> >
23 mil famílias passam a cozinhar com lenha e carvão no ES

23 mil famílias passam a cozinhar com lenha e carvão no ES

Somente em Vitória, dados do IBGE mostram que dobrou o número de domicílios que contam com esse método para produzir refeições. Nos últimos meses, muitos consumidores têm reclamado de elevação no preço do gás.

Publicado em 11 de maio de 2020 às 12:33

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Fogão a lenha
Fogão a lenha já é utilizado por 12,4% da população do Estado. (Edson Chagas - Arquivo)

Mais de 23 mil famílias no Espírito Santo passaram a utilizar lenha ou carvão para preparar alimentos em 2019. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Domicílios Contínua (Pnad-C) do IBGE, divulgada no último dia 6, o número de domicílios que usam esse método para cozinhar foi de 153 mil (10,9% do total) para 176 mil (12,4% do total) entre 2018 e 2019.

Enquanto parte dessas famílias, principalmente na área rural, escolhe cozinhar com lenha, mesmo tendo acesso a meios alternativos, outra parte o faz por falta de opção. Como não há registro de aumento da população rural, o crescimento no uso desse método mais rudimentar de preparar alimentos pode significar um empobrecimento da população.

Segundo o pesquisador e diretor do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) Pablo Lira, nem todos esses domicílios são pobres. Contudo, parte deles reflete o aumento dos grupos de maior vulnerabilidade social, no campo – principalmente nas regiões Noroeste, Central e Extremo Norte – e também nas cidades.

JÁ SÃO 4 MIL FAMÍLIAS COZINHANDO COM LENHA EM VITÓRIA

A Pnad mostra que, em Vitória, o número de famílias que cozinhavam com lenha ou carvão dobrou em um ano, indo de 2 mil para 4 mil entre 2018 e 2019.

"Vitória é o município mais urbanizado do Estado e um dos mais urbanizados do país. Nesse caso, são famílias que não têm condições de ter e manter um fogão a gás em casa", diz.

O tipo de combustível utilizado na preparação de alimentos é um dos critérios utilizados pelo Banco Mundial para avaliar os níveis de renda de diferentes populações. Pela escala da instituição, a utilização de lenha ou carvão para cozinhar é uma característica do grupo de renda mais baixa, ou seja, da parcela mais pobre da população mundial.

"É consequência do próprio momento que vive o nosso país. Economistas apontam que vivemos entre 2011 a 2020 a segunda década perdida em 40 anos. Em 2018 e 2019, a economia estava um pouco melhor, mas a taxa de desemprego ainda era alta, o que impacta nos domicílios rurais e urbanos", afirma Lira.

CRISE DO CORONAVÍRUS VAI AGRAVAR SITUAÇÃO DE FAMÍLIAS MAIS POBRES

O prognóstico para os próximos meses não é positivo. A pandemia do novo coronavírus e a crise mundial desencadeada por ela pesarão, novamente, sobre os mais pobres.

Alguns efeitos já começam a ser sentidos. As medidas de isolamento fizeram com que mais famílias cozinhassem em casa, aumentando a demanda por gás de cozinha. Isso provocou um desabastecimento e, com menos produto no mercado, os preços foram nas alturas.

Na Grande Vitória, os preços beiraram os R$ 80 em abril deste ano. O botijão era vendido por R$ 65, em média, em dezembro de 2019.

Organizações que atuam nas comunidades de Serra e Vila Velha relatam que muitos moradores já não conseguem mais comprar o produto. É o caso dos autônomos, como vendedores ambulantes, faxineiras, manicures, que, por conta da quarentena, deixaram de trabalhar e estão sem renda.

"A gente tem um desdobramento no emprego, na atividade comercial, na prestação de serviços e a renda tende a cair. É um encadeamento de impactos que atingem de forma mais intensa as famílias mais vulneráveis de ponto de vista social e econômico", avalia o especialista.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais