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Publicado em 11 de setembro de 2021 às 19:37
A violência doméstica afeta diretamente a saúde mental e física de mulheres agredidas, inclusive no desempenho de suas atividades profissionais. E se elas puderem contar com o apoio da empresa onde trabalham, os efeitos podem ser bem mais amenos. Desta maneira, o medo e a vergonha poderão dar lugar à coragem de se livrar dos abusos e seguir em frente. Organizações no Espírito Santo estão sensíveis ao tema e colocaram em pauta serviços de amparo às suas colaboradoras que vão desde workshops a atendimento psicológico, sempre pensando no bem-estar de suas funcionárias. >
Na Unimed Vitória, por exemplo, 75% do quadro de colaboradores é composto por mulheres. A cooperativa médica tem um movimento, chamado Por Todas, voltado para as funcionárias e que todos os meses trabalha um tema sobre o universo feminino. A iniciativa começou em 2020 e, em abril deste ano, os responsáveis pelo programa entenderam que também era importante falar com aquelas que eram vítimas de violência doméstica. >
Segundo a gerente de RH da Unimed Vitória, Karla Rampazzo, foi lançada uma campanha ressaltando que a trabalhadora não está sozinha e pode contar com uma rede de ajuda, por meio do Núcleo de Atendimento ao Colaborador e o movimento Por Todas. “Os atendimentos podem ser feitos por telefone ou presencialmente. Pensamos no aspecto social do trabalhador. Se ele está bem em casa, vai estar bem para trabalhar”, comenta.>
A campanha “Me amarei e me cuidarei de janeiro a janeiro” da Viação Águia Branca tem como objetivo zelar pela a saúde mental de seus colaboradores. Assim como na Unimed, a iniciativa foi implantada há um ano, com o objetivo de incentivar os funcionários a terem coragem e confiança de conversar com a empresa sobre tudo aquilo que lhes traga dor. >
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MEDIDAS PROTETIVAS DISTRIBUÍDAS PELA JUSTIÇA DO ES
“O canal é aberto para que as pessoas possam compartilhar seus problemas. Para o caso das mulheres, é possível abordar questões relacionadas à agressão física e psicológica, por exemplo. Acreditamos que este espaço serve como um impulso para que as pessoas se relacionem melhor dentro e fora do ambiente corporativo, além de conscientizar sobre questões relacionadas ao respeito em casa e em suas relações”, destaca a gerente de pessoas e processos da Viação Águia Branca, Fernanda Peroba. >
Além disso, a empresa tem um comitê que discute questões relacionadas às mulheres e conta com a participação da gerente e da CEO da companhia, Paula Barcellos Tommassi Corrêa. O trabalho consiste de uma vertente importante de atendimento psicossocial das funcionárias. >
Na campanha do Agosto Lilás, em comemoração ao combate à violência contra a mulher, o tema escolhido pela Águia Branca foi: excesso só o amor! A iniciativa divulga os canais internos de atendimento e convida a todos a discutirem assuntos relacionados ao enfrentamento das mais diversas formas de violência.>
Fernanda Peroba
Gerente de pessoas e processos da Viação Águia BrancaOrientação psicológica, financeira e jurídica, 24 horas por dia aos colaboradores e familiares faz parte do programa “Conte Comigo” da Eco101, desenvolvido por todas as unidades do grupo EcoRodovias. O benefício é disponibilizado a partir da parceria da concessionária com a Alelo. Para ter acesso, basta o funcionário ligar para um número do 0800, a ligação é gratuita.>
De acordo com a concessionária, a vítima de violência doméstica pode contar com orientação psicológica para superar este momento de dor, orientação jurídica como forma de auxílio e ainda orientação financeira para recomeçar sua vida.>
Além do programa “Conte Comigo”, a Eco101 realiza, por meio do Programa Caminhos para Todos, voltado à diversidade & inclusão, uma série de iniciativas que incluem palestras com temas sobre violência contra mulher e outros relacionados. Os eventos estão sendo feitos de forma virtual e tem o propósito de instruir as pessoas sobre o tema.>
