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Advogados faziam até chamadas de vídeo entre criminosos, diz MP

Advogados faziam até chamadas de vídeo entre criminosos, diz MP

Segundo investigação do Ministério Público, os advogados eram portadores de recados de bandidos presos e dos que ainda estão em liberdade

Publicado em 19 de julho de 2021 às 21:32

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Operação Armistício
Equipe do Gaeco chega à sede do Ministério Público Estadual, em Vila Velha, com documentos aprendidos na Operação Armistício. (Carlos Alberto Silva)

Bilhetes escritos à mão, bloco de notas no celular, mensagens de áudio e até chamadas de vídeo estão entre os formatos usados por advogados, com celular próprio,  para  transmitir, levar e trazer os recados, comandos e determinações de integrantes da organização criminosa que atua no Espírito Santo

A informação é do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), que realizou uma operação para cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão, nesta segunda-feira (19),  no Espírito Santo.  A Operação Armistício tem como base as investigações do funcionamento do Primeiro Comando de Vitória (PCV).

Os recados eram chamados pela organização criminosa como "catuques". No conteúdo dessas mensagens estavam desde ordem ou permissão para assassinatos e queima de ônibus até contabilidades do tráfico de drogas e armas. 

Em um desses levantamentos, há uma chamada de vídeo entre Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, 29 anos, atualmente o único líder do PCV ainda em liberdade, e Carlos Alberto Furtado, o Beto, um dos comandantes do PCV  preso. O aparelho usado para a videoconferência seria da advogada Chayene Evelyn Carvalho Moraes, segundo as apurações do Ministério Público. 

Na lista dos advogados que o Gaeco investiga estão:

  1. Márcia Borlini Marim Sanches 
  2. Lina Demoner Medani Tristão
  3. Lucas Depolo Muniz
  4. Chayene Evelyn Carvalho Moraes
  5. Emanuella Carlette Sobreira
  6. Paloma Maroto Gasiglia
  7. Joyce da Silva Boroto
  8. Alzemir Rosa Miranda Ramos
  9. Thelma Barcellos Bernardes

O Ministério Público solicitou pedido de prisão preventiva de reclusão contra todos eles, entendendo que  "os advogados se valiam indevidamente das prerrogativas que possuem para repassar os recados". No entanto, a  Justiça expediu mandados de prisão preventiva,  com cumprimento de medida cautelar diversa da prisão, neste caso uso de tornozeleira. Foram cumpridos seis mandados durante a operação, no início da manhã.

Os advogados foram levados para a sede do Gaeco em Vila Velha e de lá encaminhados ao presídio, onde receberam a tornozeleira eletrônica antes de serem liberados para cumprimento domiciliar da medida. 

Durante a tarde, Joyce da Silva Boroto se entregou na sede do Gaeco, acompanhada de um advogado, e seguiu para a unidade prisional para receber a tornozeleira eletrônica como os demais.

Até as 15h30 desta segunda-feira, dois advogados alvos da investigação não haviam sido localizados.  Também foram apreendidos computadores, pastas, celulares e quaisquer objetos que poderiam servir para o repasse de recados. 

A defesa da advogada Paloma, Homero Mafra, informou que não vai se pronunciar sobre o caso, no momento. A reportagem de A Gazeta tentou contato por telefone e rede social com os advogados Lina, Lucas, Emanuella, Thelma, Alzemir e Joyce, porém, não obteve retorno. A reportagem não conseguiu contato das advogadas Márcia e Chayene até o momento da publicação.  Assim que houver resposta, este texto será atualizado.

VANTAGENS 

A investigação teve início em 2019 e provocou o pedido de prisão de 37 pessoas, dos 39 investigados. Entre os 37 mandados, estão os 9 dos advogados e também outros cinco presos capixabas que são apontados como lideranças do PCV.

Em pouco mais de um ano, a liderança Carlos Alberto Furtado teve 89 advogados diferentes, recebendo 378 visitas, quase uma visita por dia, por exemplo. Para o Ministério Público, isso significa que muitos profissionais que fazem as visitas não têm vinculação com os processos judiciais dos envolvidos, ou seja, não exercem a função advocatícia.

Os cinco foram transferidos para um presídio federal, fora do Espírito Santo, exatamente na tentativa de desarticular as negociações e planejamento da organização criminosa. Na lista dos mandados, também há um para Fernando Pimenta, o Marujo, que segue foragido e também é procurado pelas forças de segurança do Rio de Janeiro. 

Sobre as vantagens que advogados recebiam em troca de realizarem os "catuques", o Ministério Público informou que ainda não tem registro de negociações de valores. No entanto, é certo que o pagamento não surgia apenas dos clientes, mas sim da facção como um todo, uma vez que o vai e vem de recados mantinha a engrenagem do tráfico de drogas funcionando, assim como os lucros e crimes provenientes deles. 

Sobre os 37 mandados de prisão, o MP não repassou o balanço de quantas pessoas foram presas ao todo, mas informou que a próxima fase será ouvir os advogados e demais detidos nesta segunda-feira (19), analisar o material apreendido e concluir as investigações, realizando os indiciamentos adequados.

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