Publicado em 25 de dezembro de 2020 às 22:20
Uma pesquisa divulgada nesta semana pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sobre casos de reinfecção pela Covid-19, constatou que uma segunda incidência da doença pode vir em forma mais grave do que a primeira. O estudo apontou que a memória para a resposta do sistema imunológico ao coronavírus, que impediria uma nova infecção, pode não acontecer em casos brandos. >
De acordo com microdados do Painel Covid-19, divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), mais de 16 mil pessoas no Espírito Santo tiveram o exame PCR positivo sem que tivessem apresentado qualquer sintoma. Das pessoas consideradas infectadas em algum momento, mais de 49 mil foram consideradas assintomáticas. >
A Gazeta ouviu especialistas para entender se uma reinfecção nestes casos seria, necessariamente, acompanhada de sintomas e com chances de maior gravidade que a primeira contaminação.>
De acordo com o médico infectologista Lauro Ferreira Pinto, o estudo da Fiocruz mostra algo que já vinha sendo relatado cientificamente, já que há pesquisas semelhantes acontecendo em outros locais do mundo. >
>
"Existe um estudo publicado pelo grupo de Oxford no dia 23 no New England Journal of Medicine, que é a mais importante revista médica americana, em que foram acompanhados 12 mil profissionais de saúde por um período de 6 meses. A pesquisa mostrou algumas coisas e uma delas é positiva: a reinfecção não é comum e é importante falar isso para não apavorar as pessoas", destacou. >
Apesar de incomum, outro fato é que a reinfecção de fato existe. "Ela pode ser mais branda ou mais grave. Há casos mais brandos de reinfecção, como o caso mais clássico de uma pessoa que chegou no aeroporto de Seul, na Coréia do Sul, e já tinha tido coronavírus no passado. O teste do aeroporto mostrou que ela estava infectada novamente e não tinha sintoma nenhum. Mas há casos mais graves e tem caso, pelo menos um, de reinfecção que levou à morte, no caso de alguém que tinha uma deficiência imune grave e faleceu". >
Para o especialista, o trabalho da Fiocruz ressalta que pessoas que tiveram casos mais leves estão mais sujeitas à reinfecção, assim como também demonstrou o estudo de Oxford. >
"O teste de anticorpos, como o que é feito pela Abbott, parece mostrar algum grau de proteção. O que o grupo de Oxford mostrou é que as pessoas que têm anticorpos em níveis bons no sangue, mais dificilmente serão reinfectadas, apesar de não ser impossível. Mas isso é mais comum quando os anticorpos desaparecem. Apesar disso, o risco parece ser maior nos que tiveram casos mais leves e que os anticorpos desapareceram mais rapidamente", ponderou. >
De acordo com a pós-doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel, que é consultora da Organização Mundial de Saúde (OMS), ainda não é possível afirmar categoricamente que uma segunda infecção pelo coronavírus seja de fato mais grave. >
Segundo ela, a memória imunológica parece durar entre 6 e 8 meses, como apontam alguns estudos. Logo, ela entende que não há consenso até o momento sobre os efeitos de uma segunda infecção pela Covid-19. >
"Algumas pessoas que se infectaram no início podem se reinfectar agora, mas essa questão da segunda vez ser mais grave ainda não é um consenso na literatura científica, porque alguns casos relatados não foram mais graves. Precisamos acompanhar melhor esses casos para poder afirmar com certeza", afirmou.>
Ethel Maciel, que é consultora da Organização Mundial de Saúde (OMS)
Pós-doutora em Epidemiologia, professora da Ufes e consultora da OMSA descoberta da Fiocruz, no sentido de que a reinfecção pode ser mais grave que a primeira contaminação pelo vírus, se deu após o sequenciamento dos genótipos do novo coronavírus. O artigo escrito foi coordenado pelo pesquisador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz) Thiago Moreno. >
A pesquisa acompanhou quatro indivíduos assintomáticos semanalmente a partir do início da pandemia, em março. Durante a pesquisa, foram feitos testes sorológicos e RT-PCR nas pessoas acompanhadas. >
No sequenciamento dos genomas, os pesquisadores confirmaram que uma pessoa contraiu o vírus associado a um genoma importado para o país e outra apresentou uma estrutura viral associada ao genoma que já circulava pelo Rio de Janeiro. Todos os indivíduos testaram positivo para Covid-19 e eram assintomáticos.>
Segundo divulgou a fundação, de acordo com Thiago Moreno, uma das pessoas acompanhadas procurou novamente o grupo de pesquisa no final de maio, alegando sinais e sintomas mais fortes de Covid-19, como febre e perda de paladar e olfato. >
Para o virologista, o trabalho reforçou a noção de que a reinfecção pelo novo coronavírus é possível, e que é algo comum entre vírus respiratórios, enfatizando que a primeira exposição ao vírus não é formadora de memória imune.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta