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Polícia investiga lavagem de dinheiro do tráfico em loja infantil no ES

Polícia investiga lavagem de dinheiro do tráfico em loja infantil no ES

Segundo a polícia, a empresa pertence a uma advogada, de 37 anos, que é esposa de um dos líderes da organização criminosa. Atualmente, ele está preso

Publicado em 23 de setembro de 2020 às 13:03

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Polícia Civil apresenta dados investigados na Operação Capital
Polícia Civil apresenta dados investigados na Operação Capital. (Reportagem)

Polícia Civil apresentou nesta quarta-feira (23) os dados da Operação Capital, que investiga integrantes de uma organização criminosa do Complexo da Penha, em Vitória, que estariam cometendo o crime de lavagem de dinheiro com o lucro obtido no tráfico de drogas.

De acordo com a polícia, a lavagem do dinheiro acontecia por meio de uma empresa de roupas infantis, localizada na Serra. Além disso, imóveis e carros de alto padrão, que teriam sido comprados com dinheiro do tráfico, foram bloqueados. No total, eles estão avaliados em R$ 2,2 milhões.

EMPRESA SERIA DE ADVOGADA

Segundo a polícia, a empresa pertence a uma advogada, de 37 anos, que é esposa de um dos líderes da organização criminosa, que atualmente está preso. Apesar de a empresa estar registrada no nome de familiares, a polícia afirma que ela pertence, de fato, a esposa do líder da facção.

Segundo o titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), delegado Marcus Vinicius Souza, ela já havia sido presa em 2007, por tráfico de drogas e, em 2012, por associação ao tráfico, e seria a responsável por coordenar toda a operação.

“A parte da lavagem de dinheiro era comandada pela esposa deste líder de organização criminosa. Ela é advogada e responsável pela movimentação financeira dos valores. Ela utiliza também familiares para a aquisição de bens, ocultação de valores, movimentações financeiras diversas em nome desses familiares e de terceiros, que eram utilizados como laranjas para colocar bens em seus nomes, valores nas contas bancárias e realizar outros tipos de movimentação”, explicou.

Ainda de acordo com o delegado, o dinheiro do tráfico era utilizado para compra de produtos na empresa de roupas infantis para ludibriar as autoridades. Em um dos casos, uma pessoa envolvida no grupo teria feito a compra de R$ 32 mil reais em roupas na loja em um período de um ano.

“Nas investigações nós descobrimos que uma das pessoas que é envolvida com a organização criminosa supostamente adquiriu R$ 32 mil em mercadorias. Essa pessoa sequer tem vínculo empregatício. Ela adquire em um curto espaço de tempo R$ 32 mil, valor esse que suspeitamos que entrou de forma ilícita, que seja proveniente do tráfico de entorpecentes, foi simulada uma venda na loja para que esse dinheiro se torne ilícito”, destacou.

CONTADORA E OUTRA ADVOGADA NO GRUPO

Ainda para realizar as operações com o dinheiro ilícito, a polícia informou que a organização tinha uma contadora, também investigada, que auxiliava nas operações de ocultação dos bens.

Outro alvo da polícia é uma mulher de 27 anos, esposa de um dos integrantes da organização criminosa, que seria responsável por recolher os valores da venda de drogas e repassar para a dona da empresa.

Além delas, a polícia também investiga uma advogada, de 31 anos, irmã da suspeita de ser a responsável pela lavagem de dinheiro. Ela seria responsável também pelo que a polícia chamou de “departamento jurídico” da organização criminosa.

De acordo com o delegado, essa advogada teria registrado imóveis e veículos supostamente adquiridos com dinheiro proveniente do tráfico, já que não possuía condições financeiras para as aquisições. Ainda segundo a polícia, os clientes dela são “quase exclusivamente integrantes da organização criminosa comandada pelo cunhado”.

BENS BLOQUEADOS E APREENDIDOS

No total, sete imóveis e três carros foram bloqueados pela polícia. Segundo as investigações, eles eram registrados e transferidos para “laranjas”. Entre os imóveis, estão seis apartamentos, localizados na Serra e Vitória, e avaliados entre R$ 170 mil e R$ 400 mil, e uma casa de praia em Guarapari, avaliada em R$ 500 mil. Todos os imóveis juntos totalizam, aproximadamente, R$ 2 milhões. Também foram apreendidos três veículos, com valores entre R$ 50 mil e R$ 75 mil, totalizando R$ 200 mil.

MANDADOS DE PRISÃO, BUSCA E APREENSÃO

De acordo com a polícia, nove mandados de prisão foram solicitados, mas apenas um - de prisão domiciliar - foi expedido pela Justiça. O alvo é a advogada, esposa de um dos líderes da organização e responsável por coordenar a lavagem de dinheiro, mas ela não foi encontrada. Segundo o delegado, a polícia recebeu informações de que ela vai se entregar nesta ainda nesta quarta-feira (23).

Além disso, foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão domiciliar em Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra, Guarapari, Marataízes, Cachoeiro de Itapemirim e Rio de Janeiro/RJ. Entre os materiais apreendidos, estão documentos contábeis, celulares, computadores, um revólver, munições, drogas e uma balança de precisão.

IMÓVEL NO RIO DE JANEIRO E SUSPEITA DE FUGA

Segundo o delegado Marcus Vinicius, um imóvel foi alugado no Rio de Janeiro pela coordenadora do grupo. Ele contou que a intenção era estabelecer uma suposta residência na cidade para solicitar a transferência do preso para o Estado carioca. A polícia acredita que essa tentativa de transferência serviria para uma fuga e posterior saída do país, visto que integrantes da família obtiveram cidadania italiana.

“Os integrantes do grupo familiar obtiveram cidadania italiana e planejavam se evadir do país, planejavam mudar do Brasil. E também obtivemos provas de que um dos integrantes alugou um imóvel no Rio de Janeiro, visando transferir o elemento que seria um dos líderes dessa organização, para cumprir pena naquele Estado. Esse integrante da organização alegou que estaria residindo no Estado do Rio de Janeiro juntamente com o filho. E, como a nossa lei de execuções penais diz que o preso tem que cumprir pena em estabelecimento prisional próximo a sua família, foi feita uma tentativa de transferência para o Rio de Janeiro. Nós suspeitamos que essa tentativa de transferência serviria para que esse preso fugisse do sistema prisional e, posteriormente, se evadisse do país”, afirmou.

INVESTIGAÇÕES CONTINUAM

As investigações duraram um ano e meio e, segundo o delegado, elas vão continuar e novas fases da operação serão deflagradas.

“Essa foi a primeira fase da investigação. Nessa primeira fase, identificamos esse patrimônio: sete imóveis, três veículos e algumas contas bancárias. As investigações vão continuar. Possivelmente, serão localizados outros bens, mas, ainda precisamos aprofundar essas investigações. Nesse um ano e meio de investigação, obtivemos provas que são robustas e comprovam o envolvimento dessas pessoas nesses crimes e a aquisição desses bens com valores ilícitos. Essa foi apenas a primeira fase da investigação”, completou.

POSICIONAMENTO DA OAB

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Nesta terça-feira (22), dia em que foi deflagrada a operação, a Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Espírito Santo (OAB-ES), informou, por meio de nota, que está acompanhando o caso e buscando informações para tomar as providências cabíveis, observando as prerrogativas da advocacia e as normas do Código de Ética e Disciplina.

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