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“Não sabíamos do relatório”, diz vice-prefeito de Iconha sobre alerta de 2011

“Não sabíamos do relatório”, diz vice-prefeito de Iconha sobre alerta de 2011

O relatório do Serviço Geológico Nacional de 2011, do governo federal, informava sobre as áreas de risco do Espírito Santo, incluindo o município de Iconha

Publicado em 24 de janeiro de 2020 às 14:24

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Imagens de drone de Iconha após a enchente. (Marcel Alves)

O vice-prefeito de Iconha, Mauri Monteiro, afirmou nesta sexta-feira (27), sete dias após a grande enchente que devastou o município, que nunca tiveram conhecimento sobre o relatório do governo federal, por meio do Serviço Geológico Nacional, que alertava sobre as áreas de risco na cidade.

“Esse trabalho foi feito em 2011 e, de lá para cá, o governo mudou e pode ter se perdido, porque não temos conhecimento desse trabalho. Desde o início da gestão, eu nunca ouvi falar desse relatório e fiquei sabendo, agora, por infelicidade dessa tragédia. São sete dias na lama, sofrendo, não é brincadeira não”, disse Mauri.

Agora, o vice-prefeito fala em recuperar o material, tomar conhecimento do que realmente precisa ser feito, e dar os novos direcionamentos, considerando que o município todo pode ser considerado área de risco.

“Quando se fala de risco em Iconha, o município todo é de risco. Estamos na beira do rio, ou estamos no morro. Agora é a hora, mais do que nunca, de retomar o relatório e fazer esse trabalho. O relatório deve estar guardado em algum lugar e depois de ter acesso, vamos chamar os governos estadual e federal e ver o que pode ser feito”, afirmou.

Desde 2011, Mauri acredita que nenhuma foi feita na cidade para evitar uma tragédia como essa. “Não sei o que aconteceu, nem por que as pessoas não foram dando continuidade a esse trabalho para ter evitado essa catástrofe. Mas, infelizmente, não foi feito e agora é preciso pensar diferente e procurar uma solução. Talvez fazer como em algumas cidades do Rio de Janeiro, que tem o sistema de compotas para segurar a água para que não desça com muita velocidade, como veio dessa vez.”

O vice-prefeito explicou que as equipes não tiveram tempo de planejar futuras ações de caráter preventivo. “Hoje faz sete dias nessa luta, nós não temos tempo nem de sentar e chorar, temos que chorar em pé e trabalhar. Depois, temos que correr atrás para tentar mudar a realidade daqui para frente. É muito sofrimento, não é fácil não", desabafou.

RETIRADA DE CONSTRUÇÕES ÀS MARGENS DO RIO

Sobre uma possível retirada de construções às margens do rio, incluindo diversas residências, ainda não se sabe como será conduzido todo o processo de desapropriação. “Não sabemos se era para ter retirado casas da beira do rio ou se era para fazer compotas nas cabeceiras com sistema de barragens. A cidade é uma área de risco total. É preciso estudar de novo e procurar ajuda, porque uma prefeitura pequena não tem condição de fazer um trabalho tão grande como esse.”

Ele ressaltou também que todas as construções são antigas e não tem para onde levar as residências. “Tem que ter um lugar para essas casas da beira do rio. Iconha tem 100 anos e tem 100 anos que essas casas estão lá, hoje, a secretaria de meio ambiente tem esse cuidado de não deixar construir mais. É uma situação difícil”, ressaltou.

O QUE PRECISA SER FEITO, SEGUNDO O RELATÓRIO

Localidade Jardim da Ilha (Ilha das Flores)

Problemas:

  • Há blocos na encosta, sendo necessária a avaliação da possibilidade de queda e rolamento desses blocos e risco de atingir as residências

O que precisa ser feito:

  • Obras de melhorias na infraestrutura urbanística, como, saneamento básico, pavimentação de ruas, impermeabilização adequada dos terrenos, implantação de sistema eficiente de drenagens de águas pluviais
  • Obras de drenagens de crista em taludes de corte, com projeto e acompanhamento de profissionais habilitados
  • Implantação de políticas de controle institucionais, no sentido de limitar intervenções e obras em regiões de encosta e áreas de risco
  • Conscientização da população sobre os riscos de construções feitas de forma incorreta e sem conhecimento técnico
  • Monitoramento periódico das áreas de risco a deslizamento de solo, das trincas e dos processos erosivos

Rio Iconha

  • São 2.160 pessoas e 432 residências, comércios, uma creche, um hospital, escola, ginásio de esportes E delegacia em área de risco

Problemas:

  • Área de inundação pelo Rio Iconha. A subida da água é rápida, levando cerca de uma hora, e a descida um pouco mais lenta, indo de 2h a 3h
  • Descarte de lixo e entulhos nas margens do rio e de esgoto em boa parte da extensão do rio

O que precisa ser feito

  • Obras de melhorias na infraestrutura urbanística, como pavimentação de ruas
  • Implantação de sistema eficiente de drenagens de águas pluviais para aumentar a velocidade de escoamento para fora da área de inundação
  • Implantação de sistema de coleta e tratamento de esgoto para evitar o descarte irregular nos rios
  • Políticas de controle urbano para evitar construções e intervenções inadequadas em áreas de inundação
  • Adequação de pontes e tubulações para permitir uma passagem do fluxo de água sem pontos de represamento
  • Implantação do sistema de alerta para chuvas anômalas, para que os moradores possam ser removidos temporariamente do local com antecedência
  • Recuperação da mata ciliar onde possível; Implantação de marcadores de nível d’água dos rios em diversos pontos do município, para auxiliar no alerta de cheias
  • Conscientização ambiental quanto ao descarte de lixo e entulho nos rios, bem como as consequenciais destes atos

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