários lugares, como Cobi e outros lugares que têm essas lideranças antigas do PCV que não quiseram prestar reverência a ele", explicou Romualdo.
Seguindo essa lógica, de acordo com informações, é possível que os bairros Ulisses Guimarães e Vinte e Três de Maio estejam recebendo patrocínio bélico desse novo PCV, para conseguirem se defender dos ataques orquestrados pelo grupo de Frajola.
Ainda conforme o delegado Romualdo, como as lideranças de ambas as facções que atuam na Região Cinco estão presas, as ordens para os ataques estão saindo de dentro dos presídios.
"Esses ataques estão ocorrendo dos dois lados, tanto do TCP quanto do PCV. A principal dificuldade é a questão da própria estrutura dessas facções criminosas, que é organizada, possui armamento pesado, está vindo armamento de fora para ajudar nesses ataques, então a Polícia Civil com a Polícia Militar e a Guarda Municipal primeiro quer prender esses criminosos e trazer essa paz à sociedade", destacou o delegado Adriano Fernandes, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha.
Em entrevista ao repórter Alberto Borém, da TV Gazeta, o subsecretário de Integração Institucional da Sesp, coronel Marcio Celante, disse que o governo do Estado determinou o emprego de todos os recursos operacionais possíveis na região.
"São mais de 120 profissionais da Segurança Pública na região, Batalhão de Missões Especiais (BME), Batalhão de Ação com Cães (BAC), Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil, Ronda Ostensiva Municipal (Romu) da Guarda Municipal, Polícia Penal, com todo esse trabalho, junto a informações da Inteligência, vamos conseguir não somente dar resposta, mas estarmos presentes e dar uma tranquilidade à comunidade", ressaltou. Ele ainda disse que, na terça-feira (15), três criminosos foram presos e duas armas apreendidas.
Sobre a identificação dos suspeitos envolvidos nos ataques, o coronel afirmou que o setor de Inteligência da Sesp já possui, mas que a informação é sigilosa. "Com o cerco inteligente vamos conseguir identificar veículos que estão sendo usados para essas práticas criminosas", ressaltou.
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