Este é um espaço para falar de Política: notícias, opiniões, bastidores, principalmente do que ocorre no Espírito Santo. A colunista ingressou na Rede Gazeta em 2006, atuou na Rádio CBN Vitória/Gazeta Online e migrou para a editoria de Política de A Gazeta em 2012, em que trabalhou como repórter e editora-adjunta

Como os candidatos ao governo do ES querem ganhar o voto dos empresários

Audifax gestor, Manato irreverente, Guerino técnico e Casagrande equilibrado

Vitória
Publicado em 31/08/2022 às 02h10
Audifax Barcelos, Carlos Manato, Guerino Zanon e Renato Casagrande durante o evento Diálogo com o Setor Produtivo
Audifax Barcelos, Carlos Manato, Guerino Zanon e Renato Casagrande durante o Diálogo com o Setor Produtivo. Crédito: Alexandre Mendonça/Findes

O Fórum de Entidades e Federações (FEF) recebeu, na segunda-feira (29), quatro dos sete candidatos ao governo do Espírito Santo. Foram chamados os mais bem posicionados na pesquisa Ipec publicada no último dia 17.

Na plateia, parte do empresariado que dá peso ao PIB capixaba. O FEF é formado por ES em Ação, Federação da Agricultura e Pecuária (Faes), Federação do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), Federação das Indústrias (Findes) e Federação dos Transportes (Fetransportes). 

Não foi um debate. Os candidatos não chegaram a se encontrar, cada um falou por cinquenta minutos, um de cada vez, em ordem alfabética. Responderam a perguntas idênticas, relacionadas à economia do estado.

AUDIFAX, O GESTOR

O ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos (Rede) foi o primeiro a falar. A coluna perdeu as contas de quantas vezes ele conseguiu incluir a expressão "sou gestor" nas respostas. Também frisou, recorrentemente, que o que fez pela Serra pode fazer pelo Espírito Santo.

"Em 20 anos (na Serra) não fiz tudo, nem fiz sozinho, mas avançamos (...) Sou gestor, sei montar equipe e cobrar resultado", afirmou. 

Ele sustenta que o governo do estado tem dinheiro para fazer as coisas. O que falta é ... gestão.

Para garantir que projetos estruturantes que dependem do Executivo federal saiam do papel, ele diz que não atrela seu nome a nenhum candidato à Presidência da República, "mas respeito quem pega carona com um ou com o outro", complementou.

Sobre o imbróglio da BR 101, em que a empresa Eco101 desistiu da concessão, Audifax apontou que faltou "determinação" (por parte da administração estadual): "Isso eu não vou deixar acontecer".

O ex-prefeito da Serra quer transformar o Espírito Santo no "Vale do Silício do Brasil".

Durante a apresentação, manteve a voz monocórdica e pouco se movimentou.

MANATO, O IRREVERENTE

A participação do ex-deputado federal Carlos Manato (PL) foi quase um show de stand up commedy, levou a plateia aos risos.

O público achou graça, e boa parte balançou a cabeça em sinal de aprovação, por exemplo, quando ele disse que vai implantar escolas cívico-militares e que "não vai ter isso de dizer que é bonitinho menino beijar menino e menina beijar menina". 

"Nada de ficar de mimimi de ideologia de gênero", afirmou. "Temos que apertar os municípios, enquadrar eles", exortou, ainda ao falar sobre Educação.

A plateia também foi aos risos quando o candidato ironizou a ciclovia que está sendo construída na Terceira Ponte, que vai servir também para evitar suicídios. "Vai parar a bicicleta e se matar do mesmo jeito", disse Manato.

A todo tempo ele gesticulava e circulava pelo tablado.

Manato pretende qualificar mão de obra em larga escala e contar com a ajuda do Sistema S. "Tem que chamar vocês, mas sem onerar vocês, porque tudo onera vocês", sinalizou aos empresários.

Ele também quer colocar internet 5G em todo o estado.

Quanto à redução da emissão de carbono na atmosfera, agenda ambiental ligada à economia, Manato avaliou que "o governo federal vai ser o pai dessa criança".

Defendeu que o estado deixe de cobrar ICMS sobre placas solares e recupere bacias hidrográficas, já que, sem água, fica difícil atrair empresas.

GUERINO, O TÉCNICO

Ao contrário do que fez em entrevistas e na convenção estadual do PSD, o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD) deixou de lado o discurso radical bolsonarista.

Aos empresários, apresentou-se como gestor e usou Linhares como exemplo, mas sem repetir tantas vezes quanto Audifax a palavra gestor ou o nome da cidade que administrou.

E também mostrou que, se eleito, não governaria apenas para a região Norte: "027 e 028 é uma divisão criada pela telefonia (citando os códigos para realizar ligações de longa distância no Espírito Santo). O Norte, se tiver competência, o gestor consegue fazer, mas o Sul precisa de um olhar diferente".

Na Educação, defendeu prioridade à primeira infância, de zero a seis anos, e ao ensino profissionalizante já no Ensino Médio, como forma de qualificar mão de obra com rápida inserção no mercado de trabalho.

