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Chuvas no ES: entenda como a tragédia poderia ter sido evitada

Chuvas no ES: entenda como a tragédia poderia ter sido evitada

Relatório do governo federal  aponta quais eram os principais problemas nas áreas de risco e ainda dava recomendações ao poder público sobre o que deveria ser feito para evitar futuros desastres. Confira o raio x de cada município

Publicado em 23 de janeiro de 2020 às 21:20

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Prédio atingido pela enchente e condenado: ocupação irregular do Rio Iconha . (Fernando Madeira)

Os municípios de IconhaVargem Alta e Alfredo Chavesque foram devastados com as chuvas que atingiram o Sul do Estado no último fina de semana, possuem, juntos, 13. 332 moradores em área de risco e 2.591 imóveis localizados nestas regiões. As informações são do governo federal, por meio do Serviço Geológico do Brasil, que desde 2011 emite alerta sobre as áreas de risco no Espírito Santo. Segundo especialista, o problema é complexo, mas poderia ter sido evitado. 

As informações, que foram dadas em primeira mão pela coluna Leonel Ximenes, mostram que os relatórios apontam quais eram os principais problemas nas áreas de risco e ainda davam recomendações ao poder público sobre o que deveria ser feito para evitar futuros desastres. 

Somente em Alfredo Chaves, são 8.100 pessoas e 1.395 imóveis em áreas de risco. Já em Iconha são 2.810 moradores e 562 imóveis. Em Vargem Alta,  são 2.422 habitantes e 634 imóveis.

Comunidade Morro do Sal, zona rural de Vargem Alta, foi atingida pela chuva. (Fernando Madeira)

O professor do departamento de engenharia ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo e pós-doutor em engenharia de Recursos Hídricos, Antônio Sérgio Ferreira Mendonça, acredita que os desastres causados já eram uma tragédia anunciada e podem continuar a ocorrer se o poder público não priorizar assuntos relacionados às áreas de risco e as pessoas continuarem construindo nessas regiões.

O professor acrescenta que vários municípios têm Plano Diretor de Drenagem Urbana, que se colocados em prática evitariam muitos danos, uma vez que ele traça metas a serem feitas a curto, médio e longo prazo. No entanto, os documentos não são executados e são feitos apenas para garantir que as cidades consigam verba do Governo Federal.

Segundo Antônio Sérgio, é importante que o poder público pense em medidas estruturais, como diques, sistema de bombeamento de água, galerias de águas fluviais. E também em medidas não estruturais como mapear áreas de inundação e deslizamento de encosta e impedir que ela seja habitada de forma ilegal. Somente assim será possível reduzir as chances de novas tragédias acontecerem.

“É um assunto complexo de ser resolvido, eu acredito que o principal ponto é ampliar a fiscalização para evitar ocupações em área de risco, como nas margens dos rios, para evitar a ampliação do problema. Isso porque a partir do momento que a população já está na região, a solução se torna mais cara e acaba ficando sob a responsabilidade do poder público, como a construção de diques”, disse.

No entanto, Antônio Sérgio esclarece que o problema das enchentes e das inundações não são recentes. Eles começaram a se formar há décadas, quando as pessoas começaram a construir suas casas às margens dos rios ou próximo de encostas.

“Grande parte das cidades nasceu na beira dos rios porque não havia estradas e a locomoção era por dentro dele. Por causa disso, os leitos dos rios ficaram menores e ele acaba não tendo capacidade transportar todo o volume de água que vem da bacia, inundando as margens”, explicou.

RAIO X DE ALFREDO CHAVES

Moradores se unem para limpar Alfredo Chaves após as chuvas. (Reprodução / TV Gazeta)

BAIRRO JARDIM CAJÁ

São cinco mil pessoas e mil imóveis em área de risco

Problema 

A maior parte  das casas foi construída sem nenhum conhecimento técnico, causando instabilidade da encosta. Outros problemas que aumentam os riscos de deslizamentos de solo são a ausência de drenagens eficientes para escoamento de águas pluviais e a existência de diversas bananeiras. 

