Publicado em 9 de setembro de 2020 às 21:35
A senadora Rose de Freitas anunciou sua desfiliação do Podemos, partido que integra desde o início de 2018. O anúncio foi feito durante sessão remota do Senado Federal, nesta quarta-feira (09). A senadora alegou que o partido agiu de forma antidemocrática ao anunciar o afastamento dela da sigla, após a apresentação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 33, que permite a reeleição dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados.>
Na prática, o texto de Rose beneficia o atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e também dá aval para Rodrigo Maia (DEM-RJ), que comanda a Câmara, tentar mais um mandato à frente da Casa. A posição da parlamentar, no entanto, é contrária à defendida pelo partido. >
Neste sábado (5), o Podemos decidiu pelo afastamento da senadora. A suspensão da filiação partidária seria por 60 dias em caráter cautelar, prazo em que a análise de um procedimento ético-disciplinar deveria ser concluída. Segundo o comunicado oficial do partido, o afastamento foi definido em documento assinado pela presidente nacional da sigla, Renata Abreu, após a Comissão Executiva Nacional acolher parecer do Conselho de Ética e Disciplina. >
Líder do Podemos no Senado, o senador Álvaro Dias também havia informado que o partido iria iniciar um processo de expulsão da senadora da agremiação.>
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Ao declarar a saída, Rose afirmou que apresentar um projeto faz parte de seu direito Constitucional como senadora e, desta forma, não poderia aceitar atitude arbitrária que a impeça de propor uma discussão. >
"Ao propor a PEC, estou exercendo meu direito. Como todos os projetos que tramitam no Congresso, a PEC pode ser aprovada, rejeitada ou modificada. Sua aprovação não é compulsória e, se aprovada, a reeleição dos integrantes das Mesas não é automática - o processo terá de passar por votações nominais. Assim, estou me desfiliando do Podemos por não aceitar nenhum gesto de vaidade, de autoritarismo", protestou.>
Na justificativa da PEC, Rose afirma que a reeleição por um período subsequente é permitida para chefes do Executivo e que a mudança é uma forma de "harmonizar o texto constitucional". A senadora destacou que tem oito mandatos como parlamentar. >
"Não posso aceitar. Eu fiz o meu dever de casa, cumpri o meu dever como cidadã, como mulher, como mãe, como política. Eu sofri as agruras de uma ditadura, que me restringiu a liberdade. Não posso aceitar, depois do processo de reabertura democrática, que alguém venha me colocar 'no banco' e me dê uma repreensão, uma punição, um castigo, como se eu fosse uma adolescente numa escola", disparou a senadora.>
Rose, por fim, esclareceu não ter tido qualquer acordo com Alcolumbre para apresentação da PEC 33. "Não tive uma só conversa, um só apelo ou qualquer insinuação".>
Rose de Freitas se filiou ao Podemos em 2018, após ter feito parte do MDB desde a década de 1980, com uma pequena passagem pelo PSDB. A troca de partido teve o objetivo de viabilizar a sua futura candidatura ao governo do Estado, na época. Rose queria disputar a convenção, mas o MDB ainda considerava a possibilidade de o então governador Paulo Hartung (que ainda estava no partido) tentar a reeleição. >
Internamente, ela pertencia a uma linha política divergente da do ex-governador. Pesou para sua saída, na ocasião, a afirmativa do presidente nacional interino do MDB, Romero Jucá, de que Hartung seria candidato à reeleição. O governador, no entanto, acabou não disputando, mas a decisão somente foi anunciada quando a senadora já havia migrado para o Podemos.>
Atualmente, a Constituição proíbe a recondução de um parlamentar para o mesmo cargo da Mesa Diretora da Câmara e do Senado na mesma legislatura. O tema é alvo de uma ação apresentada pelo PTB ao Supremo Tribunal Federal (STF), que discute a possibilidade de reeleição de Maia e Alcolumbre.>
Os dois têm mantido conversas reservadas com ministros do STF sobre a possibilidade de concorrerem à reeleição, em fevereiro de 2021. Embora Alcolumbre já atue abertamente pela recondução, Maia tem dito que não pretende concorrer, mesmo que autorizado pelo Supremo.>
A PEC apresentada pela senadora permite apenas uma recondução consecutiva, mesmo entre uma legislatura e outra. A estratégia de Alcolumbre e aliados é afastar críticas de que a medida abriria margem para um presidente se "eternizar" no poder do Legislativo. >
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