Infelizmente, a história se repete. No último domingo, dia 27 de abril, mais uma tragédia: um caminhão carregado com mamão tombou na BR 101 em Anchieta e atingiu um ônibus com passageiros. Até a manhã de segunda-feira, o saldo era desolador, três vidas perdidas, entre elas o motorista do ônibus, e 26 pessoas feridas. Mais uma vez, a rodovia federal que corta o Espírito Santo mostrou seus riscos em quilômetros que já deveriam estar duplicados e ainda seguem com pista simples.
A BR 101 é uma artéria vital para o Brasil. Transporta pessoas, sonhos e riquezas. No entanto, aqui no Espírito Santo, ainda somos reféns de trechos perigosos, de pista simples, onde imprudência, negligência e falta de infraestrutura formam uma combinação fatal. O acidente de domingo é só mais um capítulo de uma série de mortes anunciadas.
Escrevi meu primeiro artigo sobre o atraso da duplicação da BR 101 há oito anos. Em junho de 2017, 23 pessoas perderam a vida na BR 101 em Guarapari, naquela época ainda não duplicada, quando um caminhão, em péssimo estado de conservação, invadiu a pista contrária e colidiu com um ônibus que transportava um grupo de dança da nossa região serrana. Aquele foi o acidente rodoviário mais grave da história recente do Espírito Santo.
O tempo passou e as tragédias continuam. A promessa de duplicação virou desculpa, postergação e indignação. Para demonstrar que a história poderia ser diferente, decidi fazer um exercício: utilizei inteligência artificial para simular o acidente do último domingo em um cenário no qual o trecho estivesse duplicado. O resultado? Muito provavelmente, o caminhão desgovernado teria tombado e sido contido pela mureta de divisão da pista, sem bater de frente no ônibus. O choque fatal seria evitado. As 26 pessoas feridas estariam ilesas. As três vítimas fatais estariam vivas.

Infelizmente, tecnologia não muda o passado, mas projeta como poderia ter sido o futuro.
É fundamental entender que o problema vai além da eventual imprudência individual. É também uma questão de negligência estrutural. Estradas seguras salvam vidas. Países que reduziram suas mortes no trânsito investiram maciçamente em infraestrutura rodoviária. Não há discurso que substitua o asfalto duplicado, o acostamento digno e a sinalização adequada.
A BR 101 pede socorro há décadas. Quem transita por ela sente medo nos trechos ainda não duplicados. Medo de quem vem na contramão, medo da morte invisível que espreita a cada curva sem proteção. O capixaba merece respeito e o Brasil que passa por aqui merece segurança.
A história poderia ser diferente. Muitas famílias poderiam estar hoje inteiras, se abraçando, sonhando e vivendo. Duplicação da BR 101 não é um luxo, é uma necessidade urgente. É a diferença entre o luto e a vida. É a diferença entre o atraso e o desenvolvimento.
Não podemos mais aceitar a repetição dessas tragédias. A duplicação da BR 101 no Espírito Santo é para ontem. E cada dia de atraso se mede em sangue, dor e perdas irreparáveis.
Duplicação já!
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