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Mesmo com novos leitos, UTIs brasileiras têm alta taxa de ocupação

Mesmo com novos leitos, UTIs brasileiras têm alta taxa de ocupação

Os cenários de ocupação dos hospitais preocupam Estados como o Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Goiás

Publicado em 29 de abril de 2020 às 09:06

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Novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com respirador no Hospital Jayme Santos Neves, na Serra.
Novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com respirador no Hospital Jayme Santos Neves, na Serra. . (Reprodução/TV)

Mesmo após a abertura de novos leitos de terapia intensiva para o tratamento da Covid-19, estados brasileiros permanecem com o sistema de saúde sob pressão por causa do avanço da doença causada pelo novo coronavírus.

Levantamento da reportagem aponta que, nos últimos dez dias, foram abertos pelo menos 776 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) nas redes estaduais para o tratamento da doença em 12 estados e no Distrito Federal.

Mesmo ampliando o número de vagas, parte dos Estados ainda permanece em um patamar preocupante de ocupação dos leitos. Amazonas, Pará, Rio de Janeiro e Pernambuco estão com mais de 90% dos leitos ocupados. Já Ceará, Goiás, Espírito Santo, Maranhão e Rio Grande do Sul ultrapassam a barreira dos 60%. São Paulo registra 59,8%.

Em alguns casos, na prática, a situação é de colapso, já que os leitos disponíveis são a reserva técnica liberada por pacientes que morreram ou tiveram alta. No Amazonas e no Rio de Janeiro, há fila para conseguir uma vaga na UTI.

Procurados pela reportagem, os governos do Amazonas e Pará não informaram a situação dos leitos de UTI em seus estados.

Nos últimos dias, o governo do Amazonas tem divulgado que 96% dos leitos da rede estadual de UTI estão ocupados, mas profissionais de saúde ouvidos pela reportagem afirmam que só há vagas em caso de óbito ou alta. No Pará, a ocupação de leitos da rede pública atingiu a marca de 91% na semana passada.

O Rio de Janeiro se aproxima de um cenário de caos: 238 dos 256 leitos de UTI destinados ao coronavírus nas unidades de referência da rede estadual já estão ocupados. O único que ainda tem vagas é o Hospital Regional Zilda Arns, em Volta Redonda. Pacientes da capital, que fica a uma hora e meia de distância do município, já estão sendo enviados para lá.

Mesmo com esses leitos sobrando, a fila por UTIs acumulava 326 pessoas nesta segunda na rede estadual. O descompasso se dá porque, antes de o leito ser liberado, leva tempo até que ele seja higienizado e sua vacância seja comunicada. Com isso, os pacientes se acumulam em Unidades de Pronto Atendimento e outras unidades menores à espera de transferências, muitas vezes sem isolamento nem acesso a exames ou respiradores.

O governador Wilson Witzel (PSC) promete criar cerca de mil novas vagas de UTI em dez hospitais de campanha, mas até o momento apenas um deles foi aberto. E, mesmo assim, apenas 30 dos 200 leitos previstos nessa unidade estão funcionando.

Em Pernambuco, a situação também é crítica. Desde o início da crise, foram criados na rede estadual de saúde 348 leitos de UTI. Ainda assim, a taxa de ocupação dos leitos era de 96% nesta segunda-feira. Na semana passada, o índice chegou a 99%. "Estamos sendo ultrapassados pela doença", afirmou o secretário estadual de Saúde, André Longo, que fez um apelo para que as pessoas cumpram medidas de distanciamento social. A meta do governo é abrir mais 52 novos leitos.

Depois de ter o sistema de saúde estadual colapsado há cerca de dez dias, o Ceará conseguiu mais que dobrar a rede de atendimento de pacientes com Covid-19, saindo de 169 para 398 leitos de terapia intensiva.

Com os novos leitos ofertados, o estado saiu de um patamar de 100% de ocupação dos leitos destinadas à Covid-19 para 77%. O avanço foi possível com a abertura de hospitais de campanha, a ampliação de vagas em hospitais e o remanejamento de leitos da própria rede estadual. A maior parte das vagas ainda disponíveis, contudo, está no interior. Em Fortaleza, que já registra 5.432 casos da doença e 320 mortes confirmadas, a ocupação de UTIs chegou a 98% nesta segunda-feira (27).

Em São Paulo, que tem 2.088 leitos de UTI na rede estadual para Covid-19, a ocupação chega a 59,8%. Na Grande SP, esse índice alcançou 78,4%. O Hospital das Clínicas de São Paulo, onde foram criados 100 novos leitos de terapia intensiva para tratamento da Covid-19, chegou a quase 95% e ficou perto de atingir sua capacidade total na UTI.

O cenário é semelhante em outros hospitais estaduais localizados na região metropolitana de São Paulo. A UTI do Instituto Emílio Ribas, referência no tratamento da doença, alcançou 100% de ocupação em pelo menos dois dias nas últimas semanas. O secretário estadual de Saúde, José Henrique Germann, admite que o número de leitos de UTI pode não ser suficiente se a população não respeitar as regras de isolamento social.

Os cenários de ocupação dos hospitais também começam a preocupar no Espírito Santo, no Rio Grande do Sul e em Goiás. Neste último, a ocupação dos leitos de terapia intensiva já chegou a 75%.

O Rio Grande do Sul não informou a porcentagem de leitos do SUS ocupados, mas apontou para uma taxa de 61,2% dos 1.712 leitos públicos e privados do estado. Na segunda maior cidade gaúcha, Caxias do Sul, a ocupação de leitos do SUS é alarmante: 97%, segundo a prefeitura.

Também há um avanço rápido da demanda no Maranhão, onde a ocupação das UTIs saltou de 41% para 60% em dez dias. O governador Flávio Dino (PC do B) afirmou que irá decretar lockdown, com a proibição da circulação de pessoas nas ruas, casos a ocupação atinja 80%.

Com alguns estados perto do limite de sua capacidade, o médico Francisco Braga Neto defende a requisição obrigatória de leitos particulares pelos estados e municípios. Ele argumenta que a contratação desses leitos por meio de edital, como vem tentando fazer a Prefeitura do Rio de Janeiro, exige adesão voluntária, que muitas vezes é baixa.

"O número de pessoas que vão morrer sem acesso ao serviço está aumentando e vai aumentar a cada dia, e em grande parte são mortes evitáveis. Temos que enfrentar a pandemia com todos os recursos possíveis", afirma ele, que é coordenador do Observatório de Política e Gestão Hospitalar da Fiocruz.

Ele aponta como alternativa a abertura de novos leitos, principalmente com hospitais de campanha. Mas destaca que esta opção empaca na falta de respiradores e na dificuldade de contratação de equipes. "Os leitos privados estão instalados, equipados e têm recursos humanos. É um absurdo não usarmos", diz.

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