Publicado em 7 de junho de 2020 às 19:51
Atos anti-Bolsonaro em diferentes pontos do país neste domingo (7) ganharam o reforço de gritos contra o racismo, causaram aglomerações e expuseram a cisão entre movimentos e partidos de oposição ao governo. >
Em São Paulo, em Brasília e no Rio, por exemplo, cartazes e faixas fizeram referência ao "vida negras importam" - o black lives matter, movimento que ganhou corpo nos EUA após a morte de George Floyd por um policial branco.>
Houve atos contra o governo também em Belo Horizonte, Belém, Goiânia e Salvador, entre outras. Muitos deles marcados por aglomerações, em meio a uma média recente de cerca de mil mortos por dia na pandemia.>
As organizações mantiveram o chamado para os atos mesmo após o questionamento sobre promover aglomeração - a estratégia do distanciamento social é a única forma efetiva de prevenção do contágio, segundo orientações médicas.>
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Os protestos ocorreram de forma pacífica. No entanto, cerca de três horas após ato contra o governo, um grupo foi dispersado pela tropa de choque da PM no momento em que o ouvidor das polícias, Eliseu Lopes, costurava um acordo com os manifestantes.>
No último domingo (31), em São Paulo, um ato contra Bolsonaro convocado por torcidas organizadas acabou sendo dispersado por bombas de gás lançadas pela PM. O conflito ocorreu na avenida Paulista, onde também havia manifestação a favor de Bolsonaro.>
O Palácio do Planalto e o Governo do Distrito Federal, por exemplo, trabalhavam com a possibilidade de violência neste final de semana.>
Desde o início da semana passada, Bolsonaro orientou sua militância a não comparecer à Esplanada dos Ministérios, como costuma fazer todos os domingos. Ao mesmo tempo, procurou elevar a temperatura chamando os manifestantes contrários ao governo de terroristas, maconheiros, marginais e black blocs.>
Dois dias antes do protesto, Bolsonaro cobrou que as Polícias Militares fizessem "seu devido trabalho", caso "estes marginais" extrapolassem os "limites da lei". O presidente chegou a insinuar o uso da Força Nacional de Segurança Pública, que poderia ser acionada para a proteção do patrimônio.>
A expectativa de que a manifestação terminasse em violência também se materializou no reforço de grades diante do Palácio do Planalto e na quantidade de policiais militares espalhados pelos cerca de 3 km entre a rodoviária do Plano Piloto e a Praça dos Três Poderes.>
O ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, disse não ter acompanhado o ato em Brasília, mas observava, de longe, o de São Paulo. "As manifestações são democráticas, como o presidente sempre fala", disse Ramos à Folha no fim da tarde, quando não havia nenhum registro de confronto na capital paulista.>
O chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, foi pessoalmente ao ato em Brasília. "Fui à Esplanada dos Ministérios agradecer aos integrantes das Forças de Segurança, pelo trabalho abnegado e competente que realizam, em prol de manifestações pacificas", escreveu em uma rede social.>
Em São Paulo, foram dois atos neste domingo. Houve reforço policial. A divisão ocorreu após uma decisão judicial ter proibido a realização de protestos contra e a favor de Bolsonaro no mesmo horário e local.>
Em reunião na sexta-feira, organizadores de atos de ambos os lados, Polícia Militar e Ministério Público tentaram chegar a um acordo, mas os protestos foram mantidos.>
Diante do impasse, movimentos de esquerda, integrantes do movimento negro e de torcidas organizadas de times de futebol transferiram o protesto contra Bolsonaro para o Largo da Batata - o ato a favor de Bolsonaro aconteceu na avenida Paulista, com faixas e gritos a favor de intervenção militar.>
"Ninguém queria estar na rua agora. Todo mundo queria estar em casa se protegendo [da Covid-19]", discursou Guilherme Boulos, líder do MTST (movimento dos sem-teto) e candidato à Presidência em 2018. "O problema é que criou-se uma escalada fascista no Brasil. Por isso essas manifestações têm que acontecer.">
Ele afirmou que a organização do ato tomou medidas de precaução contra a transmissão do coronavírus. Entre elas, citou a distribuição de máscaras de proteção e álcool gel pelo MTST e os sinais de "x" inscritos com giz no chão pela brigada de saúde do MTST e distantes um metro um do outro.>
Mas, apesar de pedidos vindos do carro de som para que os manifestantes se posicionem sobre essas marcas, a maioria se agrupou em distâncias menores, enquanto entoam gritos contra o presidente e o racismo.>
Ainda na sexta-feira, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e outras entidades divulgaram nota contra a realização de atos de rua em meio à pandemia.>
Doria também classificou como uma total irresponsabilidade a decisão de organizadores de manter as manifestações contra e a favor do presidente.>
As manifestações contra Bolsonaro deste domingo também expuseram a divisão entre os opositores do governo. A semana que se iniciou sob o símbolo da unidade chegou ao domingo com um quadro de divisões internas.>
Partidos de esquerda, o PT e o PSOL decidiram ao longo da semana se somar à nova mobilização, assim como a Frente Povo sem Medo e coletivos de militância negra.>
Recebidos com certa euforia por setores críticos a Bolsonaro, os manifestos da sociedade civil que buscaram evocar o clima das Diretas Já em contraposição ao presidente decidiram ficar fora da convocação. Os organizadores discordam da realização de atos agora por causa da Covid-19.>
Além disso, a intenção de constituir uma frente ampla contra Bolsonaro, a exemplo da união vista em 1984 em torno do voto direto, teve na segunda-feira (1º) um revés inicial, com a declaração do ex-presidente Lula (PT) de que descartava aderir aos manifestos.>
Ele disse que não é "maria vai com as outras" e que se recusa a marchar ao lado de figuras que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Citou nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que é um dos signatários do Estamos Juntos, assim como o petista Fernando Haddad.>
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