O que há no ar que respiramos? Quando se trata da Grande Vitória, esse questionamento perdura por décadas. E tem razão de ser, em função da proximidade com parques industriais, como o Complexo de Tubarão, na Capital, além dos resíduos emitidos no trânsito e em obras. O chamado “pó preto”, como é popularmente chamada a poeira sedimentável no ar, causa transtornos que vão desde a camada de sujeira acumulada em móveis e no chão das casas até problemas de saúde, comprovados por estudos.
Eliminar totalmente esse problema, infelizmente, ainda não é possível. Mas minimizá-lo, sim. É o esperado com os oito novos equipamentos de monitoramento que serão instalados em diferentes pontos da Grande Vitória. Conforme anúncio feito pelo governo do Espírito Santo, essa tecnologia tem capacidade de fazer a medição da poeira sedimentável a cada dois segundos, com emissão de relatórios de hora em hora, diariamente. Caberá ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) analisar os dados, que também serão disponibilizados para a população no site do órgão.
Os equipamentos começarão a ser instalados no primeiro trimestre de 2026, funcionando em conjunto com outros 15 já existentes em pontos estratégicos da rede de monitoramento da qualidade do ar. Estarão em bairros que, historicamente, sofrem com o pó preto, como Jardim Camburi e Ilha do Boi, em Vitória, além de outros na Serra e em Vila Velha e Cariacica.
Essa modernização é mais do que necessária. Basta citar alguns problemas que vêm sendo registrados no atual sistema manual de monitoramento, como relatou o colunista Leonel Ximenes. Em debate recente promovido na Assembleia Legislativa, um representante do Iema compartilhou intercorrências ocorridas na medição. Uma delas é, no mínimo, pitoresca: um canário pousa no coletor, faz cocô e acaba contaminando a amostra. Assim, obviamente, o dado perde a precisão e precisa ser descartado. A situação foi registrada na estação que fica na Ilha do Boi, área voltada para a Ponta de Tubarão e com registros frequentes de reclamações sobre o pó preto.
Outra estação, em Carapebus, na Serra, teve de ser desativada após a construção de um telhado, por uma escola, ao lado do equipamento de medição. Com essa interferência, ficou inviável realizar a coleta. São vulnerabilidades que afetam a eficiência do monitoramento. Como consequência, suscitam-se mais dúvidas na população sobre a qualidade do ar nos locais onde há a interferência.
Com os novos equipamentos, que têm origem capixaba, a medição será automatizada. A promessa é que será possível ter maior precisão sobre a origem do pó preto, com dados sobre a direção do vento no momento da coleta. Algo fundamental para a análise de onde estão partindo as emissões e o que pode ser feito para contê-las.
A rede de monitoramento da qualidade do ar da Grande Vitória existe desde 2000, depois de anos de pressão da sociedade. De lá para cá, não dá para deixar de reconhecer que houve avanços significativos no controle do pó preto. Muitos por iniciativa das próprias empresas, que hoje têm na sustentabilidade um dos pilares. Com foco nisso, adotaram novas práticas, equipamentos e tecnologia para reduzir as emissões. O desejado agora é que os resultados gerados pelos novos equipamentos sejam mais uma fonte de análise em prol desse esforço. De forma que as atividades econômicas sejam capazes de gerar riquezas, mas sem afetar a qualidade de vida da população.
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