Publicado em 26 de junho de 2020 às 20:20
O Espírito Santo passou de 1.500 mortes provocadas pela Covid-19 nesta sexta-feira (26), e apesar de uma tendência de estabilização na Grande Vitória, os indicadores apontam que a curva de casos e óbitos vai se manter em crescimento no Estado, pelo menos até o início de julho, pela intensa disseminação do coronavírus em municípios do interior. >
Na mais recente projeção do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), com base no comportamento da Covid em território capixaba, no dia 8 de julho o Espírito Santo pode passar de 2,6 mil mortes, caso a taxa de transmissão chegue a 1,5, indicador no limite superior da curva. Se ficar na velocidade média, em 1,33, serão 2 mil óbitos. >
O professor Fabiano Petronetto do Carmo, do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e integrante do NIEE, destaca que na Grande Vitória o número de casos ativos (pessoas infectadas e que podem transmitir o vírus) mostra-se estável, sem muitas variações para cima e para baixo, e o mesmo padrão está no volume de mortes na região. >
"Mas, no interior, observamos o contrário. Há um crescimento de casos ativos e de óbitos. E, quando fazemos a média, o Espírito Santo está em crescimento, não numa velocidade tão grande, mas ainda crescendo", pontua. >
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Fabiano ressalta que, embora haja a tendência de estabilidade, não significa que a população da região metropolitana possa relaxar nos protocolos de saúde, entre os quais a manutenção do distanciamento social, porque pode haver uma explosão de novos casos. >
O professor Etereldes Gonçalves Júnior, também do Departamento de Matemática da Ufes e membro do NIEE, acrescenta que, como as curvas na Grande Vitória e no interior têm picos diferentes, no espaço de tempo, o Espírito Santo vai vivenciar um platô (quando alcança o pico e a taxa de transmissão é contínua) mais alongado, antes de a curva da Covid-19 apontar efetivamente para baixo. >
"Vemos o platô se iniciar no Espírito Santo. Quando olhamos para a curva de óbitos por milhão de habitantes, essa condição é ainda mais evidente", pontua. >
Entretanto, com o crescimento acentuado no interior, Etereldes preocupa-se com a capacidade de assistência dos municípios fora da Grande Vitória. Problema também apontado por outra integrante do núcleo, a pós-doutora em Epidemiologia e professora Ethel Maciel, ao analisar as projeções para as próximas semanas. >
"A maior parte dos municípios não tem hospital. Uma coisa é uma pessoa levar 30 minutos para chegar a uma emergência, outra coisa é levar três horas. Esses casos evoluem rápido e, se nada for feito, muitos pacientes poderão morrer ainda no transporte, sem receber o atendimento adequado", pondera.>
Para Ethel, é importante que nesta nova fase de disseminação do coronavírus, as estratégias de saúde envolvam Estado e municípios, melhorando as ações de prevenção, ampliando a realização de testes, reforçando o trabalho das Equipes de Saúde da Família (ESF) e distribuindo mais Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para os profissionais. >
Na avaliação da professora, para que o Estado tenha condições de se preparar melhor para o atendimento no interior, seria necessário que houvesse também a suspensão da circulação de pessoas por 21 dias, diminuindo a pressão sobre o sistema de saúde e dando mais condições de estruturação de assistências nos municípios fora da Grande Vitória. >
O secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes, afirma que o apoio aos municípios para o desenvolvimento da atenção primária ganhou lastro no ano passado, com a ampliação das ESF, mas o advento da pandemia trouxe novas demandas, que vêm sendo discutidas de maneira mais intensa desde maio. >
Nésio Fernandes explica que a atenção primária tem um papel mais resolutivo na assistência de pacientes com doenças crônicas e cuidados materno-infantis, ao passo que uma doença infecciosa como a Covid-19 exige novas condutas e protocolos. Assim, Estado e municípios têm trabalhado no que o secretário chama de "Agenda de Resposta Rápida", para qualificar o atendimento oferecido à população nas unidades de saúde municipais. >
"Existem dilemas concretos para organizar essa assistência. Muitos municípios tiveram sua equipe drasticamente reduzida, desde o início da pandemia, por ter profissionais em grupos de risco, os EPIs comuns ao ambiente intra-hospitalar, agora precisam ser trocados a cada visita domiciliar, entre outras questões. São muitos desafios, mas estamos construindo com os gestores a melhor forma de qualificar as intervenções no cuidado com o paciente", frisa. >
Uma das medidas é a compra de oxímetro, um equipamento capaz de medir a saturação do oxigênio de pacientes com síndrome gripal e que pode ajudar a prevenir a evolução de casos de Covid-19 para um quadro mais grave, com monitoramento feito pela atenção primária. A cotação de preços será feita na próxima semana. >
Outra iniciativa é a ampliação de leitos do SUS, inclusive no interior do Estado, chegando a 1,7 mil até o final de julho. Nesta sexta-feira, o Espírito Santo registra 1.348 vagas, somando a oferta em enfermarias e UTIs.>
Maior controle sobre a circulação de pessoas está prevista para o caso de o Estado atingir o risco extremo de contágio do coronavírus, e um dos indicadores é a taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva superior a 91%. No levantamento desta sexta, o índice é de 80,71%.>
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