O que precisa ser feito

  •  Demolição das casas condenadas.
  • Obras de drenagem das águas pluviais
  • Conscientização da população sobre os riscos de construções do tipo corte-aterro feitas de forma incorreta e sem conhecimentos técnicos na região;
  • Implantação de políticas de controle urbano para inibir futuras construções e ocupações em áreas de risco;
  • Formação de líderes comunitários para apoiar a Defesa Civil Municipal e palestras visando uma conscientização ambiental e em relação às áreas de risco do município;
  • Instalação de pluviômetros para monitoramento e alerta em alguns pontos estratégicos do município.

Centro de Alfredo Chaves tomado pela água. (Foto do leitor)

MARGEM DO RIO BENEVENTE

São 500 pessoas e 100 imóveis em área de risco

Problema 

 Ocorrência  de inundações  nas  fortes chuvas, sendo que o retorno da água até seu nível normal pode levar de um a quatro dias. Foram relatadas grandes cheias nos anos de 1983 e 1988, porém dados concretos sobre sua extensão não foram obtidos. 

O que precisa ser feito

  • Vistorias constantes na usina hidroelétrica; 
  • Troca da passarela de madeira por estrutura metálica; 
  •  Estudo hidrológico para apontar medidas estruturais, tais como: desassoreamento de trechos do leito do rio;
  • Implantação de sistema de monitoramento e alerta para evacuação nos eventos de cheias do rio; 
  • Vistorias sistemáticas de engenharia nas estruturas das residências construídas nas margens do rio; 
  • Implantação de políticas de controle urbano para evitar construções e ocupações em áreas de proteção permanente (APP); 
  • Instalação correta de réguas em toda a extensão do rio, para registro e controle das enchentes e inundações; 
  • Coleta de lixo adequada, educação sanitária,  ambiental e mudança de eventuais áreas deste tipo de trabalho das margens do rio.

BAIRRO IPANEMA

São  100 pessoas e 20 imóveis em área de risco

Problemas 

Ausência da fiscalização ou técnicas para se conter a erosão do solo, bem como obras residenciais sem sistema de drenagem adequados e com as construções apoiadas em taludes. O risco nesta região é de grandes deslizamentos, que podem levar a interdição da rodovia ES 146. 

O que precisa ser feito

  • Obras de contenção adequadas ao longo das  encostas; 
  • Conscientização da população sobre os riscos de construções do tipo corte-aterro feitas de forma incorreta e sem conhecimentos técnicos, maior fiscalização.
  • Construção de sistemas de drenagem das águas pluviais e  servidas na crista e base do talude, principalmente nas residências para  se evitar maior infiltração de água e acelerar o processo; 
  • Implantação de políticas de controle urbano para inibir futuras construções e ocupações em áreas de risco;
  • Formação de líderes comunitários para apoiar a Defesa Civil Municipal e palestras visando uma conscientização ambiental e em relação às áreas de risco do município; 
  • Instalação de pluviômetros para monitoramento e alerta em alguns pontos estratégicos do município.

MORRO DA CAIXA D´ÁGUA 

São 1.250 pessoas  e 25 imóveis em área de risco 

Problemas 

Encosta com indícios de movimentação de massa, cercas inclinadas , pavimento de paralelepípedos da via deslocados, postes levemente inclinados e o aparecimento de porções rochosas . 

O que precisa ser feito

  • Remoção das casas em risco eminente e sem sistema de drenagem;
  • Obras de contenção adequadas ao longo das  encostas;
  • Construção de sistemas de drenagem das águas pluviais e  servidas na crista e base do talude; 
  • Implantação de políticas de controle urbano para inibir futuras construções e ocupações em áreas de risco;
  • Formação de líderes comunitários para apoiar a Defesa Civil Municipal, palestras visando uma conscientização ambiental e em relação às áreas de risco do município; 
  • Instalação de pluviômetros para monitoramento e alerta em alguns pontos estratégicos do município.

