A popularização do uso de bicicletas elétricas não é mais novidade. É fácil encontrar crianças, jovens e adultos utilizando o veículo para se deslocar pela Grande Vitória. Estão por toda a parte, em ruas, ciclovias e calçadas, dividindo espaço com as bicicletas comuns e os ciclomotores. São um ganho em diversos aspectos: desafogam o trânsito com menos automóveis nas ruas; não poluem o meio ambiente, pois não usam combustível fóssil; e fazem bem à saúde quanto o usuário recorre à assistência dos pedais.
Porém, esse ganha-ganha esbarra na imprudência de muitos ciclistas, o que já levou o Espírito Santo a contabilizar mais de 100 acidentes envolvendo bicicletas elétricas neste ano, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Foram 114 ocorrências atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) até agosto, a maioria na Grande Vitória: Vila Velha (54), Vitória (22), Serra (12), Guarapari (5) e Cariacica (4).
O risco fica maior à medida que se observa que a proporção de bicicletas elétricas em circulação não é a mesma de usuários com equipamentos de proteção. Muitos ainda ignoram a importância de usar capacetes e luvas. Como consequência, mais atendimentos hospitalares a vítimas de traumas estão sendo realizados. Não é demais lembrar que, por mais que esses veículos pareçam inofensivos, por terem limite de velocidade estabelecido em 32km/h, as lesões provocadas em caso de acidente podem ser graves.
Em entrevista ao Bom Dia ES, da TV Gazeta, o ortopedista Jansen Cuzuol, coordenador do centro cirúrgico e do serviço de ortopedia do Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), em Vitória, alertou que já foram atendidos no local pacientes com traumatismo craniano, trauma na coluna e fraturas nas extremidades e em ossos longos. A maioria das vítimas, segundo ele, são adolescentes entre 15 e 16 anos.
Já a terapeuta ocupacional Glauciany Spalenza, em artigo em A Gazeta, disse ter aumentado em 50%, em seu consultório, o número de atendimentos relacionados a traumas causados por quedas de patinetes e bicicletas elétricas. A maioria das lesões ocorre quando o usuário tenta se proteger da queda apoiando-se com as mãos, o que pode causar fraturas, luxações, rupturas de tendões e lesões nos nervos. Por isso, reforça a importância do uso de luvas adequadas, capazes de amortecer o impacto de quedas e reduzir o risco de lesões graves.
O uso de capacete também passou a ser uma recomendação fundamental para todos os usuários de bicicletas elétricas,conforme a Resolução nº 996, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), de junho de 2023, como lembrou a epidemiologista Ethel Maciel. Para prevenir acidentes, também é exigida a presença de indicador ou limitador de velocidade, campainha, sistema de iluminação dianteira, traseira e lateral, além de retrovisor nas bikes.
A esses alertas e recomendações devem-se somar ações de conscientização. É preciso ser insistente e, por vezes, até repetitivo, para convencer os ciclistas a não se arriscarem e não colocarem outras pessoas em risco. Mesmo com a ausência, na legislação, de orientação sobre a fiscalização dos modais elétricos, os órgãos públicos e entes privados podem se mobilizar. Como fizeram a Prefeitura de Vitória e o Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe-ES), que fecharam parceria para promover palestras sobre o uso das bicicletas para pais e filhos em escolas da rede privada.
Trata-se, de fato, de um compromisso que deve envolver a família. Cabe aos pais não só orientar, mas também dar o exemplo, adotando o equipamento de proteção, caso utilizem as bikes elétricas. É dentro de casa que a prevenção deve começar. Não é só isso. A prevenção a acidentes passa ainda pelo respeito às leis de trânsito. Ciclistas não estão isentos dessa obrigação. Assim como têm de saber conviver com outros veículos, além de pedestres. A mudança precisa ser cultural. Ainda que não seja instantânea, é importante que comece desde já. É o cuidado com a vida que está em jogo.
Este vídeo pode te interessar
LEIA MAIS
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.