Publicado em 3 de março de 2020 às 20:29
Mais de um mês depois de ter aceitado o convite do presidente Jair Bolsonaro, a atriz Regina Duarte assume nesta quarta-feira (4) a Secretaria Especial da Cultura. Ela tem o desafio de conciliar as expectativas de um governo conservador com os anseios da classe artística, que espera da nova secretária uma abertura maior em relação aos ocupantes anteriores do cargo. >
A cerimônia está marcada para às 11h no salão nobre do Palácio do Planalto. A posse contará com a presença de representantes da classe artística e de políticos. Regina será a terceira secretária a comandar a pasta. Desde do começo do mandato de Bolsonaro, a secretaria é marcada por uma série de controvérsias.>
Publicamente, a atriz vem dizendo que tem como missão pacificar a Secretaria e fazer com que a cultura esteja acima de ideologias. No entanto, no intervalo entre o convite e a posse, ela enfrentou resistências de parte da classe artística e até da ala ideológica que apoia o presidente.>
Regina, que encerrou na semana passada o contrato de mais de 50 anos com a TV Globo, foi escolhida para substituir o dramaturgo Roberto Alvim, demitido do cargo por Bolsonaro em 17 de janeiro após a publicação de um vídeo que parafraseava um ministro da Alemanha nazista. O antecessor de Alvim, Henrique Pires, também deixou a Secretaria da Cultura em meio a polêmicas: ele acusou seu então chefe, o agora ex-ministro da Cidadania Osmar Terra de censura.>
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A Secretaria da Cultura permanecerá subordinada ao Ministério do Turismo, comandado por Marcelo Álvaro Antônio. Bolsonaro transferiu o órgão de pasta após a demissão de Pires e divergências com Terra. Por parte do governo, o presidente prometeu carta branca à atriz. Porém, seus auxiliares veem com reserva o tamanho dessa liberdade. >
No cargo há 14 meses, Bolsonaro já deu demonstrações de que interfere na gestão de seus subordinados toda vez que sua visão de governo é confrontada. Já foram alvo de críticas públicas e processos de fritura até mesmo ministros populares como Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia).>
Ao longo de sua vida política, Bolsonaro criticou leis de incentivo à Cultura, como a Lei Rouanet, e defendeu o incentivo de uma produção com ideologia mais conservadora e ligada às igrejas. >
As classes política e artística aguardam o anúncio da equipe que foi montada por Regina. A lista de convidados para a posse e o nome de seus auxiliares são mantidos em segredo.>
Ela demitiu em menos de um mês a reverenda Jane Silva, após ser criticada por artistas. O convite para que a reverenda assumisse o cargo de secretária-adjunta da Cultura foi visto como um aceno ao conservadorismo da gestão Bolsonaro. Essa, contudo, não foi a única divergência de Regina com o meio artístico do qual é egressa. >
Outro estremecimento se deu quando a atriz publicou, no fim de janeiro, uma foto mosaico com os rostos de artistas que disseram publicamente apoiar o noivado entre ela e Bolsonaro. O post acabou sendo apagado após reclamações de colegas de profissão que contestaram o uso das imagens. >
"Vou tirar o post com artistas porque agora é Maitê [Proença] pedindo para sair. Meu desejo de pacificar, de unificar a classe artística já mostra que a resistência ideológica vai bater forte e tentar impedir que a polarização reinante possa ser vencida. Vou, no entanto, lutando para que a cultura do nosso do país possa estar acima de ideologias e partidos", publicou a atriz, na ocasião, em seu perfil no Instagram.>
Antes de aceitar o convite para assumir a Cultura da gestão Bolsonaro, Regina teve dois encontros presenciais com o presidente e fez visitas à estrutura da secretaria. Ambos se valeram de termos ligados a relacionamentos como namoro e noivado para se referir ao período, que durou quase 15 dias.>
A relação entre eles teve início ainda durante o período eleitoral. Em outubro de 2018, Regina visitou Bolsonaro no Rio de Janeiro quando ele se recuperava em casa da facada sofrida em setembro durante agenda de campanha. >
Eternizada nas televisão brasileira como a Viúva Porcina, da célebre novela "Roque Santeiro", ou como a Helena dos folhetins de Manoel Carlos, a faceta política de Regina se popularizou na campanha presidencial de 2002, quando ela disse ter medo de eventual vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. >
Na última semana, ela publicou nas redes sociais uma mensagem de apoio às manifestações populares marcadas para 15 de março, em favor do governo e em oposição ao Congresso. >
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