Novo Fundeb é vitória que vai exigir compromisso dos gestores da Educação

Fundo venceu etapa na Câmara para se tornar permanente, mas ainda vai passar pelo Senado. Em um cenário de queda de arrecadação, torna-se fundamental a boa gestão pública

Publicado em 23/07/2020 às 06h00
Atualizado em 23/07/2020 às 06h01
O Censo Escolar é o principal instrumento de coleta de informações da educação básica e o mais importante levantamento estatístico educacional brasileiro
Educação básica é etapa crucial para a formação do aluno. Crédito: Marcello Casal Jr/Agencia Brasil

Com a vitória acachapante na Câmara, o Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica) deixou de respirar por aparelhos à espera de sua expiração, em dezembro deste ano. E, com tudo correndo bem na sua tramitação do Senado, da qual espera-se celeridade, não passará por novo sufoco no futuro, pois o texto aprovado torna o fundo permanente, garantido pela Constituição. 

O Fundeb é fundamental na gestão da educação básica no país por ser o seu principal mecanismo de financiamento  e estruturação. Na média, de cada R$ 10 utilizados pelas redes públicas na educação básica, R$ 4 vêm do Fundeb.   O descaso com o qual o governo Bolsonaro tratou a prorrogação do fundo foi inaceitável, e a mobilização parlamentar para impedir seu ocaso colocou mais uma vez o Congresso como o protagonista em um filme no qual a cooperação deveria dar o tom do enredo, sem antagonistas e coadjuvantes.

A educação como a única saída transformadora de uma sociedade é um consenso e, justamente por isso, não deveria ser politizada. Por ser tão relevante, deve ser tratada com racionalidade, acima de tudo.

A renovação do fundo, criado em 2007 de forma provisória como substituto ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) que vigorava desde 1998, vinha sendo debatida na sociedade nos últimos cinco anos, dado o seu peso no financiamento da Educação, principalmente as despesas com pessoal. 

No Espírito Santo isso fica evidente: 11 municípios gastam mais de 90% do fundo com o pagamento dos profissionais, sendo que Itapemirim, Muniz Freire e Laranja da Terra chegam a destinar 100% do fundo para remunerar seus professores.  Sem o Fundeb, não sobreviveriam.

Nos parâmetros atuais,  os impostos coletados nos âmbitos estadual e municipal compõe quase a totalidade do bolo dos recursos do Fundeb (90%); os outros 10% vêm do governo federal, sendo que a União é a maior arrecadadora de tributos. Em 2019, os recursos chegaram a R$ 166,6 bilhões – R$ 151,4 bilhões de arrecadação estadual e municipal e R$ 15,14 bilhões da União. A PEC do Fundeb aumenta a complementação da União para o fundo de 10% para 23%, buscando mais equilíbrio. Torna-se assim um reforço de caixa de Estados e municípios para investimentos da educação infantil ao ensino médio.   

É preciso lembrar que, por mais necessário que seja o Fundeb, os recursos não surgem como mágica. O Fundeb é dinheiro da população que volta para a população. Em um cenário de queda de arrecadação, torna-se fundamental a boa gestão pública. Os recursos estão cada vez mais escassos, o que continuará exigindo qualidade dos gastos públicos. É mais um cenário no qual se reforça a urgência de uma reforma administrativa que tire do Estado brasileiro atribuições que não deveriam ser suas, para permitir o direcionamento de esforços para áreas essenciais, como é a própria Educação.

A perpetuação do Fundeb não cessa a necessidade do controle e do zelo com o dinheiro público, muito pelo contrário. A educação básica é o que garante a sustentação de toda a trajetória do aluno, é onde se define seu futuro escolar. O baixo desempenho e os déficits de aprendizagem têm raízes nessa primeira etapa da vida estudantil, e até mesmo a permanência do aluno em sala de aula depende de uma boa construção de sua relação com a escola na educação básica.

Professores precisam estar engajados, com remuneração digna, mas não se pode esquecer dos investimentos adjacentes e estruturais, a qualificação profissional incluída. A permanência do Fundeb não é um descanso para os gestores da Educação, mas ainda mais trabalho.

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