Publicado em 25 de agosto de 2020 às 20:44
O Senado aprovou, por 79 votos favoráveis e nenhum contrário, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Novo Fundeb em dois turnos. Não houve alterações no texto aprovado anteriormente. A Emenda será promulgada pelo Congresso em uma sessão solene nesta quarta-feira (26), às 11 horas. Esse é o principal mecanismo de financiamento da educação básica pública, responsável pela distribuição de 45% dos recursos investidos neste setor no Brasil. Especialistas afirmam que aprovação da proposta ganha mais relevância com a pandemia do novo coronavírus, que exigirá maior esforço do poder público para garantir acesso, permanência na escola, além de qualidade de ensino. >
A medida torna o fundo permanente e aumenta o volume de recursos repassados pela União para Estados e municípios bancarem o pagamento de professores e outras despesas da educação básica. A PEC aumenta complementação da União na cesta do Fundeb dos atuais 10% para 23% em seis anos. >
Inicialmente, o governo se movimentou contra a proposta nos moldes da articulação do Legislativo e tentou incluir o programa Renda Brasil, em substituição ao Bolsa Família, no mesmo pacote de repasses, o que deixaria a despesa assistencial fora do teto de gastos. A estratégia, porém, foi rejeitada pelo Congresso.>
Senadores se movimentaram para fazer alterações, mas descartaram mudanças após resistência de sindicatos e parlamentares ligados ao setor. Uma das mudanças ensaiadas foi permitir o uso do Fundeb para o pagamento de aposentadorias, possibilidade barrada pelo texto. O relator, Flávio Arns (Rede-PR), afirmou que a solução precisa ser dada com uma fonte não vinculada à Educação. >
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No Senado, a PEC sofreu apenas uma mudança na redução. O relator retirou um dispositivo do texto que previa repasse de recursos do financiamento para escolas privadas. De acordo com Flávio Arns, porém, a Constituição já autoriza essa transferência para instituições comunitárias e filantrópicas e o trecho da PEC limitaria o pagamento para essas entidades.>
Antes mesmo de concluir a votação da PEC, o Congresso decidiu tomar a frente para regulamentar o novo Fundeb até o fim deste ano e pressionar o Executivo a organizar o financiamento. O motivo é a falta de articulação do Ministério da Educação do governo Jair Bolsonaro.>
Considerando os novos recursos, 10,5% serão transferidos para redes que não alcançarem um valor mínimo de investimento por aluno, beneficiando municípios mais pobres, e metade desse montante terá financiar a educação infantil. Outros 2,5% serão repassados somente para cidades que alcançarem evolução dos indicadores educacionais. Que indicadores serão esses e quais os critérios ainda terão de ser definidos por outra lei. >
Em 2020, o Fundeb envolve uma cesta de R$ 173,7 bilhões que financia a maior parte dos salários de professores e outras despesas de Estados e municípios com a educação básica. Desse valor, R$ 15,8 bilhões corresponde à complementação da União. Com a PEC, o aporte do governo federal deve subir para R$ 17,5 bilhões em 2021 e chegar a R$ 39,3 bilhões em 2026, de acordo com cálculos da Consultoria de Orçamento da Câmara.>
Especialistas em Educação dizem que a aprovação da PEC do Fundeb ocorre em um momento crucial, em que o país necessitará ainda mais de investimentos na área. Com a pandemia do coronavírus, há queda na arrecadação e aumento de demandas para adequação de escolas. O desafio agora é definir bem os parâmetros para a aplicação dos recursos em uma lei complementar, que deve ser aprovada ainda este ano.>
Para Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco, a aprovação da PEC do Fundeb é ainda mais importante no contexto educacional enfrentado pelo país. Vamos fazer a passagem pela pandemia diminuindo recursos para a educação e aumentando os investimentos necessários. Como exemplos da necessidade de ampliação dos gastos, ele cita recomendações de reduzir alunos por sala, adquirir equipamentos de proteção, contratar professores temporários e até demandas relacionadas ao ensino híbrido. >
O fundo tem o papel de reduzir as desigualdades educacionais no país, que devem se ampliar com o fechamento das escolas imposto pela pandemia. Uma das características do novo Fundeb, aprovado no Senado, é a de permitir que a distribuição de recursos seja feita também considerando características dos municípios e não apenas por Estados - isso garante, por exemplo, que municípios pobres em Estados ricos, que tinham baixa capacidade de arrecadação, também recebam aportes financeiros.>
"Essa ideia de fazer uma distribuição em que se dá conta de municípios pobres, que em regra não têm nenhuma capacidade de arrecadação e que estão em Estados mais ricos, é sinal de que o Fundeb se ajustou para olhar ainda mais para o beneficiário, os estudantes. Esse é o melhor e maior avanço no desenho do Fundeb: a capacidade de ser ainda mais redistributivo e focado nas situações territoriais de maior vulnerabilidade. Poucos lugares do mundo têm algo parecido", diz Ricardo Henriques. >
De acordo com cálculos do movimento Todos pela Educação, sem o Fundeb, a diferença de investimento entre alunos brasileiros chegava a 15.000% Com o novo Fundeb, a expectativa é de que caia para 300%. Há maior justiça de distribuição de recursos. Em um país em que temos escassez de políticas de combate à desigualdade, o Fundeb é uma das políticas mais bem formuladas, diz Priscila Cruz, do Todos pela Educação.>
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