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A operação que revelou a caixa-preta de grupo criminoso do ES

Ela foi realizada pelo Ministério Público, por meio do Gaeco, em julho de 2021, após dois anos de investigação da facção criminosa PCV

Vitória
Publicado em 07/05/2025 às 03h30
Transferência de presos
Crédito: Arte - Camilly Napoleão com Adobe Firefly

Era julho de 2021 quando uma operação — a Armistício — ganhou as ruas prendendo traficantes e advogados. Era a etapa ostensiva de uma investigação iniciada dois anos antes e que revelou a caixa-preta do principal grupo criminoso no Espírito Santo: como funcionava, seus métodos de atuação, a identificação dos membros, cadeia de distribuição de droga e até seu regulamento (cartilha).

Informações que auxiliaram as forças de segurança a compreender a dinâmica do Primeiro Comando de Vitória (PCV), e nos anos seguintes ajudaram a desarticular ações e a viabilizar a prisão de várias lideranças criminosas, incluindo o Marujo.

O apelido é de Fernando Moraes Pereira Pimenta, que anos antes tinha assumido o comando quando os líderes do grupo foram sendo presos. O que não foi suficiente para impedir que a cúpula criminosa continuasse gerindo o tráfico do sistema prisional, com informações repassadas de dentro da Penitenciária Máxima II (PSMA II), em Viana.

Contavam com o apoio de advogados, que lançavam mão do uso indevido das prerrogativas essenciais à advocacia para garantir a comunicação criminosa. Foi o que revelou a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) com base nas informações da Armistício.

A troca de informações era feita por catuques, recados escritos à mão ou no bloco de notas do celular, e até por chamada de vídeo. Uma delas, feita por uma advogada, permitiu o contato entre Marujo (foragido) e um dos fundadores do PCV, Carlos Alberto Furtado da Silva, o Beto.

Beto e outros quatro traficantes do grupo principal foram condenados em sentença do Juízo da 10ª Vara Criminal de Vitória, divulgada nesta terça-feira (07). Alguns deles também foram condenados em outros processos, em casos de homicídio, a partir de provas também obtidas na Armistício, que ao todo denunciou 40 pessoas, incluindo dez advogados.

Um dos pedidos feitos pelo Gaeco, em 2021, e aceito pela Justiça, foi a transferência da cúpula criminosa para presídio federal, considerando o contexto da política criminal nacional de combate ao crime organizado, e o caráter cada vez mais interestadual e transnacional das organizações criminosas. Todos foram encaminhados para a unidade de Porto Velho, em Rondônia, onde permanecem.

Sem comunicação

Detidos em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), os membros da cúpula perderam o contato com a facção, e Marujo passou a ser a referência no comando. Fato que ampliou os olhares das forças de segurança para ele.

Nos últimos quatro anos, diversas operações foram realizadas pelas polícias Militar e Civil e pelo próprio Gaeco, com a prisão de gerentes da estrutura do PCV, o que foi minando a organização voltada ao tráfico de drogas.

Em março do ano passado, uma operação realizada pela Polícia Civil conseguiu prender Marujo. E o volume de informações presentes na Armistício, com mais de 15 mil arquivos, principalmente em relação a ele, ajudou a embasar a solicitação à Justiça para que ele também fosse transferido para presídio federal. Em abril do ano passado ele seguiu para a unidade de Catanduvas, no Paraná.

Meses antes a corporação civil já havia prendido outras duas lideranças de destaque do tráfico, mas de um grupo rival, o Terceiro Comando Puro (TCP). Gabriel Gomes Faria, o Buti, detido em Itararé, Vitória, em outubro de 2024. E em novembro do mesmo ano foi a vez de Luan Gomes Faria, o Kamu.

Os dois são conhecidos como “irmãos Vera”. Kamu, foragido no Rio, voltou ao Estado em decorrência da guerra entre as facções, se valendo da crise no PCV para ampliar suas fronteiras. O que fez com que Marujo também retornasse do estado vizinho e fosse preso.

Com muitos integrantes, o PCV ainda é apontado como o maior grupo criminoso atuando no Estado, mas sem contato com as suas lideranças, houve um vácuo de poder e os integrantes ficaram resistentes às ordens de novos comandos. Os conflitos internos aumentaram, levando a um racha e ao surgimento de duas alas.

Em paralelo, outras facções aproveitaram para ampliar suas atuações, é o caso do TCP e até do Primeiro Comando da Capital (PCC).  E gerando novos conflitos. Em fevereiro, investigações da Polícia Civil descobriram um plano de ataques a comunidades de Vitória. Um dos líderes foi detido. Em abril, o segundo líder foragido foi preso em outra ação, denominada de Operação Marujada

As condenações e a espera

A denúncia do Gaeco contra as 40 pessoas foi fracionada em várias ações na Justiça estadual. Em uma delas o grupo principal foi condenado pelos crimes de associação para o tráfico, com aumento da pena pelo emprego de arma de fogo, e pela prática de organização criminosa. Nos dias de seus interrogatórios, optaram por permanecerem calados.

Em outros processos, mais faccionados também receberam as suas sentenças.

O único processo que ainda tramita sob sigilo e a passos lentos envolve os advogados que foram denunciados. Dos dez, uma foi absolvida e o MP recorre contra a decisão. Outros outros nove ainda aguardam audiências, mas tiveram o direito de exercer a advocacia suspenso.

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