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Facção de chefe do tráfico preso em Vila Velha participou de 11 ataques

Facção de chefe do tráfico preso em Vila Velha participou de 11 ataques

Quantidade é referente somente aos ataques deste ano atribuídos ao Terceiro Comando Puro (TCP), segundo a polícia; mais crimes estão em investigação e índice pode ser maior

Publicado em 21 de julho de 2022 às 19:37

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Júlia Afonso
Repórter / [email protected]

Somente este ano, pelo menos 11 ataques foram promovidos pela facção Terceiro Comando Puro, o TCP, que comanda a maior parte dos grupos criminosos localizados na região da Grande Santa Rita, em Vila Velha. O chefe, identificado como Wende Oliveira de Almeida, e integrantes do grupo foram presos nesta quinta-feira (21), durante uma operação da Polícia Civil.

Os ataques, de acordo com o delegado Romualdo Gianordoli, acontecem contra traficantes rivais, normalmente da facção Primeiro Comando de Vitória (PCV).

"Essa organização criminosa é investigada por diversos homicídios na região. Já apareceram, nas investigações, pelo menos 11 incidentes de homicídio: não digo que são 11 homicídios porque houve triplo homicídio, por exemplo. Fora vários outros que a DHPP investiga. Esperamos que eles parem, porque se não pararem a gente vai continuar até enfraquecer completamente essa organização", disse o chefe do Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Um dos ataques foi um triplo homicídio no bairro Jaburuna, no dia 25 de janeiro deste ano. Na ocasião, a Polícia Militar foi acionada para atender uma ocorrência de assassinato numa escadaria. Lá, encontraram um homem morto sentado em uma cadeira,  num local que seria ponto estratégico do tráfico de drogas.

Logo depois, os militares receberam a informação de que duas outras pessoas foram assassinadas dentro de uma casa, a cerca de 200 metros da escadaria. Na residência, encontraram Francisco Souza Scalzer Netto, de 26 anos, e Luciane Bredoff de Jesus Penha, de 46 anos, mortos.

Escadaria no bairro Jaburuna onde uma das vítimas foi assassinada na madrugada desta terça (25)
Escadaria no bairro Jaburuna onde uma das vítimas foi assassinada. (TV Gazeta)

Outro crime de repercussão promovido pelo TCP este ano foi a morte de um casal no bairro Planalto, no dia 21 de janeiro. Na época, bandidos armados invadiram dois apartamentos durante a madrugada e assassinaram Jabes César Ribeiro, de 28 anos, e Gabriela Moreira Faqueres, de 16 anos.

À esquerda, Jabes César Ribeiro, de 28 anos; e à direita, a adolescente Gabriela Moreira Faqueres, de 16 anos
À esquerda, Jabes César Ribeiro, de 28 anos; e à direita, a adolescente Gabriela Moreira Faqueres, de 16 anos. (Acervo familiar)

MAIS DE 20 MORTES SÓ EM ABRIL EM VILA VELHA

A quantidade de ataques foi aumentando o índice de violência do município, que registrou 21 mortes só no mês de abril, de acordo com o coronel Marcio Celante, secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social.

"Iniciamos uma força-tarefa de ação de inteligência, e através de operações qualificadas como a de hoje foi possível a prisão de traficantes, apreensão de arma de fogo, e principalmente através dessa atividade de inteligência identificar as lideranças desse tráfico de drogas", pontuou.

O secretário reforçou que 60% dos assassinatos que acontecem no Espírito Santo têm relação com o tráfico de drogas. "Além disso, 80% dos homicídios são realizados com a utilização de arma de fogo. Por isso, o trabalho de inteligência foca em apreensão de homicidas e traficantes, buscando a redução desses homicídios."

ENTENDA COMO O TERCEIRO COMANDO PURO SE ORGANIZA

De acordo com a polícia, o TCP não é tão organizado como o PCV, por exemplo – uma das maiores facções criminosas do Estado, com sede no Bairro da Penha. Apesar disso, o grupo conseguiu tomar conta de boa parte dos traficantes que atuam na região da Grande Santa Rita, nos bairros: Alecrim, Santa Rita, Zumbi dos Palmares, Pedra dos Búzios e Planalto.

As principais e mais rentáveis bocas de fumo da região são chamadas Pingo D'água, Beco do Alemão e SB. "Não digo que a gente desarticulou o TCP, que é a bandeira que eles ostentam, porque o TCP é muito fragmentado. Mas com certeza a gente conseguiu desarticular em parte aquela organização que atua na Grande Santa Rita", destacou Gianordoli.

Algumas ruas da Grande Santa Rita são ligadas à organização criminosa rival, o PCV. "Naquela região da Grande Santa Rita existem alguns pontos polarizados em que o grupo que domina não fecha com o TCP. Como são grupos menores, esse maior usa de muita força bélica para atacá-los. Eles usam também parceiros (de outros locais) para realizarem os ataques", detalhou o delegado Alan de Andrade, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha.

OPERAÇÃO PARA PRENDER OS INTEGRANTES DA GANGUE

A operação realizada nesta quinta-feira cumpriu 20 mandados de busca e apreensão e prendeu nove pessoas, sendo duas delas em flagrante. Além de Wende e familiares, a polícia conseguiu capturar o gerente do tráfico da boca de fumo Pingo D'água, em Alecrim, e o chefe do tráfico de Jardim Marilândia.

Na casa de Wende, foram apreendidos dois carros: um Honda Civic e um Toyota Corolla. Em outros endereços da gangue, a polícia encontrou quatro armas, sendo dois revólveres de calibre 32, um de calibre 38 e uma pistola 635. Mais de R$ 15 mil em espécie também foram recolhidos durante as buscas.

Outro fato que chamou a atenção foi a apreensão de um camisa com o símbolo da Polícia Civil de Minas Gerais. Segundo as investigações, os bandidos usavam o uniforme em assassinatos e roubos.

Para lavar o dinheiro sujo do tráfico, o chefe da facção usava uma distribuidora de bebidas e uma loja de roupas femininas, da Grande Santa Rita. Os estabelecimentos estavam em nome de um laranja que mora em Portugal.

Operação Obituary: carro apreendido na casa do chefe do tráfico de Vila Velha(Divulgação | Polícia Civil)
Facção de chefe do tráfico preso em Vila Velha participou de 11 ataques

FOTOS DE CORPOS ERAM ENVIADAS PARA CHEFE

Os atiradores do TCP eram frios: para comprovar que os homicídios foram realmente consumados, eles costumavam enviar fotos dos corpos de rivais assassinados para o chefe da facção. Daí o nome da operação, batizada de "Obituary", que, em inglês, significa "obituário".

"Esse grupo é muito violento, age geralmente com vários indivíduos dentro do veículo. Vários descem do carro, e eles não utilizam apenas uma arma, costumam usar metralhadoras. Há relatos até de fuzil na região", disse o delegado Andrade.

Além das fotos dos mortos, eles ostentavam armas. "Eles ostentavam muito armamento, mas o específico dessa facção é que eles gostavam de mandar as fotos dos alvos que eles conseguiam abater, e dava para ver que era uma foto tirada por quem tinha matado, porque dava para ver que ainda não tinha perícia no local e nem isolamento", completou Gianordoli.

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