Moradores se unem para limpar Alfredo Chaves após as chuvas. (Reprodução / TV Gazeta)

BAIRRO CACHOEIRINHA

São 550 pessoas e 110 imóveis em área de risco 

Problemas 

Há um grande risco de ocorrência de deslizamento de solo. Há ainda uma área onde existe um grande número de blocos rochosos, alguns soltos e outros ainda encobertos e correm  risco de rolamento. Como as casas estão próximas ao rio Benevente, em caso de deslizamento ou rolamento de blocos, o rio pode ser barrado, piorando o problema de inundação no município. Outro problema no bairro é a ausência de drenagens adequadas para escoamento de águas pluviais.

O que precisa ser feito

  • Conscientização da população sobre os riscos de construções feitas de forma incorreta e sem conhecimentos técnicos; 
  • Obras de contenção adequadas ao longo das  encostas;
  • Construção de sistemas de drenagem das águas pluviais e  servidas na crista e base dos taludes; 
  • Implantação de políticas de controle urbano para inibir futuras construções e ocupações em áreas de risco;
  • Formação de líderes comunitários para apoiar a Defesa Civil Municipal e palestras visando uma conscientização ambiental e em relação às áreas de risco;
  • Instalação de pluviômetros para monitoramento e alerta em alguns pontos estratégicos do município.

BAIRRO SIRIBEIRA

São 700 pessoas e 140 imóveis em área de risco

Problemas 

Encosta com risco de deslizamentos de solo, principalmente devido às construções irregulares e pela ausência de sistema de drenagem das águas pluviais adequadas. 

O que precisa ser feito

  • Demolição da residência irregular e desabitada;
  • Remoção das casas em risco eminente na rua Osias Pedro de Sena;
  • Obras de contenção adequadas ao longo das  encostas;
  •  Conscientização da população sobre os riscos de construções do tipo corte-aterro feitas de forma incorreta; 
  • Construção de sistemas de drenagem das águas pluviais e  servidas na crista e base do talude;
  • Escadas hidráulicas que permitam o deslocamento dos moradores e que encaminhem as águas de chuva de forma adequada; 
  • Implantação de políticas de controle urbano para inibir futuras construções e ocupações em áreas de risco;
  • Formação de líderes comunitários para apoiar a Defesa Civil Municipal e palestras visando uma conscientização ambiental e em relação às áreas de risco do município;
  • Instalação de pluviômetros para monitoramento e alerta em alguns pontos estratégicos do município; 

RAIO X DE ICONHA

A bandeira de Iconha e do Espírito Santo atingidas pela lama: mobilização para ajudar as vítimas das chuvas. (Fernando Madeira)

JARDIM DA ILHA (ILHA DAS FLORES)

Problemas 

Há blocos na encosta, sendo necessária a avaliação da possibilidade de queda e rolamento destes blocos e risco de  atingir as residências. 

O que precisa ser feito

  • Obras de melhorias na infraestrutura urbanística, como, saneamento básico, pavimentação de ruas, impermeabilização adequada dos terrenos, implantação de sistema eficiente de drenagens de águas pluviais;
  •  Obras de drenagens de crista em taludes de corte, com projeto e acompanhamento de profissionais habilitados; 
  •  Implantação de políticas de controle institucionais, no sentido de limitar intervenções e obras em regiões de encosta e áreas de risco; 
  •  Conscientização da população sobre os riscos de construções feitas de forma incorreta e sem conhecimento técnico; 
  •  Monitoramento periódico das áreas de risco a deslizamento de solo, das trincas e dos processos erosivos.

RIO ICONHA

Chuvas deixam rastro de destruição em Iconha, no Sul do Espírito Santo. (Fernando Madeira)

São 2.160 pessoas e 432 residências, comércios, uma creche, um hospital, escola, ginásio de esportes e  delegacia em área de risco

Problemas 

Área de inundação pelo Rio Iconha, a  subida da água é rápida, levando cerca de uma hora, e a descida um pouco mais lenta, levando de 2h a 3h. Descarte de lixo e entulhos nas margens do rio e descarte de esgoto em boa parte da extensão do rio. 

