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Publicado em 1 de setembro de 2025 às 15:04
A menopausa é um processo natural, mas cada mulher passa por esse momento de maneira diferente. Para algumas, poucos sintomas, ou até mesmo nenhum, enquanto outras têm sensações bastante incômodas, que afetam seu bem-estar e qualidade de vida. Nestes casos, há opções de tratamento e cuidados para a saúde feminina que podem ser encontrados, inclusive, na rede pública. >
Mas, antes de seguir para o tratamento, será que todo mundo entende bem o que é essa fase na vida de uma mulher? A menopausa é confirmada a partir de um ano após o registro da última menstruação, determinando o fim do período reprodutivo. Precede essa etapa, a perimenopausa, quando o corpo feminino já começa a dar sinais de mudanças decorrentes da diminuição da produção de hormônios. >
A professora da Ufes e ginecologista Neide Boldrini pontua que algumas mulheres têm sintomas muito leves, enquanto outras apresentam sinais de grande intensidade. Dos conhecidos fogachos (ondas de calor) à inabilidade emocional (oscilações do humor, irritabilidade), passando por episódios frequentes de insônia, que podem aparecer antes mesmo da última menstruação, esses sinais podem afetar a qualidade de vida. >
Para lidar com essas condições, uma alternativa pode ser a reposição hormonal, terapia bastante difundida, mas que não se aplica a todas as mulheres. Neide Boldrini explica que é preciso avaliar a elegibilidade da pessoa para se submeter ao tratamento e respeitar a janela de oportunidade — até um ano após a menopausa — para que haja benefícios à paciente. >
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Essa avaliação, que leva em consideração eventuais riscos, deve ser feita por um médico. Mulheres com doenças ou algumas comorbidades, como hipertensão descontrolada ou histórico de câncer, têm restrições. >
"Uma mulher no climatério (transição da perimenopausa à pós-menopausa) deve buscar um serviço de saúde para receber as orientações, porque o tratamento e os cuidados variam conforme o perfil de cada uma", ressalta. >
Adriana Ferreira, 59 anos, mãe e avó, diz que as mulheres precisam ficar atentas aos sinais do próprio corpo. O primeiro a aparecer costuma ser a irregularidade menstrual — muitas vezes desconsiderada por falta de conhecimento. Ela mesma só foi se dar conta após algum tempo e quando muitos outros sintomas já afetavam a sua rotina. Ao buscar informações, e perceber a falta de políticas públicas para essa fase da vida da mulher, tornou-se uma ativista e fundou o Instituto Menopausa Feliz, do qual hoje é a presidente.>
Uma das queixas de Adriana é a falta de especialização entre médicos para lidar com mulheres no climatério para fazer um diagnóstico correto e oferecer a elas as melhores opções de tratamento, nos casos em que há indicação. "Passei por um batalhão de médicos e ninguém acertava o que eu tinha. Fui diagnosticada com fibromialgia, pressão alta, reumatismo", lembra a ativista, acrescentando que, dos cerca de 43 mil ginecologistas no país, nem 20% têm especialidade em menopausa e climatério. >
Por meio do instituto, Adriana está provocando diversas esferas públicas a debater políticas para as mulheres nesta fase. Já promoveu audiências no Congresso Nacional e encaminhou propostas para o Ministério da Saúde. Ela observa que, na saúde feminina, há ações previstas da infância à velhice, mas pouco se discute para aquelas que estão no climatério e menopausa. Conforme levantamentos realizados por ela, há apenas 14 Estados com projetos voltados para esse público — o Espírito Santo está fora dessa lista. E mesmo onde há leis, Adriana percebe pouca efetividade em sua aplicação. >
Procurado pela reportagem de A Gazeta para apontar as estratégias nessa área, o Ministério da Saúde reforça que a perimenopausa não é uma doença, mas uma fase da vida e que, para as orientações sobre cuidados e indicações de tratamento, as mulheres devem procurar uma unidade básica de saúde do município onde residem. >
"O cuidado nessa fase da vida deve considerar as necessidades individuais, os benefícios clínicos, a promoção da saúde e os aspectos sociais, psicológicos e familiares. Caso haja indicação, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferta tratamento hormonal", pontua o ministério, informando que, atualmente, disponibiliza para os municípios os seguintes medicamentos: estrogênio conjugado oral, estrogênios tópicos de uso vaginal, acetato de medroxiprogesterona e noretisterona.>
Além da terapia hormonal, o SUS oferece Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) como fitoterapia, acupuntura, yoga e meditação, além de incentivar a alimentação adequada e saudável e a prática regular de atividade física para promover bem-estar e qualidade de vida.>
