Vereadores e diárias de viagens: falar com a imprensa é prestar contas à população

A partir do momento em que se estabeleceu uma quantia tão considerável para viagens em São José do Calçado, quem faz uso dessas diárias têm ainda mais obrigação de prestar contas

Publicado em 13/11/2025 às 01h01
Câmara de Vereadores de São José do Calçado
Câmara de Vereadores de São José do Calçado. Crédito: Câmara de Vereadores de São José do Calçado

Alguns vereadores de São José do Calçado, no Sul do Espírito Santo, parecem não entender o papel da imprensa. Desde a aprovação, em agosto, de reajustes que chegaram a 542% nos valores das diárias de vereadores do município, A Gazeta mostrou que o dinheiro destinado a despesas de viagens para fora do Estado poderia passar de R$ 1,6 mil, um valor que, no mínimo, chama atenção do contribuinte por ser destinado a hospedagem, alimentação e deslocamentos em um único dia. 

É função do jornalismo permanecer nesses temas que têm impacto nos gastos públicos, e foi assim que o repórter Tiago Alencar, ao checar o Portal de Transparência da Câmara de São José do Calçado, constatou que em outubro quatro vereadores — José Manoel Lopes Silva (MDB), Julierme Costa de Almeida (PSB), Pedro Paulo Silva (Podemos) e Wallef Mendes de Oliveira (Republicanos) — receberam diárias de R$ 1.926,24, assim como um motorista recebeu R$ 963.12 também por dia, em uma viagem de cinco dias a Brasília. No total, uma despesa de R$ 43.340,40 aos cofres públicos. Não há aqui nenhuma ilegalidade, porque os valores são calculados na unidade fiscal do município e acabam variando.

O repórter procurou os quatro vereadores para se manifestarem sobre a agenda dessa viagem, e somente Wallef Goleiro atendeu às ligações, mas se recusou a falar, afirmando que prestaria conta das diárias na sessão plenária da Câmara, na noite da segunda-feira (10). Na ocasião, na tribuna da casa, ele declarou: "Não devo satisfação a meio de comunicação quando entra em contato com a gente para saber das coisas que acontecem nesta casa. Eu devo satisfação a você, munícipe de São José do Calçado". 

Ora, ao falar com a imprensa, que tem por princípio o direito ao contraditório, o parlamentar estaria, sim, prestando contas aos moradores de sua cidade. Na tribuna, ele informou que foi feito um relatório sobre a viagem e que qualquer munícipe pode solicitá-lo pessoalmente na Câmara. Por que, então, não compartilhá-lo com o repórter para fazer o documento chegar a mais gente interessada no gerenciamento dos recursos da casa?

Wallef Goleiro também informou que "a população precisa se acostumar com a Câmara que busca recursos, e vai a Brasília ou vai a Vitória,  para poder ajudar no desenvolvimento da nossa cidade". O ponto de reflexão aqui não diz respeito aos instrumentos políticos legítimos utilizados, a diária foi aprovada pela Câmara e está dentro da legalidade, mas o que é feito com esses valores, já que o compromisso da imprensa é observar com lupa o que é feito com o dinheiro público, pago pelo contribuinte. 

A partir do momento em que se estabeleceu uma quantia  tão considerável, quem faz uso dessas diárias têm ainda mais obrigação de prestar contas. Não falar com a imprensa é criar uma sombra que não precisa existir sobre os atos do poder público.

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