O que precisa ser feito

  • Obras de melhorias na infraestrutura urbanística, como pavimentação de ruas e implantação de sistema eficiente de drenagens de águas pluviais para aumentar a velocidade de escoamento das águas para fora da área de inundação;
  • Implantação de sistema de coleta e tratamento de esgoto a fim de se evitar o descarte irregular nos rios; 
  •  Implantação de políticas de controle urbano para evitar construções e intervenções inadequadas em áreas de inundação; 
  •  Adequação de pontes e tubulações a fim de se permitir uma passagem do fluxo de água sem pontos de represamento; 
  • Implantação do sistema de alerta para chuvas anômalas, para que os moradores possam ser removidos temporariamente do local com antecedência; 
  • Recuperação da mata ciliar onde possível; Implantação de marcadores de nível d’água dos rios em diversos pontos do município, para auxiliar no alerta de cheias; 
  •  Conscientização ambiental quanto ao descarte de lixo e entulho nos rios, bem como as conseqüenciais destes atos.

RAIO X DE VARGEM ALTA

MORRO DO SAL

São 500 pessoas e 140 imóveis em área de risco

Problemas 

As casas, construídas no leito e nas margens do Rio Novo estão sujeitas a sérios danos durante as cheias. Em alguns pontos, a mobilização de materiais terrosos e blocos de rocha provenientes das encostas, pode atingir algumas casas e também causar o represamento do curso do rio, gerando inundação e muitos danos. 

O que precisa ser feito

  • Remoção de  casas, em situação de maior risco, construídas no leito e nas margens do rio Novo.  
  • Paralisação das atividades de lavra e recuperação da área degradada.

CASTELINHO

São 400 pessoas e 100 residências em área de risco 

Problemas 

Planície de inundação do rio Fruteiras, afluente do rio Itapemirim, com várias casas construídas no leito e nas margens do rio. Todos os anos, nos períodos de cheias, o nível das águas atinge até mais de um metro de altura nas casas. O grande volume de água e a energia com que ela se desloca pelo canal do rio, aliado à vulnerabilidade das casas, potencializam uma grande destruição nessa área, no caso de uma grande cheia .  

O que precisa ser feito

  • Dragagem e limpeza do canal do rio e retirada dos pontos de estreitamento. 
  • Remoção das casas consideradas em situação de maior risco. 

Comunidade Morro do Sal, zona rural de Vargem Alta, foi atingida pela chuva. (Fernando Madeira)

VILA MARIA

São 1.350 pessoas e 348 imóveis em área de risco  

Problemas 

Área no distrito de Castelinho, situada nas margens do rio Fruteiras, com várias casas construídas no leito e nas margens do rio. Durante as cheias, o nível das águas alcança até um metro de altura nas casas. O grande volume de água e a energia com que ela se desloca pelo canal fluvial,  aliado à vulnerabilidade das construções, potencializam uma grande destruição nessa área, no caso de ocorrer uma cheia de grandes proporções. 

O que precisa ser feito

  • Retirada das casas, consideradas em situação de risco, construídas no leito e nas margens do rio Fruteiras, bem como a limpeza e aprofundamento do canal.

VILA FARDIM

São 132 pessoas e 32 imóveis em área de risco 

Problemas 

Área situada às margens do Rio Novo, com várias casas construídas no leito e nas margens do rio. Durante as cheias, as águas atingem até um metro de altura dentro das casas. O grande volume de água e a energia com que ela se desloca pelo canal do rio, aliado à vulnerabilidade das construções, possibilitam a ocorrência de grandes danos nessa localidade, no caso de uma cheia de grandes proporções . 

O que precisa ser feito

  • Dragagem do rio;
  • Retirada das casas em situação de risco.

Chuvas deixam rastro de destruição em Iconha, no Sul do Espírito Santo. (Fernando Madeira)

VILA DAS PALMEIRAS

São 40 pessoas e 13 imóveis em área de risco 

Problemas 

Encosta com cobertura de solo superior a dez metros, onde já ocorreu um deslizamento que atingiu os fundos de uma casa. Além da presença de blocos de rocha e de pontos onde a água brota do terreno. 

O que precisa ser feito

  • Realização da obra de contenção programada pela prefeitura, e drenagem de toda a encosta.

Escolas e veículos que transportam estudantes ficaram destruídos em Vargem Alta(Fernando Madeira)

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