Alguns vereadores de São José do Calçado, no Sul do Espírito Santo, parecem não entender o papel da imprensa. Desde a aprovação, em agosto, de reajustes que chegaram a 542% nos valores das diárias de vereadores do município, A Gazeta mostrou que o dinheiro destinado a despesas de viagens para fora do Estado poderia passar de R$ 1,6 mil, um valor que, no mínimo, chama atenção do contribuinte por ser destinado a hospedagem, alimentação e deslocamentos em um único dia.
É função do jornalismo permanecer nesses temas que têm impacto nos gastos públicos, e foi assim que o repórter Tiago Alencar, ao checar o Portal de Transparência da Câmara de São José do Calçado, constatou que em outubro quatro vereadores — José Manoel Lopes Silva (MDB), Julierme Costa de Almeida (PSB), Pedro Paulo Silva (Podemos) e Wallef Mendes de Oliveira (Republicanos) — receberam diárias de R$ 1.926,24, assim como um motorista recebeu R$ 963.12 também por dia, em uma viagem de cinco dias a Brasília. No total, uma despesa de R$ 43.340,40 aos cofres públicos. Não há aqui nenhuma ilegalidade, porque os valores são calculados na unidade fiscal do município e acabam variando.
O repórter procurou os quatro vereadores para se manifestarem sobre a agenda dessa viagem, e somente Wallef Goleiro atendeu às ligações, mas se recusou a falar, afirmando que prestaria conta das diárias na sessão plenária da Câmara, na noite da segunda-feira (10). Na ocasião, na tribuna da casa, ele declarou: "Não devo satisfação a meio de comunicação quando entra em contato com a gente para saber das coisas que acontecem nesta casa. Eu devo satisfação a você, munícipe de São José do Calçado".
Ora, ao falar com a imprensa, que tem por princípio o direito ao contraditório, o parlamentar estaria, sim, prestando contas aos moradores de sua cidade. Na tribuna, ele informou que foi feito um relatório sobre a viagem e que qualquer munícipe pode solicitá-lo pessoalmente na Câmara. Por que, então, não compartilhá-lo com o repórter para fazer o documento chegar a mais gente interessada no gerenciamento dos recursos da casa?
Wallef Goleiro também informou que "a população precisa se acostumar com a Câmara que busca recursos, e vai a Brasília ou vai a Vitória, para poder ajudar no desenvolvimento da nossa cidade". O ponto de reflexão aqui não diz respeito aos instrumentos políticos legítimos utilizados, a diária foi aprovada pela Câmara e está dentro da legalidade, mas o que é feito com esses valores, já que o compromisso da imprensa é observar com lupa o que é feito com o dinheiro público, pago pelo contribuinte.
A partir do momento em que se estabeleceu uma quantia tão considerável, quem faz uso dessas diárias têm ainda mais obrigação de prestar contas. Não falar com a imprensa é criar uma sombra que não precisa existir sobre os atos do poder público.
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