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O que explica a morte de jovens infectados pelo coronavírus?

O que explica a morte de jovens infectados pelo coronavírus?

Embora a faixa etária com maior incidência de óbitos seja a que está acima dos 60, não têm sido raros os casos na população de até 29 anos

Publicado em 23 de agosto de 2020 às 06:15

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No mundo pós-coronavírus, tendência é que o distanciamento social continue existindo embora as pessoas passem a valorizar mais os contatos pessoais
O distanciamento social continua sendo uma importante conduta para evitar o contágio por coronavírus. (Gerd Altmann/Pixabay)

Muito ainda precisa ser investigado no que diz respeito à Covid-19, mas um aspecto reconhecido, desde o início da pandemia, é o fato de as pessoas com mais de 60 anos serem mais vulneráveis a desenvolver quadros graves, com maior risco de óbito e, por isso, compõem o grupo de risco da doença.  Então, o que explica a morte de jovens infectados pelo coronavírus?

Não há uma resposta fácil para essa questão e para muitas outras relacionadas à Covid-19, afirma o infectologista Lauro Ferreira Pinto. Ele cita como exemplo um caso dos Estados Unidos, relatado em uma publicação científica, de dois irmãos, de 29 e 32 anos, que morreram.  A investigação apontou que tinham uma condição genética rara que os tornou mais suscetíveis à doença e a evoluir com gravidade.

Há situações em que os jovens também têm comorbidades, o que pode contribuir para o agravamento, e há outros quadros em que ocorre justamente o contrário. "Alguns têm um sistema imune muito robusto, e acabam fazendo uma tempestade de citocina, como se a reação inflamatória fosse mais exagerada, mais agressiva", pontua Lauro Ferreira Pinto. 

Cardiologista e paliativista, Henrique Bonaldi observa que, em geral, se os jovens não apresentam problemas cardiovasculares como comorbidade, o maior fator de risco nessa faixa etária é a obesidade.  Contudo, ele sustenta que há outras condições que podem levar a morte, independentemente de doenças preexistentes.

Ele conta sobre um médico de São Paulo, que tinha a traqueia invertida, e não foi possível fazer a intubação. "No final, ele morreu por uma incapacidade técnica de colocar o ventilador mecânico para ajudá-lo a respirar", lamenta. Bonaldi ressalta que, portanto, não importa a idade, o melhor é não ser infectado pelo coronavírus. 

CASOS NO ES

No Espírito Santo, desde o início da pandemia, houve o registro de 30 mortes de jovens de 20 a 29 anos, segundo dados do Painel Covid-19, ferramenta do governo com acompanhamento diário da doença. Desse grupo, muitos não apresentavam comorbidades, como é o caso do médico Raul Lima Barros, 28 anos, que morreu no final de julho após ficar quase um mês internado.

Outra médica vítima da Covid-19 é Paloma Alves dos Santos, de 27 anos. Moradora de Nanuque, em Minas Gerais, a jovem atuava em unidades de saúde do interior do Espírito Santo e morreu nesta quinta-feira (13) por complicações decorrentes da doença. 

Em reportagem especial de A Gazeta sobre a rotina em UTI para atendimento a pacientes com a Covid-19, um médico também se lamentava por ter perdido uma jovem de 25 anos, sem comorbidades. 

Para Henrique Bonaldi, mais jovens estão sendo infectados porque também estão mais expostos, e uma parcela deles tem a possibilidade de agravar e morrer. 

"A exposição é o que domina tudo: se a gente puser dois grupos de 100 pessoas, metade idosos que ficam no alto da montanha se comunicando só entre eles, metade jovens economicamente ativos, os mais velhos vão ficar por lá quatro, cinco, seis anos sem ter a doença. Os mais jovens estão saindo para trabalhar, vão a supermercado, padaria, vão para o calçadão; eles não estão isentos do risco", sustenta. 

Para Lauro Ferreira Pinto, a morte de jovens é uma tragédia, e deve servir de alerta sobre a imprescindível manutenção dos protocolos de saúde, como uso de máscara e distanciamento, para evitar o contágio.

"Dados indicam que a contaminação está maior entre os jovens neste momento porque estão se expondo mais. Estão saindo, indo a festas, encontros, praticando esportes coletivamente, acreditam que, por serem novos, são invencíveis. Primeiro que não, não são invencíveis e podem morrer; e, ainda que sobrevivam, levam esse vírus adiante e o mantém em circulação. É preciso mudar essa conduta", finaliza o infectologista. 

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