Rio Doce deve ser o símbolo de uma nova relação com nossos rios

Dez anos depois da tragédia de Mariana, aquela que é considerada a maior catástrofe ambiental do país acabou dando a real dimensão do protagonismo do Rio Doce para as comunidades em suas margens

Publicado em 06/11/2025 às 01h00
Rio Doce em Colatina: rejeitos se espalharam por toda a extensão da bacia, de Minas Gerais ao Espírito Santo
Rio Doce em Colatina: rejeitos se espalharam por toda a extensão da bacia, de Minas Gerais ao Espírito Santo. Crédito: Fernando Madeira

Não há tempo a perder, nem mesmo com clichês, ainda que necessários, como "o que devemos aprender com a tragédia de Mariana".  Dez anos se passaram entre acordos e desacordos, batalhas judiciais, lutas por reparação. As marcas da lama, no Espírito Santo, são indeléveis, e por isso mesmo devem servir de farol permanente para a proteção ambiental, como exemplo daquilo que não pode se repetir.

Ironicamente, aquela que é considerada a maior catástrofe ambiental do país acabou dando a real dimensão do protagonismo do Rio Doce para as comunidades que se avizinham em suas margens,  e aqui falamos por proximidade das terras capixabas, de Baixo Guandu a Regência, em Linhares. Como sociedade,  já deveríamos ter aprendido que não podemos esperar a ocorrência de uma tragédia dessas proporções para quantificar o valor de um rio. 

Historicamente, grandes civilizações ergueram-se ao longo de vales fluviais. As maiores cidades do mundo dependem de seus rios, ao mesmo tempo que os destroem. A preservação das águas é uma questão de sobrevivência. É o próprio significado de sustentabilidade: o rio é a própria vida das pessoas, uma conexão que explica a própria ecologia. Não se deve destruir aquilo que viabiliza a vida. 

É nesse sentido que A Gazeta se empenhou na publicação da série especial Rio de Lama e Luta, com produções no site, nas redes sociais, no YouTube e na CBN Vitória, após uma expedição da reportagem pelas cidades capixabas afetadas pela lama.

Não significa nem mesmo que a situação do Rio Doce fosse a desejável antes da tragédia. O rio já sofria e ainda sofre com as secas e as enchentes, resultado também do manejo equivocado dos recursos hídricos e da devastação da mata ciliar, com o avanço das cidades. Não são somente as grandes tragédias que precisam ser evitadas, mas também as agressões ambientais que ocorrem a olhos vistos, praticamente naturalizadas.

O Rio Doce, dez anos depois, ainda padece pela contaminação, como reforçam estudos realizados por universidades de todo o país. Há a previsão da aplicação de R$ 132 bilhões em ações de recuperação, uma esperança de renascimento. O importante curso d'água, que une Minas Gerais e Espírito Santo, passou a ser um exemplo de que a relação da sociedade com seus rios precisa mudar, é uma questão de sobrevivência.  Não há desenvolvimento econômico e social sem compromisso ambiental. 

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