O Ministério da Saúde afirma ainda que, em setembro, estará disponível uma formação na modalidade a distância para profissionais da atenção primária, isto é, que atuam nos municípios. O curso vai tratar sobre o acolhimento de mulheres na transição para menopausa e pós-menopausa com aulas de avaliação clínica e diagnóstico, abordagens terapêuticas e cuidados de vigilância.>
Ainda em 2025, para fortalecer essa linha de cuidado, o órgão informa que vai atualizar o manual de atenção à mulher nesta fase. O material traz, entre outras informações, recomendações sobre acolhimento, equidade étnico-racial e diversidade de gênero das populações, aspectos psicossociais, autocuidado e prevenção. Também será disponibilizada a mostra nacional de experiências no SUS de promoção da saúde das mulheres na transição para menopausa e pós-menopausa. >
O atendimento das mulheres na Grande Vitória pode variar conforme os protocolos dos municípios.>
CARIACICA>
Em Cariacica, conforme informações da administração municipal, há consultas individuais com médicos, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos, que realizam o acompanhamento dos sintomas e oferecem orientações sobre alimentação, saúde mental e qualidade de vida.>
"Também são promovidas atividades em grupo e rodas de conversa, que favorecem o compartilhamento de experiências, a escuta qualificada e o fortalecimento do autocuidado. Um exemplo é o Projeto Hortas Solidárias, iniciativa que estimula a integração comunitária, o cuidado com a terra, a troca de mudas e saberes populares, além do uso de ervas medicinais, como hortelã, erva-cidreira e camomila, no preparo de chás e infusões que contribuem para o bem-estar físico e emocional.">
A administração municipal acrescenta que as mulheres têm ainda a possibilidade de participar de grupos de atividade física, que auxiliam no equilíbrio emocional, controle do peso, melhora da qualidade do sono, saúde óssea e cardiovascular. "O município também oferta Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), como auriculoterapia, reiki e meditação, que ajudam na redução do estresse, ansiedade, insônia e outros sintomas associados ao climatério. Quando necessário, há encaminhamento para serviços especializados em ginecologia e saúde mental.">
SERRA>
A Secretaria de Saúde da Serra pontua que o município dispõe de 40 unidades de saúde, que realizam consultas de rotina em todos os ciclos de vida da mulher e possuem profissionais generalistas e ginecologistas capacitados para avaliação e acompanhamento da perimenopausa à pós-menopausa. >
"O atendimento inclui abordagem clínica humanizada em todas as unidades, além da realização de anamnese, exames físicos e laboratoriais, preventivo de câncer de colo do útero, mamografia, ultrassonografia mamária e transvaginal, e, quando indicado, densitometria óssea – esta última realizada pela rede estadual, conforme diretrizes do Ministério da Saúde.">
A secretaria ressalta que também são promovidas ações de saúde e prevenção com foco em alimentação saudável, controle de peso, atividade física, saúde bucal, cuidados com a pele e autocuidado. A atenção se estende à saúde reprodutiva, prevenção e tratamento de doenças sexualmente transmissíveis e agravos comuns nesse período, como hipotireoidismo, doenças cardiovasculares, hipertensão, obesidade, diabete e alterações urogenitais. Além disso, estão disponíveis terapias hormonais e medicamentosas e atenção psicossocial. >
VILA VELHA>
A Secretaria de Saúde de Vila Velha observa que as unidades básicas são a porta de entrada para o atendimento inicial às mulheres. "No caso do climatério, o médico da Estratégia Saúde da Família (ESF) realiza o atendimento, solicita os exames laboratoriais e complementares necessários e, conforme a complexidade do caso, pode conduzir o tratamento ou encaminhar para o ginecologista da rede municipal. >
O município dispõe de um ginecologista especialista em climatério, assegurando, segundo a secretaria, um cuidado qualificado e humanizado às mulheres nessa etapa da vida. De 2024 até o primeiro semestre de 2025, foram atendidas 435 mulheres com esse perfil em Vila Velha.>
VITÓRIA >
A Secretaria de Saúde de Vitória (Semus) destaca que realiza atendimento e tratamento multidisciplinar nas unidades de saúde, incluindo apoio psicológico, orientação sobre alimentação, incentivo à prática de atividades físicas nos módulos do Serviço de Orientação ao Exercício (SOE), consulta com ginecologista, medicamento de reposição hormonal de mulheres na menopausa/climatério e para osteoporose e também Práticas Integrativas e Complementares do SUS (PICS).>
Além disso, o município oferta exames especializados, como densitometria óssea, mamografias, ultrassonografia, que fazem parte de uma rotina de protocolo para mulheres nesta fase.>
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