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Publicado em 8 de fevereiro de 2021 às 02:00
- Atualizado há 5 anos
Os secretários municipais nomeados pelos prefeitos têm a responsabilidade de administrar as pastas designadas e gerir orçamentos milionários. Em troca, têm o ganho palpável de um salário que varia, na Grande Vitória, entre R$ 8,2 mil e R$ 13,8 mil. Esse não é, no entanto, o único atrativo do cargo. Integrar o primeiro escalão de uma prefeitura significa, também, a conquista de ganhos subjetivos, como capital político, visibilidade e status de autoridade. >
Para alguns, o segundo tipo de reconhecimento é mais desejado do que o próprio ganho financeiro. Para quem tem interesses eleitorais, por exemplo, ter uma secretaria nas mãos é uma forma de realizar entregas, ganhar projeção e se conectar com o eleitorado. >
Nem todos os secretários atuam sob essa perspectiva. Há na estrutura administrativa aqueles que não têm pretensões eleitorais, mas a presença de muitos nomes filiados a partidos políticos e com laços estratégicos com os prefeitos chama a atenção para essa possível busca por visibilidade. Nesses casos, algumas pastas são mais atraentes, como as de Obras, Esportes e Assistência Social, por exemplo, por serem secretarias com mais entregas palpáveis para a população.>
"Tem um ganho financeiro, que é concreto, e há benefícios do exercício do poder, pode alavancar para uma carreira política. É um ganho efetivo e imediato de ficar mais importante, adquirir um status de autoridade. A política tradicional no Brasil é feita em um sistema de 'troca de favores'. Então quando você chega a uma secretaria é um passo importante para ter 'favores' a oferecer", pontua o cientista político João Gualberto Vasconcellos.>
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Os gestores de pastas estratégicas aparecem recorrentemente em veículos de comunicação para falar de atos da secretaria e participam de entrega de obras e lançamentos de projetos sociais. Assim, os nomes e rostos permanecem "frescos" na mente dos eleitores, votos que podem ser colhidos em eleições futuras.>
Outras secretarias, que realizam trabalhos mais "internos", ou que têm orçamento limitado, tornam-se menos atrativas para quem tem pretensões eleitorais. Ainda assim, podem ser vistas como postos para alocar aliados derrotados em eleições, que desta forma mantêm proximidade com o centro do poder e indicações para cargos comissionados. >
"O ideal é que o critério número um da contratação seja a qualificação técnica. Mas existem nomeações explicitamente políticas que giram em torno de pessoas que têm certo destaque político, ficaram sem cargos e são alocados em prefeituras", ressalta o cientista político Fernando Pignaton.>
Juntando experiência e indicações políticas, mais de 40 dos 58 secretários nomeados na Grande Vitória já ocuparam cargos comissionados no serviço público anteriormente. Muitos apenas trocaram de prefeitura e outros atuam há anos na estrutura administrativa do governo estadual e no Legislativo – Câmara municipal ou Assembleia Legislativa.>
João Gualberto ressalta que a indicação de pessoas de uma mesma "família política" é encarada com naturalidade pelos prefeitos pela própria fundação histórica da política brasileira.>
"Uma característica do sistema político brasileiro são estruturas históricas muito sólidas que remontam ao coronelismo. Um dos elementos mais importantes do coronelismo é o 'familismo'. Quando uma família política ganha a eleição, o patriarca leva membros consigo, em alianças formadas por laços de fidelidade pessoal. É um sistema político que se constrói em laços familiares ou de fidelidade ao chefe", pontua.>
As indicações nem sempre são apenas de aliados políticos. A Gazeta registrou pelo menos onze casos de nomeação de familiares para secretarias em todo o Estado. O Supremo Tribunal Federal não considera a indicação de parentes para cargos de natureza política, a exemplo de secretários municipais, como nepotismo em casos em que há qualificação técnica comprovada do nomeado.>
Em São Gabriel da Palha, a nomeação da primeira-dama para a pasta da Assistência Social resultou em uma apuração do Ministério Público Estadual. A ex-secretária foi exonerada por recomendação da promotoria, que considerou que ela não possui a qualificação adequada para exercer a função.>
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