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Publicado em 10 de julho de 2025 às 17:44
O anúncio do presidente Donald Trump de impor, a partir de 1° de agosto, tarifas de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos deixou a economia do Espírito Santo em alerta, visto que 33,9% das exportações capixabas têm como destino o país norte-americano. >
Setores do Espírito Santo diretamente impactados pelas medidas protecionistas de Trump, como aço, celulose, minério, rochas ornamentais e café, temem que investimentos previstos para o crescimento dos setores sejam revistos, além do risco de provocar desemprego.>
Economistas e analistas avaliam que, em meio a esse cenário desafiador, surge a necessidade urgente de traçar estratégias robustas para minimizar os impactos negativos e ainda transformar a crise em uma oportunidade de fortalecimento e diversificação da economia capixaba, de maneira a se tornar menos dependente da relação com os Estados Unidos.>
O economista Eduardo Araújo pondera que, se confirmada em agosto, a medida atingirá os dois lados da balança comercial: dificultará as vendas para fora e poderá encarecer as compras de máquinas e insumos. Esse tipo de pressão simultânea tem nome: é o que se pode chamar de “efeito sanfona”. Segundo ele, o Estado corre o risco de ser comprimido pelas duas pontas — e precisa se antecipar.>
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O economista Ricardo Paixão avalia que a decisão do governo norte-americano não tem fundamentação científica ou baseada em dados, sendo puramente ideológica e política. Para ele, é uma estratégia para rever acordos internacionais e tentar reduzir problemas no superávit comercial com o resto do mundo.>
Sobre impactos, o economista aponta que a medida, primeiramente, pode levar à alta nos preços e, consequentemente, à inflação. Se o tarifaço se perpetuar, também acabará afetando empregos em diversos setores, afirma o especialista.>
"A medida é uma forma de retaliação e chantagem. A imposição de tarifas não se justifica, pois os Estados Unidos, na verdade, têm superávit nas relações comerciais com o Brasil, ou seja, exportam mais do que importam. Dentro das ciências econômicas, essa atitude não tem nenhuma lógica teórica", considera Paixão.>
Pablo Lira, diretor-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), ressalta que a medida pode levar ao adiamento de investimentos por parte de empresários, o que significaria menor geração de empregos e renda. Há também o risco de aumento da inflação e, em uma perspectiva mais estrutural, aumento do desemprego.>
O Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Espírito Santo (Sindiex) lembra que Espírito Santo, por sua vocação exportadora e localização estratégica, possui uma economia fortemente integrada ao comércio internacional. Para a entidade, a adoção de tarifas punitivas dessa magnitude tende a gerar perdas significativas de competitividade, retração de investimentos e redução na geração de empregos diretos e indiretos.>
O secretário de Estado de Desenvolvimento, Sergio Vidigal, considera que a tarifa de 50% anunciada pelo ex-presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros, a partir de agosto, representa um desafio especialmente para Estados exportadores como o Espírito Santo.>
Sergio Vidigal
Secretário de Estado de DesenvolvimentoJá o prefeito da Serra, Weverson Meireles, manifesta preocupação com a medida. Ele considera que haverá impactos diretos sobre setores estratégicos da economia brasileira — especialmente o aço e as rochas ornamentais, bases importantes da produção e do emprego no município serrano e em todo o Espírito Santo.>
Meireles destaca que a Serra, como maior município do Estado e polo industrial de destaque nacional, integra uma cadeia produtiva fortemente conectada ao mercado externo. Os Estados Unidos figuram como o principal destino das exportações capixabas.>
“É natural que recebamos essa notícia com preocupação. No entanto, reafirmamos nosso compromisso com o diálogo, a articulação com os entes federativos e o apoio às empresas e aos trabalhadores locais. Estamos mobilizados para enfrentar mais esse desafio com trabalho, união e responsabilidade, buscando preservar os empregos, atrair novos investimentos e garantir a continuidade do nosso desenvolvimento”, pontua.>
Diante desse cenário, o economista Eduardo Araújo avalia que o Espírito Santo precisa de uma reação em duas frentes. No curto prazo, a prioridade está na diplomacia — tanto por vias bilaterais quanto por mecanismos como a Organização Mundial do Comércio (OMC).>
Já no médio e longo prazo, Araújo afirma que o Estado precisa se mover com mais estratégia. Diversificar mercados, fortalecer sua indústria e promover missões internacionais são caminhos possíveis. >
“São Paulo já tem feito isso. Se a sanfona está prestes a apertar, não se trata apenas de resistir — é hora de trocar a partitura. E tocar para plateias que ainda não nos ouviram”, aponta.>
Já Pablo Lira acredita que, pelo histórico de decisões anteriores do presidente dos Estados Unidos, as medidas não devem ser mantidas por muito tempo, justamente pelas consequências econômicas e políticas que trariam para o próprio Estados Unidos. Ele acredita em um reequilíbrio das parcerias comerciais globais.>
Mesmo assim, apontou algumas estratégias para o Espírito Santo ser menos dependente da relação comercial com os Estados Unidos. Para Lira, esse é o momento de diversificar parceiros comerciais, buscando novos mercados e reduzindo a dependência da balança comercial com os EUA >
Outra medida possível é a expansão para novos mercados considerados promissores, em regiões como a Índia, outros países da Ásia (como a Coreia do Sul), o continente africano e a própria América Latina, com o fortalecimento do Mercosul. A parceria com a China também pode ser ampliada.>
Já o Sindiex afirma que vai manter um trabalho constante de monitoramento do comportamento do mercado internacional, com atenção redobrada às cadeias produtivas locais que possam ser afetadas. >
A entidade reforça a importância estratégica da consolidação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, como forma de ampliar a inserção do Brasil em mercados estratégicos e reduzir vulnerabilidades externas.>
Outra medida lembrada pelo economista Ricardo Paixão é o fato de o Espírito Santo ter o Fundo Soberano, que pode servir para amortecer esses efeitos e evitar o desequilíbrio das finanças estaduais em caso de um agravamento da crise.>
"Nós temos um colchão (reserva financeira) que iria amortecer esses efeitos. A gente não quer se utilizar disso, mas, caso ocorram efeitos mais fortes, o Espírito Santo tem essa poupança com dinheiro dos royalties do petróleo", lembra.>
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