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Publicado em 23 de dezembro de 2021 às 13:28
Mais de 30 mulheres foram vítimas de feminicídio neste ano, apenas no Espírito Santo. O crime classificado como "muito covarde" pelo secretário Alexandre Ramalho, que está à frente da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), precisa ser combatido por todos – e não apenas pelas polícias. A posição foi defendida durante entrevista concedida à Rádio CBN Vitória, na manhã desta quinta-feira (23). >
Ao tratar do assunto, ele admitiu que existe uma "dificuldade enorme" em derrotar o homicídio cometido em razão do gênero feminino. Entre os componentes que tornam a missão complexa, está a cultura machista que faz o homem "diante de qualquer término, se julgar no direito de praticar violência contra a mulher".>
Alexandre Ramalho
Secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Espírito SantoSegundo o coronel, no programa "Homem que é Homem" ficou claro que aqueles que mataram as companheiras não se julgavam criminosos. "Eles viram esse modelo dentro de casa e aquilo se internalizou. Ele acha que é normal, por isso temos esse projeto de ressocialização. A mulher tem direito de tomar suas decisões", afirmou. >
Neste cenário, ele ressaltou o interesse do governo do Estado em adquirir tornozeleiras eletrônicas especiais que avisam a vítima sobre a proximidade ilegal do agressor por meio do celular, permitindo pedir apoio ou fugir em segurança. A expectativa é que o dispositivo esteja disponível em cerca de dois meses.>
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Além de feminicídios, agressões e assassinatos acontecem frequentemente dentro das residências. É o que se chama de "crimes de proximidade" – outro desafio para a Polícia Militar, segundo Alexandre Ramalho. No Espírito Santo, já foram 241 somente neste ano. "É uma discussão que se acalora, com tiros e facadas. É o irmão que mata o pai entre quatro paredes", exemplificou. >
Soma-se às dificuldades operacionais, o fato de o Brasil ser um país desigual. Nos últimos dois anos, a situação se agravou com a pandemia do novo coronavírus. Este cenário socioeconômico atual se impõe como um dos principais obstáculos para a área da Segurança Pública, segundo o secretário. >
"Junta-se a isso: o afastamento dos jovens da escola, o desemprego e a mudança de estruturas econômicas das famílias, em decorrência da morte de um pai ou uma mãe pela Covid-19. Isso tudo deságua no campo da Segurança Pública. É uma tarefa difícil", garantiu, ainda durante a entrevista na CBN Vitória.>
Já no início deste mês, 15 coronéis do alto comando da Polícia Militar capixaba enviaram uma carta para Ramalho, relatando insatisfações. Nos últimos dias, alguns foram exonerados e substituídos. Na conversa com Fernanda Queiroz, o secretário garantiu que não se trata de retaliação e descartou uma nova greve. >
"Não tem estremecimento de comando e a situação será resolvida internamente. Os pleitos foram encaminhados à Secretaria de Gestão e Recursos Humanos (Seger) e o que for possível será atendido. A questão da greve não foi posta em nenhum momento, nem mesmo na carta", afirmou.>
Por fim, entre os destaques da entrevista, o secretário Alexandre Ramalho falou sobre as organizações criminosas do Estado, autodenominadas de "facções". De acordo com ele, estas comandam o tráfico de drogas, que é responsável por cerca de 80% dos homicídios cometidos em território capixaba. >
"Elas impõem um código de sobrevivência e, quem fugir, paga com a morte. Há organizações criminosas definidas que se rivalizam o tempo todo, tentando expandir seus tentáculos. Não percebemos a presença de facções de outros Estados aqui, mas existe contato logístico para compra de armas e drogas", explicou.>
Neste sentido, ele ressaltou a ação do Centro de Inteligência e Telemática da Polícia Civil e a Operação Sicário II, deflagrada na semana passada e que resultou na prisão de 28 criminosos. "São lideranças efetivas do tráfico de entorpecentes. Entendemos que há necessidade de partir para cima desses indivíduos", concluiu.>
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