Publicado em 2 de julho de 2020 às 16:18
Mesmo sem a comprovação de eficácia indicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo menos seis prefeituras do Espírito Santo anunciaram que podem usar cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de pacientes diagnosticados com a Covid-19 no Estado. A prática é criticada por associações médicas, pesquisadores, especialistas que atuam no combate ao novo coronavírus. >
Nesta quarta-feira (1º), o governo municipal de Vitória informou que além dos dois medicamentos, também pode aplicar ivermectina em casos suspeitos ou confirmados da doença na rede pública de saúde. Além da Capital, a prática foi adotada nos municípios de Aracruz, Cariacica, Itapemirim, Nova Venécia e Colatina. >
A líder de equipe para Implementação de Pesquisas da Organização Mundial de Saúde (OMS), Ana Maria Henao Restrepo, comentou sobre os testes em andamento de medicamentos para a Covid-19. Durante entrevista coletiva, ela lembrou que a hidroxicloroquina foi testada no estudo comandado pela OMS, mas "infelizmente, não teve os resultados positivos que gostaríamos" contra a enfermidade.>
Uma das referências sobre o novo coronavírus no Brasil, a médica capixaba e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Margareth Dalcolmo, criticou a medida durante entrevista exibida nesta quinta-feira (02) ao ESTV1, da TV Gazeta. A pneumologista lembrou que foi diagnosticada com a Covid-19 e que entende a vontade dos gestores públicos em promover ações de enfrentamento ao vírus.>
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Margareth Dalcolmo
PneumologistaNesta terça (30), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) emitiu um informe com esclarecimentos sobre os diferentes tratamentos farmacológicos já avaliados até agora, destacando que muitas divulgações sobre eles ainda não têm evidência científica.>
Sobre a cloroquina, a nota diz que o uso no tratamento da Covid-19 nos primeiros dias de doença, em casos leves e moderados, está sendo avaliado e aguardam-se os resultados, e recomendou que o medicamento não seja usado, devido à falta de benefício comprovado e potencial de toxicidade.>
Quanto aos antiparasitários, como a ivermectina, avalia que parecem ter ação contra a Covid-19 no laboratório, porém ainda não há comprovação de eficácia em seres humanos. A nota cita ainda os corticoides, antivirais, anticoagulantes, imunomodulador, plasma convalescente e suplementos alimentares.>
Assim como a SBI, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) também emitiu nota comentando e orientando sobre uso dos medicamentos. O documento, publicado na segunda-feira (29), alerta que ivermectina, cloroquina e hidroxicloroquina não são capazes de evitar que pacientes ainda não infectados sejam acometidos pela doença. >
Não existem evidências científicas de que quaisquer das medicações disponíveis no Brasil, tais como ivermectina, cloroquina ou hidroxicloroquina, isoladas ou associadamente, colaborem para melhor evolução clínica dos casos. Isso também é verdade para vitaminas, como, por exemplo, a C e D, e suplementos alimentares contendo zinco ou outros nutrientes, informa a nota.>
Já o presidente do Conselho Regional de Medicina no Espírito Santo (CRM-ES), Celso Murad, afirma que há uma corrente científica no Brasil que aponta evolução na saúde do paciente quando o uso da cloroquina é adotado nos primeiros cinco dias após o surgimento dos sintomas da Covid-19. Ele defende que esse tipo de medicamento seja disponibilizado na rede pública de saúde para tratar a fase inicial da doença.>
Esse tratamento precoce parece que diminui a gravidade da doença. Então você vai ter muito menos pacientes necessitando de internação e enfermaria e uma redução considerável da demanda aos centros de terapia intensiva, disse. >
A secretária de Saúde de Vitória, Cátia Lisboa, explicou que o protocolo publicado no Diário Oficial do município vai nortear a prescrição do médico. A gestora da saúde informou que a cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina serão testadas por 30 dias em um grupo de pacientes atendidos na rede pública de saúde do município. A informação foi concedida em entrevista ao ESTV1, da TV Gazeta, nesta quinta-feira (02).>
Numa das maiores crises sanitárias dos últimos tempos, é normal que existam controvérsias nesse momento. É por isso que a gente reafirma que a conduta do médico é soberana. Se ele entender que deve prescrever, ele vai prescrever. Precisamos acompanhar os 30 dias para ir avaliando todas as questões que envolvem a prescrição deste protocolo", afirmou. >
A secretária de Saúde de Aracruz, Clenir Avanza, disse que o protocolo anunciado pelo município dispõe sobre diversos medicamentos. Ela garantiu que não há distribuição de kits com remédios e que a prescrição acontece somente após consulta médica nas unidades de saúde administradas pela rede municipal. >
O protocolo ambulatorial funciona como uma orientação médico-científica. O médico aplica o protocolo conforme os próprios critérios. Fala-se muito em hidroxicloroquina, mas esse protocolo não é formado só por ela. Tem vários outros medicamentos ali e não são todos que são oferecidos ao paciente. Não existe distribuição de kits em Aracruz e nem incentivo à automedicação, declarou Avanza.>
Por meio de nota, a prefeitura de Colatina informou que o município já possui protocolo que orienta a prescrição de medicamentos através do critério definido pelo profissional de saúde responsável pelo tratamento, desde que o procedimento seja de interesse do paciente ou dos seus familiares. Nesta quinta-feira (02), as unidades de saúde da Vila e Itaipava receberam kits compostos por azitromicina, zinco, ivermectina e hidróxido de cloroquina. >
Todos que apresentarem síndrome gripal e que se enquadrarem no protocolo de diagnóstico para Covid-19 passarão por avaliação clínica com um médico e realizarão, no próprio local, o exame necessário para o diagnóstico da doença. A conduta que será seguida pela equipe médica, como teste rápido, solicitação do exame swab, encaminhamento para internação, ou apenas orientação para cumprimento de isolamento social, será adotada após a avaliação de cada paciente, diz a nota enviada pela prefeitura.>
Mediante a avaliação e a comprovação da doença, com a prescrição médica do kit, o paciente sairá com os medicamentos para tratamento do vírus. A prefeitura destaca que a pessoa que testou positivo para a Covid-19 tem a escolha de fazer ou não uso dos remédios e que, caso queira receber o coquetel, terá de assinar um termo de responsabilidade e autorização. >
A Secretaria de Saúde de Cariacica informa que no protocolo municipal não há previsão de adotar o uso de Ivermectina, somente cloroquina e hidroxicloroquina. A equipe técnica da secretaria ressalta que está elaborando o protocolo municipal, para posteriormente, solicitar as medicações à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). >
"Os medicamentos serão prescritos para pacientes que estiverem apresentando quadro clínico mais grave, com indicação de internação, e permanecerem no PA do Trevo de Alto Lage, aguardando transferência para leito hospitalar, regulado pelo Governo do Estado", informou a nota. >
As prefeituras de Nova Venécia e Itapemirim também foram questionadas sobre o uso dos medicamentos, mas nenhuma delas respondeu até o fechamento desta reportagem. Caso haja retorno, o texto será atualizado.>
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