Publicado em 2 de julho de 2020 às 17:49
Não há quem não queira que a pandemia seja controlada e que a vida retorne ao normal. No meio desse desejo e do longo percurso a ser percorrido, você já deve ter ouvido falar do platô uma palavra que diz respeito a uma fase específica da curva epidemiológica do novo coronavírus. >
Para esclarecer o que ela significa e saber se o Espírito Santo pode estar próximo dessa etapa, A Gazeta conversou com o matemático Etereldes Gonçalves Júnior, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), que auxilia o Governo do Estado.>
Com origem no francês, o próprio significado do termo já ajuda a entendê-lo. A palavra platô pode ser utilizada como sinônimo de planalto no ramo da geografia. Ou seja, significa resumidamente uma superfície plana e elevada; e esse cenário também pode ser verificado na curva epidemiológica. >
Etereldes Gonçalves Júnior
Professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE)Nesse momento, é necessário esclarecer a diferença entre as curvas de casos acumulados e de casos ativos. A primeira nunca vai diminuir, já que é a soma de todos os infectados desde o início da pandemia. No entanto, a segunda é construída com o número de novos infectados, podendo variar para cima ou para baixo, dia após dia.>
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Na prática, quando uma cidade, um estado ou um país atinge o platô da Covid-19, significa que cada portador do novo coronavírus está contaminando, em média, uma pessoa. Em outras palavras, pode indicar que a fase de crescimento exponencial da doença ficou para trás. >
A palavra 'pode' na última frase não é por acaso. Isso porque, na metodologia utilizada pelos especialistas, entram diversas variáveis: crescimento da doença, casos reportados, taxa de letalidade, tempo médio de recuperação e tamanho da população são apenas alguns exemplos. >
A gente estima equações da curva de contágio do passado e a extrapola para o futuro. No entanto, o modelo epidemiológico abrange também o isolamento e o distanciamento sociais. Todas essas variáveis mudam ao longo da pandemia, trazendo incertezas para as projeções, explicou Etereldes.>
Apesar da impossibilidade de decifrar com toda a certeza o futuro da pandemia no Espírito Santo, o matemático afirmou que o Estado está passando pela fase mais aguda, tendo em vista que a taxa de transmissão na Grande Vitória está bem próxima de 1 e que os óbitos na região também estão caindo.>
A quarta fase do inquérito sorológico mostrou que a taxa de retransmissão (RT) do coronavírus no Estado está em 1,3 três décimos menor que o da terceira etapa. Entretanto, ao longo do território capixaba, há diferenças. Na Grande Vitória, o índice passou de 1,5 para 1,2. Enquanto no interior, caiu de 2,1 para 1,7.>
O que é o pico da curva epidemiológica?
Teoricamente, o pico é o ponto da curva a partir do qual o número de casos ativos do novo coronavírus começa a apresentar tendência de queda. No Espírito Santo, como um todo, esse dia mais crítico deve acontecer em meio ao platô, sem se diferenciar demais dos outros. De acordo com o matemático Etereldes Gonçalves Júnior, na Grande Vitória ele já aconteceu; e no interior, ainda vai ocorrer.
Segundo o especialista, considerando que as condições sociais relacionadas à pandemia não se alterem e que a parcela da população exposta continue a mesma, o platô em território capixaba poderia acontecer em três ou quatro semanas. Ou seja, entre o final de julho e o começo de agosto. >
No Espírito Santo, você tem de somar duas curvas: a da Grande Vitória e a do interior. Os momentos mais agudos vão acontecer em momentos diferentes, porque a pandemia chegou em épocas diferentes a essas duas regiões. Por isso, o platô no Estado pode permanecer por um período mais prolongado, explicou. >
No entanto, ele ressaltou que boa parte da população ainda está confinada, seguindo medidas de distanciamento social. Se abrem as escolas daqui a um mês, por exemplo, a exposição muda completamente. Isso certamente criaria uma nova onda de contágio. Um novo surto alertou. >
Questionada sobre a atual situação da pandemia no Espírito Santo, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) usou um vídeo publicado no último dia 19 de junho. Nele, o secretário Nésio Fernandes revelou que há uma tendência de estabilização nas cidades de Vitória e Serra. Assim como um crescimento em ritmo mais lento no restante do Estado.>
Isso não significa que estamos em uma fase de recuperação ou que essa seja uma tendência consolidada. Todo o Espírito Santo ainda se encontra em ritmo acelerado de crescimento no número de casos", afirmou. Na fala, ele também ressaltou que não se conhece o comportamento da Covid-19 no inverno; e que é preciso manter o distanciamento social para impedir um novo surto.>
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