É interessante observar o que o brasileiro pensa sobre o serviço público do país em meio a mais uma proposta de reforma administrativa, e a pesquisa realizada pela Atlas Intel com o Instituto República, divulgada neste domingo (10) pelo Estadão, consegue fornecer algumas perspectivas.
Embora a proposta em tramitação na Câmara dos Deputados ainda seja pouco conhecida da população, com 18,5% dos entrevistados afirmando conhecer muito bem o projeto e outros 37,5% dizendo conhecer alguns aspectos, é quando se abordam alguns privilégios, também restritos dentro do próprio funcionalismo, que é possível ver que os participantes da pesquisa percebem e se incomodam com as disparidades.
E é nesse ponto que a rejeição aos supersalários ganha forma: 73,1% dos entrevistados acham que é totalmente injustificado os benefícios salariais, os chamados "penduricalhos", que fazem os vencimentos excederem o teto, atualmente em R$ 46 mil.
O serviço público não é homogêneo. Há os cargos no topo da pirâmide, com supersalários, que precisam ser limitados não somente pela questão fiscal: do ponto de vista moral, já passou da hora de deixarem de ser uma vitrine das nossas desigualdades.
Dois privilégios também rechaçados pela população estão demonstrados no levantamento: 69,1% consideram totalmente injustas as férias de 60 dias para membros do Judiciário e do Ministério Público, bem como a aposentadoria compulsória usada como punição. Dois anacronismos insustentáveis que estão com os dias contados, caso a reforma passe.
No outro extremo, sobrevive o funcionalismo atuante na ponta, distante dos altos salários e responsável por fazer o serviço público andar, mesmo que a duras penas. O Brasil carece de eficiência no gasto com sua máquina, para que essas disparidades comecem a se dissipar. De acordo com a pesquisa, 29,4% dos entrevistados estão insatisfeitos e 19% estão muito insatisfeitos com os serviços públicos. O cidadão não vê o retorno dos impostos que paga.
O brasileiro, como se vê, tem a percepção das injustiças, embora ainda não compreenda bem que uma reforma administrativa bem-feita pode começar a corrigir essas distorções históricas. Uma reforma que vai fortalecer o serviço público com a atração de profissionais que compreendam o seu papel, sem oportunismo.
É o momento de aproveitar os ventos que colocaram novamente esse tema em destaque na agenda, com um debate de alto nível que leve a uma transformação real do serviço público, extinguindo os privilégios e privilegiando a qualidade e a eficiência.
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