Publicado em 28 de agosto de 2020 às 09:06
Na primeira manifestação oficial sobre o assunto, o Senado defendeu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de os presidentes das duas casas do Congresso se reelegerem. O documento escancara a intenção do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) de continuar no comando do Legislativo por mais um mandato. A articulação, até então feita apenas nos bastidores, também conta com a participação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). >
A Corte deve avaliar nos próximos meses uma ação do PTB que tenta impedir a reeleição de Alcolumbre e de Maia. A Constituição veda essa possibilidade na mesma legislatura, mas o Senado recorre a dois pareceres diferentes - da Mesa Diretora e da Advocacia da Casa - para sustentar a tese de que a regra pode ser flexibilizada.>
Em um dos documentos, o Senado cita que a proibição de um parlamentar se reeleger do Legislativo teve como origem um ato da ditadura militar. O argumento é de que a norma foi incorporada à Constituição de 1988 na esteira do artigo que também proibiu a reeleição de presidente da República, mas que este já foi derrubado.>
A manifestação cita ainda que a emenda à Constituição que autorizou a reeleição do então presidente Fernando Henrique Cardoso, aprovada em 1997, só não foi estendida aos cargos de chefe do Legislativo por uma questão política, para evitar que o então presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, fosse reconduzido.>
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"A análise histórica dos precedentes mostra que eles foram construídos, aparentemente, para resolver situações imediatamente contemporâneas àqueles momentos da política nacional", diz o parecer assinado pelo secretário-geral da Mesa, Luiz Fernando Bandeira.>
No outro documento, entregue pela Advocacia-Geral do Senado, a Casa argumenta ainda que cabe ao Congresso, e não ao Supremo, avaliar questões internas, valendo-se do princípio da separação dos poderes.>
"O STF já entendeu que as eleições internas para as Mesas do Parlamento são assunto interna corporis, imunes ao controle pelo Poder Judiciário", afirma um trecho da manifestação que pede o arquivamento da ação do PTB.>
Como mostrou o Estadão, Alcolumbre e Maia têm mantido conversas reservadas com ministros do Supremo sobre o assunto. Nos bastidores, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes têm ajudado a encontrar uma solução jurídica que permita a recondução. >
Embora Alcolumbre já atue abertamente pela recondução, Maia tem dito que não pretende concorrer, mesmo que autorizado pelo Supremo. De acordo com interlocutores, o presidente da Câmara admite disputar o quarto mandato apenas se for aclamado por líderes de partidos e tiver apoio, ainda que informal, do governo. Apesar do histórico de desentendimentos com Bolsonaro, Maia se relaciona bem com ministros como Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e Fábio Faria, das Comunicações.>
O Congresso foi provocado a se manifestar pelo ministro Gilmar Mendes, relator da ação. A resposta do Senado foi antecipada na noite de quarta-feira pela Coluna do Estadão. A Câmara também foi instada a se manifestar, mas não se posicionou sobre o assunto.>
A movimentação de Maia e Alcolumbre para ter aval do STF para a reeleição provocou reação de parlamentares do Centrão. O grupo, que se aproximou do Palácio do Planalto nos últimos meses, vai tentar assumir o comando da Câmara. Líder do PP, maior partido do bloco, o deputado Arthur Lira (AL) é pré-candidato ao cargo. A disputa está marcada para fevereiro de 2021.>
Deputados discutem pressionar Maia a colocar em votação uma Proposta de Emenda à Constituição que trata da reeleição no comando do Legislativo. Com 205 parlamentares, de dez partidos diferentes, o Centrão acredita ter votos suficientes para rejeitar a medida, enviando um sinal ao Supremo de que a mudança na regra não tem respaldo no Legislativo.>
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