Se há policiais assim contra nós, quem será por nós?

Em cerca de 24 horas, Vitória registrou dois homicídios envolvendo policiais militares. O pai do músico morto em Jardim Camburi fez uma importante reflexão: "Os que devem nos dar segurança estão nos matando"

Publicado em 18/04/2023 às 18h49
Atualizado em 24/04/2023 às 13h20
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O músico Guilherme foi morto com um tiro no condomínio em que morava em Vitória. Crédito: Reprodução/redes sociais

A sociedade precisa confiar nas instituições, a Polícia Militar é diretamente responsável pela sensação de segurança, base do bom convívio social. É por isso que desvios tão graves e criminosos de conduta de seus agentes devem ser devidamente reprimidos, com o rigor da lei. Para não macular a própria instituição, cujos membros exercem a função de garantir a lei e a ordem e, justamente por isso, devem ser emblemas dessas mesmas lei e ordem.

Na madrugada de segunda-feira (17),  o músico Guilherme Rocha, de 37 anos, foi vítima de um policial fora de serviço e teve  a morte  flagrada pelas câmeras do condomínio em que morava, em Jardim Camburi, em Vitória. Ele foi assassinado pelo soldado Lucas Torrezani de Oliveira, de 28 anos, que confessou o crime, alegando "legítima defesa". 

Pelas circunstâncias  tornadas públicas, o caso da discussão entre vizinhos que culminou na morte de um deles provoca um incômodo descomunal. Em um primeiro momento, pela dispensa da prisão em flagrante, que mesmo justificada posteriormente pela Polícia Civil, deixou um gosto amargo de ter havido algum tipo proteção. Somente no fim da tarde de segunda-feira (18), a prisão foi decretada e, à noite, o soldado se apresentou à polícia.

Depois, quando se juntam as peças, a indignação é inflada. O boletim de ocorrência da própria PM trazia a informação de que o policial apresentava "odor etílico ao falar".  Por que o consumo de álcool não foi levado em consideração? Uma pessoa visivelmente embriagada mata outra, e isso é tratado com naturalidade quando ela confessa o crime e alega legítima defesa. Uma situação que ainda inflama o debate em torno da atual cultura armamentista brasileira.

A sociedade, como já dito antes, precisa confiar nas instituições. Ninguém pode julgar o todo pela parte, a Polícia Militar é formada em sua maioria por homens e mulheres com um compromisso público com a sociedade, com condutas dentro das normas estabelecidas e rigor ético.  Mas os casos recentes, aos quais se somam os policiais flagrados executando um suspeito em Pedro Canário ou o policial agredindo um homem com spray de pimenta na Serra, mostram que é preciso cuidar das exceções, para a instituição não cair em descrédito por causa de alguns.

"Aqueles que têm o dever de nos dar segurança é que estão nos matando, logicamente com muitas exceções, mas têm ainda os policiais que estão mal preparados", lamentou o médico legista Glício da Cruz do Soares, pai de Guilherme. É uma queixa coletiva, que mostra a necessidade de dedicar atenção àqueles que são responsáveis pela segurança de todos. Policiais, em serviço ou não, não podem se colocar como inimigos dos cidadãos.

Correção

24 de abril de 2023 às 13:20

Versão anterior deste editorial trazia a informação de que um homicídio ocorrido em uma casa de shows de Vitória teria envolvimento de policiais militares. Nesta segunda-feira (24), a Polícia Civil descartou oficialmente a participação de PMs no caso.

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