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Tensão em Vitória: o que autoridades e entidades dizem que vão fazer

Tensão em Vitória: o que autoridades e entidades dizem que vão fazer

Após dia de caos na Capital, A Gazeta ouviu representantes de Poderes e órgãos do Estado para saber quais providências serão tomadas para que episódios assim não se repitam

Publicado em 11 de outubro de 2022 às 21:47- Atualizado há 2 anos

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Ônibus incendiado no Centro de Vitória
Ônibus incendiado no Centro de Vitória. (Fernando Madeira)

Em sete horas, Vitória virou um cenário de guerra com vários ônibus incendiados e metralhados nesta terça-feira (11). Os ataques aconteceram em bairros diferentes da Capital e aconteceram após a morte de Jonathan Candida Cardoso, de 26 anos, cuja função era realizar a segurança de Fernando Morais Pereira Pimenta, o “Marujo”, chefe do tráfico de drogas no Bairro da Penha.

A Gazeta questionou aos Poderes do Estado, órgãos e representantes políticos sobre quais ações serão tomadas para impedir que cenas como as vistas nesse dia 11 de outubro de 2022 não se repitam na Capital ou em qualquer outra cidade. 

Chefe do Poder Executivo, o governador Renato Casagrande disse, em entrevista concedida no início da noite, que 10 pessoas que cometeram os ataques já foram presas e que as polícias já estão atuando para capturar também os mandantes dos crimes.

Casagrande afirmou ainda que o Estado vai reforçar a segurança nas próximas horas e também no feriado desta quarta (12). Ele disse que as polícias Civil e Militar estão em intensa operação para garantir a tranquilidade dos moradores.

Já o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, coronel Marcio Celante, disse que vai manter a presença policial para dar segurança à comunidade do Bairro da Penha.

“A presença policial está combatendo a criminalidade para dar tranquilidade a comunidade local que precisa ter a sua rotina normal e tranquila. Tem policiais em vários pontos da Grande Vitória além das comunidades do Bairro da Penha, é um campo de policiamento que está sendo feito no entorno em outros bairros aqui de Vitória".

O secretário lamentou o ataque ao trabalho da imprensa e afirmou que os crimes são uma reação contra o trabalho da polícia e que a inteligência da polícia está identificando os locais onde poderiam ter novos ataques e reforçando a segurança.

Ônibus incendiado próximo à Terceira Ponte
Ônibus incendiado próximo à Terceira Ponte. (Leitor | A Gazeta)

O Ministério Público do Espírito Santo afirmou atuar em defesa da sociedade e adotar todas as medidas que estão ao alcance da instituição, de forma preventiva e repressiva. Em nota, o MPES disse ter atuações repressivas na área de segurança pública, e que o enfrentamento à violência é feito com a integração entre os órgãos de Estado, o que já vem ocorrendo, segundo a instituição.

O MPES ainda acrescenta que no âmbito criminal, atua na fase de oferecimento das denúncias, a partir dos inquéritos policiais recebidos da Polícia Judiciária. Somente neste ano, de janeiro até agora, foram 3.073 denúncias vinculadas aos crimes de tráfico de drogas. Outras 940 denúncias foram oferecidas este ano envolvendo ações penais para o enfrentamento de crimes de homicídios.

“Em todos os municípios da Região Metropolitana da Grande Vitória, por exemplo, ocorrem mensalmente reuniões dos Gabinetes de Gestão Integrada Municipal (GGIM), que visam exatamente discutir as políticas de segurança pública entre os vários órgãos envolvidos, como MPES, Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Guardas Municipais e diferentes secretarias municipais, que, de forma conjunta, definem estratégias de combate à criminalidade, cada uma na sua respectiva área de competência”, diz em nota.

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPES também "desenvolve um trabalho firme no enfrentamento ao tráfico de drogas e crime organizado, auxiliando inclusive a localizar e prender criminosos de alta periculosidade".

“Além disso, o MPES também intervém na segurança pública de forma preventiva por meio da atuação de seus membros no fomento de políticas públicas voltadas para as áreas de saúde, educação, infância e juventude, inclusão social e direitos humanos, entre outras”, finalizou a instituição.

