Melhoria logística é missão árdua que precisa de solução para o ES

Assim como o "trabalho de Sísifo" na mitologia grega, busca por investimento em rodovias e ferrovias é a "pedra" que o Estado precisa rolar dia após dia pelo seu fortalecimento econômico

Publicado em 29/10/2025 às 01h15
BR 262 em Viana
Duplicação da BR 262 ainda depende de recursos financeiros. Crédito: Fernando Madeira

Na mitologia, Sísifo tentou enganar a morte. Como punição imposta por Zeus, foi condenado por toda a eternidade a empurrar uma pedra montanha acima, para depois vê-la rolar de volta para baixo, obrigando-o a refazer para sempre esse trabalho desgastante e sem fim. Assim parece estar se tornando a busca do Espírito Santo pela solução para os seus desafios logísticos. Missões árduas, mas que não podem se tornar inúteis e sem propósito como a da tragédia grega.

Depois do trabalho de anos para, enfim, renegociar a concessão da BR 101, o Estado ainda tem “pedras para rolar", como a duplicação da BR 262, a renovação da Ferrovia Centro Atlântica (FCA) e o projeto da EF 118, também chamada de Ferrovia Vitória-Rio. São investimentos cruciais para o fortalecimento da economia capixaba. Ter boa infraestrutura logística pode ser um diferencial para minimizar os impactos financeiros que serão causados aos cofres estaduais a partir da reforma tributária, cuja fase de transição já começa no ano que vem.

O alerta foi feito durante o evento “Diálogos: Reforma Tributária”, promovido pela Rede Gazeta em Colatina. Com a reforma, benefícios fiscais deverão ser extintos. Então, oferecer infraestrutura de qualidade será importante para que os estados mantenham a atratividade, como apontou Gustavo Guerra, ex-presidente do Conselho Estadual de Recursos Fiscais (CERF-ES), em um dos painéis.

É algo que o Espírito Santo deve continuar buscando, com focos bem definidos. A presença do ministro dos Transportes, Renan Filho, para a inauguração de um trecho duplicado da BR 101, entre Guarapari e Anchieta, na última semana, foi a oportunidade para o governador Renato Casagrande reforçar a necessidade de destravar investimentos logísticos fundamentais, como relatou o colunista Abdo Filho.

Em relação à duplicação da BR 262, a previsão é que o edital seja lançado no começo do ano que vem, logo depois de o projeto ficar pronto. Mas ainda falta dinheiro. O Estado promete investir R$ 2,3 bilhões, com recursos do Acordo de Mariana. Só que a previsão é que a obra custe R$ 7,5 bilhões ao todo. Diferença enorme para modernizar uma via que hoje está estrangulada e é fundamental para fortalecer o turismo e também escoar a produção do agronegócio da Região Serrana.

Em relação à malha ferroviária, a solução continua fora dos trilhos. Ainda há um impasse envolvendo a Vale e o governo federal pela renovação da concessão da Estrada de Ferro Vitória a Minas. Apesar da promessa que o investimento aconteça mesmo sem o dinheiro da mineradora, não é prudente abrir mão da busca por esse acordo, que pode garantir R$ 2 bilhões para a implantação da EF 118. O Estado precisa marcar em cima para que isso se concretize. Por meio dessa via férrea, com 575 quilômetros de extensão, será possível integrar diferentes terminais portuários, entre o Espírito Santo e o Rio de Janeiro.

Porém, ainda há outra demanda pela qual o Estado deve brigar em relação a essa ferrovia. Um estudo feito pela Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) aponta que a construção da EF 118 só tem viabilidade econômica e logística com a inclusão de um ramal de cerca de 80km ligando Santa Leopoldina a Anchieta, em conexão com a Vitória a Minas. É preciso, portanto, insistir para que esse trecho também faça parte do projeto. O bom sinal é que, durante participação na 20ª edição do Pedra Azul Summit, o presidente da Vale, Gustavo Pimenta, demonstrou otimismo para destravar uma solução para a ferrovia.

No entanto, o Estado ainda tem outro impasse ferroviário para solucionar. Em encontro com Renan Filho, Casagrande e o vice-governador, Ricardo Ferraço, reforçaram a necessidade de o contorno de Belo Horizonte entrar no pacote de obras a serem obrigatoriamente feitas na nova concessão da FCA, controlada pela VLI, até 2056. A ferrovia faz a integração do Centro-Oeste, conectada a estruturas que levam e trazem carga para os portos capixabas (caso da Vitória a Minas). Nesse apelo, o Estado age certo ao fazer aliança com Minas Gerais para que a mobilização surta efeito.

Além disso, houve a cobrança de apoio para a ampliação e modernização do ramal Piraquê-Açu, entre João Neiva e Aracruz, que faz parte da EFVM e será fundamental para o ParkLog, parque logístico que é considerado um novo ciclo de desenvolvimento do Espírito Santo e vai levar oportunidades de negócios para 10 municípios do Norte capixaba.

Como fica claro, a lista é extensa. Trabalho árduo, mas que não pode se tornar eterno como o de Sísifo. São desafios que urgem por solução. Quanto antes, melhor. A classe política capixaba precisa se mobilizar em torno dessas demandas. É o caminho para transformar a eventual vulnerabilidade que possa ser ocasionada pela reforma tributária em uma vantagem logística duradoura. Na impossibilidade futura de oferecimento de incentivos fiscais, a competitividade deverá passar a ser medida não pelo imposto mais baixo, mas pelo tempo e custo de transporte, por exemplo. Nisso, apesar da localização privilegiada e sempre elogiada, o Estado ainda pode evoluir. Por isso, todo esforço em busca de investimento em rodovias e ferrovias é válido, para que o potencial de desenvolvimento capixaba não fique ameaçado.

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