
Após passar por cursos com o Renova BR, tendo como uma de suas principais bandeiras o empreendedorismo, Thiago Carreiro (Cidadania), de 32 anos, é o vice na chapa eleita de Sergio Vidigal (PDT), que vai voltar a comandar a Prefeitura da Serra em 2021. Além de empresário, Carreiro já teve passagens pelo Conselho de Segurança de Jacaraípe, tentou uma vaga na Assembleia Legislativa em 2018 e era pré-candidato a vereador quando aceitou o convite de Vidigal para ser vice.
Em 2018, Carreiro teve 3.395 votos e não conseguiu uma cadeira como deputado estadual. Candidatou-se no mesmo ano ao processo seletivo para o Renova BR e foi aceito. Estudou políticas públicas e, na onda das correntes de inovação e do empreendedorismo, fez parte do Livres e do Líderes do Amanhã. Mesmo participando de movimentos que buscam, em tese, renovar a política, Thiago aceitou o convite do já veterano Vidigal para participar da gestão na Serra e quer levar esses conceitos para a administração.
Na campanha e, principalmente, nos debates, houve um confronto ácido entre Sergio Vidigal e Fabio Duarte, candidato apoiado pelo prefeito Audifax Barcelos. Esse clima pode atrapalhar a transição?
Do nosso lado, a gente coloca a cidade acima de qualquer questão pessoal. Eu não sei o que a gente pode esperar do lado de lá. Espero que eles também coloquem a cidade em primeiro lugar, para uma transição responsável.
Mas já houve alguma conversa entre o grupo de Vidigal e o de Audifax sobre a transição?
A parte de cá, já na segunda-feira (30), começou o planejamento de transição, escolher uma equipe independente dos secretários, para fazer uma passagem bem profissional e não política. Do lado de lá, ainda não houve uma sinalização.
Essa transição vai ser dificultada de alguma forma?
Estamos falando da maior cidade do Espírito Santo, em população, e que tem muitos desafios. O que a gente espera é responsabilidade. Se não for uma transição responsável, com certeza vai dificultar a prestação de serviços à população. Mas a gente espera que seja uma transição responsável da outra parte.
O senhor disse em algumas entrevistas que pretende ser um vice-prefeito atuante. Mas como será a sua atuação específica na transição?
Eu estou muito feliz, porque primeiro a minha geração chegou agora ao Executivo. Tenho 32 anos e estou aqui com vontade de contribuir com a cidade com as minhas ideias e formação. Sou formado em administração e em tecnologia da informação. Fui aluno do Renova BR, inclusive participarei no início de dezembro agora de alguns cursos de transição política deles.
Por que o senhor avalia que foi escolhido por Vidigal, um político com longos anos de carreira, para ser candidato a vice?
Quando recebi o convite, fui conversar com família, amigos e apoiadores porque eu já estava me preparando para a candidatura de vereador. Quando veio o convite foi um susto bom. Mas eu pensei na cidade e na possibilidade de contribuir com a Serra. A minha formação é mais para o Executivo do que para o Legislativo. Então, essa vontade de fazer me motivou muito. Quando recebi o convite de Sergio, vi que poderia contribuir para a Serra. Eu fui convidado para ser vice de outro candidato também.
Quem?
Acho que não vale a pena comentar.
"Estou aqui para aprender com Sergio Vidigal. A cidade o escolheu justamente pela capacidade, experiência e competência, então estou aqui para ajudar onde for preciso"
O senhor já disputou uma eleição em 2018 como deputado estadual e, em 2020, era pré-candidato à Câmara Municipal da Serra, certo?
Me candidatei a deputado estadual para saber como era uma eleição, porque já tinha vontade de ser um representante. Comecei a participar de movimentos para melhorar meu bairro e minha cidade. Fui eleito presidente da associação comercial e do conselho de segurança de Jacaraípe. Se a gente quer fazer alguma coisa, a gente tem que entrar na política. Tive 3.395 votos em 2018, aprendi o que era uma eleição e isso me motivou a disputar a eleição para vereador em 2020. Fiz essa caminhada me preparando. Passei no Renova BR e fui estudar política pública em São Paulo com os melhores secretários do Brasil. Vi várias práticas que fizeram a diferença em muitas cidades.
A violência é a principal reclamação dos moradores da Serra, de acordo com pesquisa Ibope realizada no município. Por mais que as gestões tenham evoluído na questão, a falta de segurança ainda é muito presente. Sua loja mesmo já foi assaltada três vezes em um ano. O que trazer então de diferente para, de fato, melhorar a segurança pública na Serra?
Nós temos duas frentes para poder avançar. Uma é combater os efeitos da violência, estruturando e valorizando a Guarda Municipal. Hoje eles trabalham muito, com índice semelhante ao de Vila Velha, uma referência no Estado. Mas não têm estrutura, o salário é baixo, não tem tecnologia, o cerco eletrônico não foi implementado e as câmeras de videomonitoramento são muito precárias, o sistema é de 2011, de quando Vidigal era prefeito. Agora, para combater a causa da violência, a gente tem que investir muito em educação. Nosso índice de pobreza e o número de assassinatos de jovens é alto. Eu saí da miséria e consegui uma vida digna graças a uma bolsa no Senai. A gente tem que investir em oportunidades e na educação de tempo integral. O crime, o caminho errado, tem que estar muito longe do radar das nossas crianças e jovens.