Também prometeu construir 100 novas escolas e retomar o programa Escola Viva, do governo Paulo Hartung (2015-2018).

Quer descarbonizar o transporte coletivo com a ajuda de empresas que já estão instaladas no estado, como a Weg e a Marcopolo, e construir mais ciclovias.

"Não sou nenhum marciano que chegou à Grande Vitória pedindo para ser governador. Sei fazer", argumentou, aos empresários, alguns dos quais conhecia pelo primeiro nome. 

CASAGRANDE, O EQUILIBRADO

Último ao falar, o governador Renato Casagrande (PSB) chegou aparentemente já sabendo o que os adversários haviam dito durante a tarde. Coincidentemente ou não, um assessor do socialista ficou o tempo todo na plateia.

Na maior parte do tempo, ele fez um balanço das ações da atual gestão. 

Disse que abriu 100 novas escolas de tempo integral. Para incentivar a melhoria nos índices educacionais, que já avançaram nos últimos anos, como reconheceu Audifax, os municípios que se saem melhor recebem uma fatia maior dos repasses de ICMS.

"Para os próximos quatro anos propomos a Escola do Futuro, com ambiente totalmente digital, com cultura digital."

O governador anunciou que o sistema de licenciamento ambiental, muito criticado pelos adversários, está sendo modernizado.

Sobre a redução da emissão de carbono e a utilização de fontes de energia mais limpas, lembrou que foi anunciado recentemente o novo mapa eólico do estado.

"E temos 100 escolas com energia solar, vamos alcançar todas elas", prometeu.

Também disse que vai construir, ouvindo, entre outros, as entidades que formam o FEF,o plano estadual de mobilidade de carbono, com metas até 2050.

E voltou ao balanço da gestão.

"Se você conversar com qualquer gestor municipal vai ouvir que nunca tivemos tanto investimento (...) Às vezes a pessoa não olha o resultado da gestão e sim o lado ideológico", alertou.

"Sou uma pessoa equilibrada, gosto de fazer alianças amplas. Deu certo comigo, deu certo com o Paulo Hartung", argumentou o governador.

A coligação de Casagrande vai do PT de Lula ao PP, que apoia Bolsonaro. O socialista apoia o candidato petista à Presidência da República, mas não mencionou isso. Aliás, não tem tocado muito no nome do ex-presidente da República.

Ao falar da pandemia de Covid-19, ressaltou: "Não teve de minha parte nenhum autoritarismo, decidimos juntos (lembrou que consultou o setor empresarial a respeito de medidas de combate à doença). Decisões difíceis, corajosas. Navegamos num mar turbulento e saímos mais coesos".

O PRESIDENTE E A PRESIDENTA

Em dado momento, Manato disse que "temos que ter um governador alinhado ao presidente da República para o Espírito Santo se desenvolver".

Se Lula vencer a eleição, então como fica? Manato é aliado de Bolsonaro.

Ele se espelhou, ao menos de brincadeira, na ex-presidente Dilma Rousseff (PT): "Temos que colocar água da chuva no subsolo. Imito Dilma, temos que plantar água". Em 2015, em discurso na ONU, Dilma sugeriu que era preciso uma tecnologia para "estocar vento".

A frase foi ironizada e gerou memes, mas em 2021, o Rio Grande do Norte assinou um memorando com uma empresa suíça para, basicamente ... estocar vento.

CICLOVIA DA VIDA

Quanto à efetividade da ciclovia da Terceira Ponte para impedir suicídios, o governador Casagrande afirmou que o objetivo principal é ter tempo hábil para realizar um atendimento que salve a vida da pessoa.

"A pessoa pode tentar escalar a tela, mas é difícil. Agora, o que importa é que dá chance de a pessoa ser abordada. No sábado eu cheguei de viagem, de São Mateus, às 11 horas da noite, e fui para Vila Velha. A ponte estava fechada porque uma pessoa se jogou da ponte, mas se jogou na ciclovia, que ainda não está pronta. Deu tempo de a pessoa ser abordada por um bombeiro ou por um policial", exemplificou.

CASA ARRUMADA

Guerino, que é de Linhares, percorre o estado em campanha eleitoral e, muitas vezes, tem compromissos em Vitória, como o evento de segunda-feira.

Assim, está se hospedando frequentemente no Hotel Senac Ilha do Boi, onde foi realizado o Diálogo com o Setor Produtivo. Teve a vantagem de não correr risco de ficar preso no trânsito. Precisou apenas sair do quarto para o auditório.

RECONHECIMENTO

Audifax não foi só críticas no evento com os empresários. Elogiou a gestão da Educação no estado, embora avalie que o governo ainda precisa melhorar.

Em entrevista, admitiu que os avanços da Serra nos últimos 20 anos devem-se também ao atual prefeito da cidade, Sérgio Vidigal (PDT), antigo aliado e hoje adversário. "Eu disse que não fiz tudo sozinho", frisou.

OS VICES

Em tempo: o vice de Casagrande, o ex-senador Ricardo Ferraço (PSDB), tem bom trânsito com o empresariado. Manato, por sua vez, escolheu o empresário Bruno Lourenço (PTB), que nunca disputou eleições, como companheiro de chapa.

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