É doutor em Geografia, mestre em Arquitetura e Urbanismo, pesquisador do Instituto Jones dos Santos Neves e professor da UVV. Escreve às quartas

Mortes na BR 101: duplicação já!

Para demonstrar que a história poderia ser diferente, decidi fazer um exercício: utilizei inteligência artificial para simular o acidente do último domingo em um cenário no qual o trecho estivesse duplicado

Publicado em 30/04/2025 às 03h00

Infelizmente, a história se repete. No último domingo, dia 27 de abril, mais uma tragédia: um caminhão carregado com mamão tombou na BR 101 em Anchieta e atingiu um ônibus com passageiros. Até a manhã de segunda-feira, o saldo era desolador, três vidas perdidas, entre elas o motorista do ônibus, e 26 pessoas feridas. Mais uma vez, a rodovia federal que corta o Espírito Santo mostrou seus riscos em quilômetros que já deveriam estar duplicados e ainda seguem com pista simples.

A BR 101 é uma artéria vital para o Brasil. Transporta pessoas, sonhos e riquezas. No entanto, aqui no Espírito Santo, ainda somos reféns de trechos perigosos, de pista simples, onde imprudência, negligência e falta de infraestrutura formam uma combinação fatal. O acidente de domingo é só mais um capítulo de uma série de mortes anunciadas.

Escrevi meu primeiro artigo sobre o atraso da duplicação da BR 101 há oito anos. Em junho de 2017, 23 pessoas perderam a vida na BR 101 em Guarapari, naquela época ainda não duplicada, quando um caminhão, em péssimo estado de conservação, invadiu a pista contrária e colidiu com um ônibus que transportava um grupo de dança da nossa região serrana. Aquele foi o acidente rodoviário mais grave da história recente do Espírito Santo.

O tempo passou e as tragédias continuam. A promessa de duplicação virou desculpa, postergação e indignação. Para demonstrar que a história poderia ser diferente, decidi fazer um exercício: utilizei inteligência artificial para simular o acidente do último domingo em um cenário no qual o trecho estivesse duplicado. O resultado? Muito provavelmente, o caminhão desgovernado teria tombado e sido contido pela mureta de divisão da pista, sem bater de frente no ônibus. O choque fatal seria evitado. As 26 pessoas feridas estariam ilesas. As três vítimas fatais estariam vivas.

Simulação com IA do acidente na BR 101, em Anchieta
Simulação com IA do acidente na BR 101, em Anchieta. Crédito: Pablo Lira/Divulgação

Infelizmente, tecnologia não muda o passado, mas projeta como poderia ter sido o futuro.

É fundamental entender que o problema vai além da eventual imprudência individual. É também uma questão de negligência estrutural. Estradas seguras salvam vidas. Países que reduziram suas mortes no trânsito investiram maciçamente em infraestrutura rodoviária. Não há discurso que substitua o asfalto duplicado, o acostamento digno e a sinalização adequada.

A BR 101 pede socorro há décadas. Quem transita por ela sente medo nos trechos ainda não duplicados. Medo de quem vem na contramão, medo da morte invisível que espreita a cada curva sem proteção. O capixaba merece respeito e o Brasil que passa por aqui merece segurança.

A história poderia ser diferente. Muitas famílias poderiam estar hoje inteiras, se abraçando, sonhando e vivendo. Duplicação da BR 101 não é um luxo, é uma necessidade urgente. É a diferença entre o luto e a vida. É a diferença entre o atraso e o desenvolvimento.

Não podemos mais aceitar a repetição dessas tragédias. A duplicação da BR 101 no Espírito Santo é para ontem. E cada dia de atraso se mede em sangue, dor e perdas irreparáveis.

Duplicação já!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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