Em relação à violência, sua casa chegou a ser invadida no dia do primeiro turno das eleições 2020. Como foi esse momento?
A questão da minha casa foi um choque. Minha esposa que viu quando o indivíduo pulou o muro e gritou para ela não se mexer. Eu estava no meu quarto no segundo andar e ela subiu correndo. Nos trancamos no banheiro e ficou aquele clima de pavor, por estarmos em uma campanha com muitas acusações. Mas a polícia agiu muito rápido e prendeu o individuo. Não ficou nenhum dano físico, mas ficou o psicológico.
O senhor fala de investimento em tecnologia e esse é um ponto central no programa de governo de Vidigal. Mas tecnologia requer recursos. Como conseguir investimentos para essa área, tendo em vista o cenário de escassez no caixa das prefeituras?
Eu acredito que tecnologia é eficiência. Investindo de forma correta você economiza recursos. Como uma pauta da escola feita a caneta e papel que ainda precisa ser digitada e depois lançada em um sistema. Você pode ter algum dispositivo que já faça a pauta naquele momento e já disponibilize. Tem muitas ferramentas a nível estadual e a federal que já funcionam, então é replicar essas iniciativas. O cenário de queda de receitas requer líderes criativos.
Ainda sobre recursos, qual relação pretende estabelecer com o governo federal e com o estadual, tendo em vista o antagonismo ideológico entre eles?
Vidigal já mostrou essa capacidade dele enquanto deputado federal com a bancada capixaba. Houve grandes investimentos na Serra no Contorno do Mestre Álvaro e no Hospital Materno Infantil. Foi uma articulação muito grande com o ministro Tarcísio de Freitas para os avanços da obra do contorno, para ser entregue em 2022. Essa capacidade de dialogar com o governo federal ele já provou. Agora, com o governo estadual, o Vidigal tem diálogo excelente com o Casagrande.
O senhor tem experiências como empresário e passagens por movimentos liberais e de empreendedorismo, como o Renova BR, Líderes do Amanhã e o Livres. Como vai trazer essas experiências para a economia da cidade?
Eu acredito muito que, para a gente combater a pobreza, a gente tem que gerar riqueza. Então a gente precisa do empreendedor. Eu tenho o sonho de ver a Serra como o melhor ambiente de negócios do Espírito Santo e a cidade mais atrativa economicamente. A gente já tem fatores-chave, como a logística e o polo de inovação. Mas precisamos principalmente desburocratizar e unificar o atendimento ao empreendedor, para resolver tudo em um lugar só. Sem ele ter que ir a várias secretarias. De tudo que eu aprendi nesses movimentos é que as pessoas têm que ter liberdade e facilidade para empreender e não dificuldades, como hoje.
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O Livres foi um movimento de jovens importante na renovação do Partido Social Liberal (PSL), no entanto, quando o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) migrou para a sigla, os liberais e o movimento se desmembraram do partido, alegando que Bolsonaro não condizia com os valores liberais, fazendo com o que o movimento se tornasse suprapartidário. Você teve passagem pelo movimento. Esses valores liberais estarão presentes no governo de Vidigal a partir de 2021?
A cidade escolheu o Vidigal pela capacidade e experiência dele. Tenho muito a aprender com ele. Onde tiver oportunidade de contribuir com minhas ideias e com meus valores vai haver liberdade econômica.
Mas o empreendedorismo e as ideias de liberalismo econômico que o senhor carrega não geram conflito com a ideologia do PDT, partido de Vidigal?
O debate nacional se dissipa no nível local, quando chegamos perto de problemas reais da cidade, como esgoto, segurança, saúde e educação. Penso diferente e por isso fui escolhido. Já me perguntaram se eu mudaria de ideia e eu disse que não.
"O Sergio poderia ter escolhido um político tradicional, com fundo partidário que poderia ajudá-lo na campanha, mas ele me escolheu pelas minhas ideias e pelo meu trabalho"
O sr. participou desses movimentos (Livres, Líderes do Amanhã, Renova BR) que pregam uma renovação na política. Mas o senhor decidiu ser vice de Vidigal que já governou a Serra por três vezes, mais de uma década. Não é uma contradição?
Eu tive que pensar de forma pragmática para ver como eu poderia contribuir com a minha cidade hoje. A vida é um sopro. Se você tem a oportunidade de contribuir hoje você vai se negar por alguma vaidade?
Correção
7 de Dezembro de 2020 às 08:45
Apesar de o DivulgaCand Contas, site oficial da Justiça Eleitoral alimentado com dados informados pelos partidos, exibir que Thiago Carreiro é filiado ao PDT, o vice-prefeito eleito da Serra informou, após a publicação desta entrevista, que integra os quadros do Cidadania e não do PDT.
*Vinicius Zagoto é aluno do 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, sob supervisão da editora Samanta Nogueira.
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