Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 10:03
SÃO PAULO - A ministra do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia, afirmou nesta segunda-feira (8) que o Judiciário ainda é conservador, machista e sexista.>
"É preciso que a gente, cada vez mais, tenha ciência e sensibilidade para saber que nós temos mulheres de notável saber jurídico, com reputação elevada, e que querem, podem e devem contribuir para uma perspectiva verdadeiramente democrática e igualitária no Judiciário e no Supremo Tribunal Federal", afirmou a ministra ao receber a homenagem do ano do Prêmio Todas 2 Folha/Alandar.>
Na celebração, ela foi lembrada que atualmente é a única mulher no STF e, em toda a história do Brasil republicano, está entre as três representantes femininas. Além de Cármen Lúcia, também integraram a corte as ministras Ellen Gracie e Rosa Weber, já aposentadas.>
Apesar de celebrar uma reunião composta majoritariamente por mulheres, com "imprensa livre e empresas comprometidas", a ministra ressaltou as injustiças contra mulheres e a escalada de feminicídios.>
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"No dia da Justiça, as injustiças contra mulheres no Brasil atingiram patamares que não é só de contrariedade ao direito, é de desumanidade, falta de civilidade, de indignidade", disse a ministra.>
Cármen Lúcia
Ministra do STF"Neste ano, são quase 700 crianças órfãs e muitas delas viram seus pais, seus padrastos, companheiros das suas mães, mutilarem ou matarem na frente delas. Isto é, como eu disse, a negação da civilização. Isto é ato de barbárie".>
Em discurso em que tentava ser positiva pelo reconhecimento do trabalho das mulheres, a ministra elencou ainda outras injustiças na representação feminina. Ela lembrou que as cotas foram criadas nos anos 1960 para minorias, mas as mulheres, que são 52% do eleitorado brasileiro, ainda são pouco representadas no Congresso.>
"Nós temos a pior representação no Congresso Nacional em termos de números. Em termos de quantidade, nós somos uma das piores representações nas Américas", disse a ministra. Ela parafraseou o poeta Carlos Drummond de Andrade em comentário sobre o caso de Ângela Diniz. "Aquela moça continua sendo assassinada todo dia e de diferentes maneiras".>
Carmén Lúcia falou ainda sobre a subrepresentação na tecnologia, tema do Prêmio Todas 2 deste ano, uma parceira da Folha de S.Paulo com a consultoria Alandar. "Acabamos de fazer uma das fases de auditagem das urnas eletrônicas e, das quase 140 propostas que apresentaram nesse ano, tinham apenas 13 mulheres", disse.>
Presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no biênio 2024-2026, a ministra ressaltou a necessidade da imprensa livre durante as eleições do próximo ano e lamentou as fraudes nas cotas de gênero. Na homenagem, ela foi reconhecida por sua trajetória pública marcada pela defesa da democracia, igualdade e cidadania. "É preciso que nós continuemos juntas e, se há muitas lágrimas e muitas feridas a curar, é urgente que a gente faça isso juntas", disse.>
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