Repórter / anunes@redegazeta.com.br
Publicado em 20 de maio de 2025 às 08:23
Com quase 480 quilômetros de extensão cortando o Espírito Santo, da divisa do Rio de Janeiro à da Bahia, a BR 101 é uma rodovia fundamental para a economia e a mobilidade, mas também cenário de muitas tragédias, como os recentes casos em Anchieta e São Mateus, nos quais quatro pessoas morreram. Levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) aponta que a colisão frontal é o tipo de acidente que mais frequentemente provoca mortes em trechos não duplicados da via.
Dados consolidados de janeiro a março de 2025 indicam que houve 462 acidentes na BR 101 — uma média de cinco ocorrências por dia, ao longo do período. Do total, 206 foram registrados em pistas simples, outros 199, em áreas duplicadas, e mais 57 em pistas múltiplas, ou seja, com três ou mais faixas em cada sentido da rodovia.
Nos trechos não duplicados, a colisão frontal é o tipo de acidente que provoca mais mortes na BR 101, enquanto nos quilômetros em que já há duplicação, os atropelamentos lideram no ranking de óbitos no primeiro trimestre deste ano.
Ana Carolina Albuquerque Cavalcanti, chefe substituta do Núcleo de Comunicação da PRF, ressalta que as colisões frontais são as mais graves. "O grau de letalidade é grande. É muito difícil não ter pelo menos uma morte em um dos veículos envolvidos", pontua a policial, acrescentando que, em geral, essas batidas resultam de ultrapassagens indevidas.
Para ela, muitas ocorrências poderiam ser evitadas, se os motoristas dirigissem com mais atenção e respeitando as regras de trânsito. Mas Carolina reconhece que a melhoria da infraestrutura viária é importante e, particularmente, a implementação da duplicação.
É o que também afirma o professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Ufes, Tarcísio Bahia de Andrade, sobretudo ao comparar a realidade do Brasil com a de outros países.
Por aqui, enquanto as autoridades colocam radares e quebra-molas para que os motoristas reduzam a velocidade, o que, invariavelmente, faz a viagem demorar mais, há lugares pelo mundo em que esses recursos não precisam ser utilizados. Tarcísio Bahia, também articulista de A Gazeta, observa que, culturalmente, o brasileiro é muito imprudente no trânsito, não respeita o limite de velocidade nem locais adequados de ultrapassagem, por exemplo.
Sem contar outras características que compõem o cenário rodoviário, como a falta de estrutura e o aumento significativo da frota ao longo dos últimos anos, ou particularidades da BR 101 no Espírito Santo, que passa por área de proteção ambiental, como a reserva de Sooretama, que não permite a duplicação do trecho norte, relaciona Tarcísio Bahia.
"A solução não é simples, mas, no caso da BR 101, se tudo fosse duplicado, seria melhor. Estamos muito atrasados em relação a outras cidades do mundo", constata.
A BR 101 é uma rodovia federal que está sob concessão da Ecovias101 (antiga Eco101), mas passará por um leilão previsto para o dia 26 de junho. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) realizou, em março, a abertura do processo competitivo para definir o controle da concessão dos 478,7 quilômetros da via.
Conforme destaca a agência, a BR 101 vai passar por um modelo de transferência inédito para rodovias federais, que busca atrair um novo gestor comprometido com a recuperação, conservação e ampliação de capacidade da via, após o acordo de repactuação do contrato de concessão.
A Ecovias 101 é responsável por administrar 478,7 quilômetros do trecho capixaba da BR 101, que vai do trevo de acesso à cidade de Mucuri, no Sul da Bahia, até Mimoso do Sul.
Sob a concessão da empresa, 115,92 km foram duplicados. Seguem os trechos:
A concessionária, segundo a assessoria, trabalha também nas obras de duplicação entre os municípios de Guarapari e Anchieta. Nesse segmento, que compreende 22 quilômetros, 21 já foram liberados ao tráfego, incluindo pontes e viadutos. "Atualmente, temos um ponto de desvio no km 247 para execução da ponte sobre o Rio Grande. Nesse trecho, foram liberados ao tráfego em fevereiro seis quilômetros, incluindo a duplicação das pistas, ponte sobre o Rio Benevente e um dispositivo de retorno em desnível na região de Jabaquara", pontua.
Outro projeto é a duplicação do trecho norte da rodovia, que abrange uma extensão inicialmente concentrada na Serra, entre os quilômetros 242 e 247, começando próximo ao Contorno de Mestre Álvaro até a praça de pedágio. A previsão é que as obras sejam concluídas no segundo semestre deste ano.
"Além disso, entregamos 14 viadutos, 8 pontes e 20 passarelas, modernizamos 4 postos de pesagem e revitalizamos completamente os quase 479 km de extensão da concessão, com melhorias no pavimento, sinalização, dispositivos de segurança e conservação da rodovia", afirma a Ecovias 101.
Também houve entrega de dois viadutos no Contorno de Vitória, em Cariacica, nos quilômetros 293 e 293,8, que, conforme destaca a empresa, estão ajudando na fluidez do tráfego tanto urbano quanto rodoviário naquela região.
"Com o processo de otimização contratual em andamento, novas frentes de trabalho estão sendo planejadas. O novo contrato de concessão da BR 101, previsto para ser executado a partir da repactuação, possibilitará a realização de novas obras, com investimentos previstos de R$ 7 bilhões, sendo que R$ 1,8 bilhão serão aplicados logo nos três primeiros anos. O projeto inclui 172 quilômetros de duplicações, 41 quilômetros de faixas adicionais, 11 quilômetros de marginais e a construção de dois Pontos de Parada e Descanso (PPDs). O resultado do processo competitivo será divulgado em junho deste ano, conforme previsão da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)", conclui a Ecovias, em nota.
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