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Publicado em 8 de setembro de 2021 às 10:51
As manifestações de 7 de setembro foram marcadas pela exibição de cartazes, faixas e outros símbolos de apoio ao governo. Em meio às ondas verde e amarela que tomaram conta da Grande Vitória, destacou-se ainda uma bandeira, das mesmas cores, mas não exatamente igual ao estandarte adotado atualmente. Trata-se da bandeira do Brasil Império, que deixou de ser utilizada oficialmente ao final de 1889. >
Em 19 de novembro daquele ano, o então chefe do governo provisório, Marechal Deodoro da Fonseca, adotou a bandeira atual — embora com menos estrelas que hoje —, que se tornaria o mais importante símbolo da recém-criada República.>
A flâmula anterior foi utilizada entre 1822 e 1889. Entretanto, mais de 130 anos depois da proclamação da República, a bandeira do Império voltou a ser observada em manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).>
Desenhada pelo francês Jean-Baptiste Debret, a bandeira do Brasil imperial, de formato retangular e com fundo verde, tinha no centro um losango amarelo; dentro dele, o brasão nacional.>
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O retângulo representa o masculino, e o verde indica a casa real dos Bragança, referindo-se a Dom Pedro I, o primeiro imperador do Brasil. O losango remete o feminino e o amarelo à casa de Habsurgo, da imperatriz Dona Leopoldina. >
A esfera armilar e a cruz de Cristo são símbolos de Portugal. O Brasil, por sua vez, aparece nos ramos de café e de tabaco, importantes produtos de exportação, cultivados e beneficiados principalmente por mão de obra escrava. Acima destes, é exibida uma coroa de diamantes em alusão à coroa imperial.>
Em um artigo publicado na plataforma Medium, os historiadores Adriano Comissoli e Hugo Araújo, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pontuam que a valorização desses símbolos do passado é idealizada e mobiliza grupos que atribuíram ao império de Dom Pedro II (de 1840 a 1889) um tempo áureo. >
“Precisa de muito esforço para enxergar no Brasil escravista e agrário do século XIX uma nação justa e livre da corrupção", escreveram, acrescentando ainda: “Essa busca por símbolos antigos é a tentativa de construir uma legitimidade. A bandeira imperial, por exemplo, tenta associar-se à independência e ao surgimento do Brasil como nação. Parecem esquecer que a bandeira traz símbolos ligados quase que exclusivamente ao imperador.”>
Além desta vertente, o historiador e cientista político João Gualberto observa que embora o presidencialismo tenha sido adotado, há mais de um século, como regime de governo, nunca houve uma desistência por completo da ideia de uma monarquia.>
“No final da vida, Dom Pedro falava também no parlamentarismo, ou monarquia parlamentar, em que o monarca seria uma espécie de presidente perpétuo, mas com um apoio de um primeiro ministro e de um parlamento, como ocorre na Inglaterra.”>
Ele observa que a subida de Bolsonaro ao poder trouxe de volta anseios semelhantes, sendo que muitos de seus apoiadores são defensores da ideia de uma monarquia brasileira, dentre eles o antigo “guru do governo”, Olavo de Carvalho. >
Gualberto observa ainda que o próprio “pretendente a príncipe”, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, descendente de Dom Pedro I e II, é deputado federal pelo PSL, mesmo partido que elegeu Bolsonaro em 2018. >
“Como movimento, é um movimento regressionista. Prega-se pelo retorno ao passado, pela volta do movimento militar, da bandeira imperial, entre outros elementos. É um movimento apoiado principalmente por pessoas mais velhas, inclusive heróis do passado, embora também haja muitos jovens se apropriando atualmente.”>
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