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PF investiga se filho de Bolsonaro "abriu portas" para empresa do ES no governo

PF investiga se filho de Bolsonaro "abriu portas" para empresa do ES no governo

Gramazini Granitos e Mármore participou de reuniões com o governo federal para apresentar projeto. Encontro teria sido intermediado por Renan Bolsonaro, após o sócio dele ser presenteado com um carro pelo grupo capixaba

Publicado em 17 de março de 2021 às 19:51- Atualizado há 3 anos

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Renan Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro
Renan Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, esteve em encontro com empresários capixabas em novembro de 2020. (Pedro Ladeira/Folhapress)
Autor - Iara Diniz
Iara Diniz
Repórter de Política / [email protected]

A Polícia Federal abriu inquérito para investigar se o filho 04 do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Jair Renan Bolsonaro, atuou para facilitar o acesso de empresários do grupo capixaba Gramazini Granitos e Mármores Thomazini ao governo federal.

Em novembro do ano passado, representantes da Gramazini se reuniram por duas vezes com membros do Ministério do Desenvolvimento Regional para falar sobre um projeto de construção de casas populares. Os encontros teriam sido intermediados pelo filho mais novo do presidente e aconteceram um mês após um dos amigos e sócio de Renan Bolsonaro, Allan Lucena, ser presenteado com um carro elétrico no valor de R$ 90 mil. O carro foi doado pela empresa Neon Motors, ligada ao mesmo grupo da Gramazini, como revelou o jornal O Globo.

A denúncia apresentada pelo Ministério Público aponta possível tráfico de influência e lavagem de dinheiro.

Renan Bolsonaro visitou o Espírito Santo em setembro do ano passado, quando veio em busca de parcerias para o novo negócio, a Bolsonaro Junior Eventos e Mídia. Na ocasião, ele se reuniu com empresários capixabas, entre eles representantes do grupo Gramazini. A empresa tem sede em Barra de São Francisco, no Noroeste do Estado.

Segundo a revista Veja, durante a visita, o grupo apresentou a Renan um protótipo de construções de casas populares de pedra e o filho do presidente manifestou interesse em levar a ideia ao Planalto.

Duas semanas após a visita, Renan inaugurou o escritório da empresa dele em Brasília e um dos sócios da Gramazini estava lá. Na época, um parceiro comercial de Renan Bolsonaro, Allan Lucena, com quem ele dividia o escritório, contou que tinha sido presenteado pela Gramazini com um carro elétrico da Neon Motors, ligada ao mesmo grupo empresarial no Espírito Santo.

Um mês depois, esse mesmo empresário capixaba conseguiu um espaço na agenda do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, responsável pelo programa Minha Casa Minha Vida. Ele foi chamado no Palácio do Planalto para apresentar o projeto de construção de casas em uma reunião que contou com a presença de Renan Bolsonaro e Allan Lucena.

Ao final, todos posaram para uma fotografia, postada nas redes sociais. Na época, um dos sócios da Gramazini explicou à Veja como conseguiu chegar a um dos ministros mais poderosos da Esplanada: “O Renan começou tudo, levou para Brasília. O projeto foi enviado para o pai dele, que o encaminhou para o Ministério do Desenvolvimento Regional."

A EMPRESA GRAMAZINI

De acordo com reportagem divulgada pelo jornal O Globo, a Gramazini recebe desde setembro de 2019 um benefício fiscal concedido pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), de 75% no pagamento do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), válido até 2028. Isso quer dizer que, de 100% do imposto devido, apenas 25% são pagos.

Não há irregularidades na redução de impostos, que está prevista na legislação que inclui o norte do Rio Doce, no Espírito Santo. Mas o benefício é bem diferente do praticado pela maioria das empresas brasileiras. Só em 2021, o grupo já recebeu pelo menos 15 autorizações da Agência Nacional de Mineração (ANM) para prospectar novas áreas.

Entretanto, a relação íntima do filho mais novo com o grupo empresarial levou a Polícia Federal a investigar possível tráfico de influência e lavagem de dinheiro. 

O OUTRO LADO

Em nota encaminhada ao Jornal Nacional, o Ministério do Desenvolvimento Regional informou que as reuniões foram marcadas a pedido de um assessor especial do presidente Jair Bolsonaro e que o grupo foi orientado sobre como se adequar às normas exigidas para participar de programas habitacionais do governo federal ou para financiamento com recursos do FGTS.

A defesa de Jair Renan Bolsonaro disse que ele não marcou reunião nem ajudou a empresa Gramazini na relação com o governo federal; que Allan Lucena é um colega e personal trainer de Renan; que não existe relação societária entre os dois; e que Jair Renan Bolsonaro não ganhou carro de presente.

Allan Lucena afirmou que é amigo de Jair Renan Bolsonaro e que o ajudou na empresa nessa condição; que os dois não tinham relação comercial contratual; que o carro foi doado ao que chamou de projeto MOB, na base da confiança, porque o projeto ainda não tinha sido formalizado. Sobre a reunião no ministério, declarou que ele e Renan participaram apenas como ouvintes.

Procurada, a empresa Gramazini informou, por nota, que é uma empresa que atua há anos no mercado de mármore e granito, sempre se pautando pelos princípios da ética, da transparência e da legalidade, contribuindo com a arrecadação de tributos e a geração de empregos.

"Sobre as últimas notícias que citam a Gramazini, a direção da companhia está à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos, desde já informando que não são verdadeiras as suspeitas lançadas contra a empresa, o que ficará provado no seu devido tempo e pelos meios próprios", concluiu, na nota. 

A reportagem também tentou contato com a empresa Neon Motors, mas as ligações não foram atendidas.

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