Trabalho do Corpo de Bombeiros para conter incêndio em ônibus no bairro Santo Antônio, em Vitória(Carlos Alberto Silva | A Gazeta)

PEDIDO DE INTERVENÇÃO 

O presidente eleito da Câmara Municipal de Vitória, vereador Armandinho Fontoura (Podemos), enviou no fim da tarde desta terça-feira (11) um ofício ao Ministério da Justiça pedindo uma intervenção federal na Capital.

“No caso em concreto, por se tratar de facção criminosa, envolvendo o chefe do tráfico do Primeiro Comando de Vitória, é translúcida a violação de direito patrimonial e a direitos da pessoa humana, aqui abarcados pelos direitos de ir e vir e da segurança pública, requer a intervenção federal com o efetivo envio da Força Nacional, nos termos do artigo 34 da Constituição Federal”, escreveu no ofício.

Em conversa com a reportagem, ele repudiou os ataques a um cinegrafista da TV Tribuna, que aconteceu nesta manhã. “Solidariedade aos profissionais de imprensa. Esse ataque ao carro de imprensa é intolerável. O que estamos vivendo hoje são cenas de guerra e mostra que o crime organizado tomou o Estado”, disse Armandinho.

Ainda segundo o vereador, a Câmara chama a responsabilidade ao governo do Estado e vai cobrar respostas aos ataques.

A reportagem entrou em contato com o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), sobre medidas que a Casa pode adotar. Erick orientou procurar a presidência da Comissão de Segurança e Combate ao Crime Organizado, exercida pelo deputado Luiz Durão (PDT). Segundo a assessoria do parlamentar, porém, ele passou por um procedimento médico e está em observação.

Membro da comissão, o deputado Danilo Bahiense (PL), lamentou o ocorrido e disse que a segurança pública fica defasada pela ausência de educação mais qualificada em bairros mais vulneráveis.

“Não há oportunidades para a juventude, não há ambiente organizado, não há mata capinada em terreno baldio, não há saneamento, não há iluminação adequada. A bola de neve só aumenta quando temos conselhos tutelares que sequer têm papéis para seus conselheiros ou, ao menos, uma estrutura digna. Como prestar um serviço qualificado assim? O resultado desse acúmulo é o aproveitamento, por parte do crime, de cooptar adolescentes afoitos”, disse em nota.

Ele afirma que o Estado tem um déficit de pessoal nas polícias. “São mais de 1.400 que faltam na Polícia Civil e outros 3 mil na PM. Sem contar a panela de pressão do sistema carcerário. Precisamos de ações assertivas e de um Estado, verdadeiramente, presente”, ressaltou.

A reportagem ainda demandou o Tribunal da Justiça do Espírito Santo (TJES), a Defensoria Pública do Estado, a OAB e o deputado Neucimar Fraga (PP), representante capixaba na comissão de Segurança Pública na Câmara dos Deputados, mas até a publicação da reportagem, não houve resposta. Assim que tiver retorno, esse texto será atualizado.

ATAQUES

Um carro de reportagem da TV Tribuna foi incendiado na divisa entre os bairros Bonfim e Da Penha, no fim da manhã desta terça-feira (11). O clima na região é de tensão depois que o homem apontado como segurança de Fernando Moraes Pereira Pimenta, conhecido como Marujo, morreu em um confronto com a Polícia Militar. Vários ônibus foram incendiados e metralhados.

Na noite de segunda-feira, os policiais se deslocaram até o local após receber uma denúncia de que Marujo, chefe do tráfico de drogas no Bairro da Penha, estaria na região com seguranças armados, entre eles o suspeito que foi morto, planejando efetuar ataques a gangues rivais.

Ao acessarem a escadaria Alexandre Rodrigues, onde Marujo estaria com outros homens, os militares visualizaram cinco suspeitos armados. O boletim de ocorrência narra que os criminosos portavam armas longas, como fuzil e espingarda calibre 12.

Ainda conforme o boletim de ocorrência da PM, os homens armados começaram a disparar quando notaram a presença dos policiais e fugiram em seguida.

Durante a correria e a troca de tiros, Jonathan foi encontrado caído no chão portando uma arma e munições. Ele chegou a ser encaminhado ao Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), em Vitória, mas não resistiu aos ferimentos.

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