Publicado em 11 de maio de 2020 às 21:17
Um dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que revirou o lixo de uma sala no Palácio da Alvorada para atacar jornalistas mora em Vila Velha e estava em uma caravana do Espírito Santo em visita a Brasília. O homem, que se identifica nas redes sociais como Higor Lacerda, é membro do Direita Vila Velha, grupo político que está entre um dos organizadores da excursão em apoio ao "acampamento dos 300", que foi montado na capital federal. >
Em sua página no Facebook, ele diz ser morador da cidade canela-verde e também compartilhou um vídeo em que usa a camisa do movimento. A gravação foi postada pelo próprio Direita Vila Velha.>
Higor e um outro homem teriam mexido em lixeiras para encontrar as notas fiscais das refeições pedidas pelos jornalistas por meio de serviços de entrega durante o final de semana. O ato teria como propósito expor repórteres, cinegrafistas e fotógrafos que permanecem diariamente na residência oficial da Presidência da República, próximo ao chamado "cercadinho", na entrada do Palácio da Alvorada, local onde Bolsonaro costuma cumprimentar apoiadores e conceder entrevistas coletivas. >
A estratégia foi presenciada por repórteres que estavam no local e registrada por veículos como "Folha de S. Paulo", "O Estado de S.Paulo" e "Poder 360".>
>
É este o local onde os jornalistas costumam ficar de plantão à espera do presidente, por onde ele passa quando sai e entra na residência oficial. De acordo com a Folha de S. Paulo, os resíduos estavam organizados em sacos de papel desde a noite de sábado (9) e não haviam sido recolhidos até a manhã do domingo (10), até serem revirados pelos apoiadores de Bolsonaro.>
Dois homens gravaram então um vídeo atacando a imprensa, registrou a reportagem da Folha. Um outro homem acompanhou o ato dos bolsonaristas. "Não tem o nome da pessoa aqui [na nota fiscal]. Mas, enfim, querendo ou não, isso é um descaso com o meu dinheiro, com o seu dinheiro, é um descaso com o nosso patrimônio porque isso tudo aqui é sustentando com o dinheiro dos nossos impostos", diz um dos bolsonaristas.>
Durante a gravação do vídeo, não houve nenhuma abordagem por parte da segurança do Palácio da Alvorada, a cargo do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).>
Quando os apoiadores se deslocaram para o local onde geralmente interagem com o presidente, um agente de segurança foi até os jornalistas para saber o que havia ocorrido. Em seguida, o agente foi até a área dos apoiadores e retornou informando que o vídeo havia sido apagado.>
O próprio Higor, em um vídeo publicado na página "Direita Vila Velha", relata o episódio. Ele negou ter revirado o lixo e diz apenas que filmou o que teria sido deixado pelos jornalistas.>
"Chegando ao Alvorada encontramos uma situação nojenta, com o lixo pelo chão, sem estar na lata de lixo. Se fosse nós ou o presidente da República, eles não hesitariam em atacá-lo. Gravamos um vídeo denunciando e a segurança da presidência pediu para que não divulgássemos. Apagamos. Mas, depois de ver como os jornais contaram esse episódio, conseguimos recuperar o vídeo", conta. >
O vídeo começa com as embalagens de lixo no chão. Higor, então, mexe em algumas delas e lê notas fiscais de entregas com nomes de repórteres, em atitude de hostilidade à imprensa. >
A reportagem de A Gazeta tentou contato com Higor por sua página no Facebook, mas não obteve retorno. Também não conseguimos contato com uma das organizadoras do Direita Vila Velha.>
A assessoria de imprensa da Presidência da República foi procurada pela reportagem para comentar o ocorrido, mas também não se manifestou.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta