"Ela vai deixar saudade. Já está deixando muita saudade." Esse é o sentimento compartilhado por todas as pessoas que ficam por aqui enquanto veem partir aqueles que foram muito queridos durante a vida. Mas, quando essa partida acontece sob circunstâncias violentas, a saudade tem o peso daquilo que poderia ter sido diferente... e é nesse sentido que uma amiga de Cláudia da Silva Fernandes, de 53 anos, atropelada e morta no último domingo (16) em Cachoeiro do Itapemirim, lamenta essa ausência imposta pela violência de gênero.
O empresário Marcelo Fernandes, de 57 anos, é formalmente tratado como principal suspeito da morte. Casado com a vítima, eles estavam em processo de separação. Ele se apresentou à polícia e confessou o crime, "demonstrando profundo arrependimento", segundo a sua defesa. O pensamento que ressoa é, mais uma vez, o de que as coisas poderiam ter sido diferentes em mundo no qual mulheres não são tratadas como propriedade. Uma realidade que ainda parece muito distante.
É mais um caso de feminicídio a engrossar as estatísticas. Mesmo que dados divulgados pelo Observatório da Segurança Pública apontem que de janeiro a julho de 2025 tenha havido uma queda de 40,7% nos casos — foram registrados 16 feminicídios, contra 27 no mesmo período de 2024 — a violência contra a mulher segue sendo uma mancha cotidiana. E, justamente por isso, há sempre o risco de começar a ser banalizada.
Só nesta semana: outra mulher morta em Guarapari, cujo suspeito foi preso três horas após o crime; uma mulher foi agredida e ameaçada pelo marido "por ter chegado tarde do trabalho"; um homem agrediu a esposa que não quis manter relações sexuais com ele. A violência contra a mulher não dá trégua.
No caso de Cachoeiro, as câmeras foram mais uma vez as protagonistas para solucionar o crime, sobretudo por se tratar de um casal de classe média, morador de um condomínio cercado de segurança. Nem sempre a polícia tem esse farto material à disposição na apuração dos feminicídios, mas o esforço investigativo precisa ser o mesmo. Mulheres estão vulneráveis em qualquer classe social.
A legislação avançou nas últimas décadas, há mais esforço punitivo e mais esclarecimento, mas as leis mais duras ainda não são capazes de evitar que homens continuem usando a violência para decidir o destino de tantas mulheres neste país. A cultura do machismo ainda segue sendo a regra tácita. Como sociedade, é preciso acreditar que é possível fazer diferente, com uma transformação sólida de mentalidade. Fazer diferente, com políticas públicas e educação massiva, para que tantas mulheres tenham um destino diferente.
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