Já a Aegea, que atua no ramo de saneamento no Espírito Santo, implantou o programa Maria da Penha vai às Empresas nas unidades Ambiental Vila Velha, Serra e Cariacica. A iniciativa é do Tribunal de Justiça do Estado (TJES) que busca levar ações de conscientização até as organizações que tenham interesse em abordar a violência doméstica com seus colaboradores. >
A coordenadora de RH da Ambiental Serra e Vila Velha, Larissa Leal, explica que a parceria com o Poder Judiciário capixaba começou no final de 2019. Primeiramente, foi feita uma abordagem com as lideranças das equipes para disseminar o assunto de forma coordenada com os colaboradores de cada setor. >
Larissa Leal
Coordenadora de RH da Ambiental Serra e Vila VelhaAlém disso, a empresa utiliza os canais de comunicação internos para trazer à tona com frequência o tema da violência contra a mulher. Por meio destas mensagens, a ideia é estimular a colaboradora nessa situação a procurar ajuda do RH ou do canal de ética, e a companhia ainda oferece apoio para quem quer sair do ciclo de violência. >
Outra iniciativa é estimular os colaboradores a informarem a empresa caso saibam de alguma colega, liderança ou subordinada que esteja submetida a uma situação de violência, que pode ser física, psicológica, moral, patrimonial ou sexual. >
Há ainda, na Aegea, o Programa de Apoio e Aconselhamento (Papo) oferecido a todos os colaboradores e familiares por meio de um 0800. O atendimento garante um suporte nas áreas financeira, jurídica, social e psicológica. >
O Núcleo de Atendimento à Mulher (NAM), da Universidade Vila Velha (UVV), trabalha para que mulheres que vivenciaram ou que tenham passado por qualquer tipo de violência doméstica recebam, gratuitamente, apoio jurídico e psicológico. A iniciativa conta com o apoio do curso de Direito e do Núcleo de Práticas Jurídicas (Nuprajur) da instituição. >
Além de amparo legal e emocional, o núcleo trabalha para que as mulheres atendidas também recebam orientações de como desenvolver habilidades que as tornem capazes de gerar sua própria renda e tornarem-se independentes dos homens agressores. O atendimento é aberto às mulheres da comunidade e também para colaboradoras e alunas da instituição. >
“Com o atendimento jurídico, é possível obter apoio para o divórcio e pensão alimentícia, por exemplo. Há ainda o atendimento psicológico como forma de acolhimento. Por conta da pandemia, houve uma redução na demanda no ano passado. Atribuímos a isso a dificuldade das mulheres saírem de casa, o que dificulta a procura por ajuda”, declara a professora orientadora do NAM, Hosana Leandro de Souza Dall'Orto. >
A pandemia do novo coronavírus fez aumentar consideravelmente os índices de agressões contra as mulheres, como destaca a juíza e coordenadora estadual de Tratamento de Violência Doméstica do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, Hermínia Azoury. >
“O isolamento social tem sido um grande desafio para quem trabalha no enfrentamento da violência, pois muitas vítimas estão confinadas com o agressor sem poder sair de casa. Algumas delas, inclusive, enfrentam um difícil cárcere privado. Neste período, tivemos que reinventar as políticas públicas de suporte a essas vítimas, buscar alternativas de apoio para atendimento psicológico, por exemplo”, comenta a magistrada.>
Para muitas mulheres, a dependência econômica e financeira são fatores que fazem com que elas permaneçam em uma relação abusiva. É bom lembrar que qualquer pessoa pode denunciar as agressões, até mesmo os vizinhos, por meio do telefone 180. >
“Muita gente acredita que a agressão é só física, mas a psicológica é ainda pior, pois a agredida fica com baixa estima e depressão e até deixam de trabalhar. Há ainda a violência moral e sexual até chegar ao extremos, que é o feminicídio. Certa vez, durante um estudo, questionei em uma empresa se após feriado ou final de semana era maior o número de faltas entre as trabalhadoras. Os efeitos podem ser devastadores”, destaca.>
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