Publicado em 19 de outubro de 2020 às 20:33
A cada oito minutos um estupro é registrado no Brasil. A informação é do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta segunda-feira (19), que mostrou que apenas em 2020 foram 25.469 boletins de ocorrência de estupro realizados em delegacias do país e 33.019 no mesmo período de 2019. >
No Espírito Santo, foram 602 casos de estupros registrados apenas nos primeiros seis meses deste ano, uma média de três casos por dia. Do número total, 415 foram contra vulneráveis - crianças, adolescentes e pessoas que não podem oferecer resistência ao ato. Já no mesmo período de 2019, foram 840 casos, sendo 611 contra vulneráveis. >
Os números dos primeiros semestres de 2019, comparados ao mesmo período de 2020, mostram que houve uma diminuição de 28,3% dos casos registrados. Mas isso não significa que menos estupros aconteceram neste ano. >
Para os especialistas, pode ter havido uma subnotificação destes crimes por conta da pandemia do novo coronavírus - época em muitas pessoas ficaram evitaram sair de casa por causa do distanciamento social. >
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"Ainda não há um estudo comprovando, mas a gente entende que pode, sim, ter havido uma subnotificação, principalmente em casos de violência sexual, que naturalmente acontece muito mais do que é noticiado. Durante a pandemia, não houve a opção de registro de ocorrência online para casos de estupro, pois é um tipo de crime que demanda exames presenciais. Então se já era delicado denunciar em períodos comuns, pelo sentimento de vergonha ou culpa, nesse período isso ficou pior", afirmou a gerente de proteção à mulher da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), delegada Michelle Meira.>
A diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, e a pesquisadora Isabela Sobral explicaram, através de nota divulgada no Anuário, que os números mostrados podem ser dez vezes maiores.>
"Estes números dão conta apenas da face mais visível dos crimes sexuais, aqueles que são notificados às polícias. Há anos chamamos a atenção para a imensa subnotificação que cerca o fenômeno, fruto do medo, sentimento de culpa e vergonha com que convivem as vítimas; medo do agressor e até mesmo o desestímulo por parte das autoridades. Como afirma a jornalista Ana Paula Araújo em seu livro recém-lançado, 'Abuso: a cultura do estupro no Brasil', o estupro é o único crime em que a vítima é quem sente culpa e vergonha. Pelas estimativas existentes, esse número pode ser até dez vezes maior, mas nos faltam estudos e pesquisas sobre o problema", disse a nota. >
Em todo o Brasil, 70,5% das vítimas de abuso sexual são vulneráveis. A faixa etária das vítimas de estupro de vulnerável indica que 57,9% delas tinham no máximo 13 anos na data do registro. A maioria (28%) possui entre 10 e 13 anos, 18,7% têm entre 5 e 9 anos, e 11,2% são crianças de 0 a 4 anos. >
Quando falamos do gênero feminino, as idades mais atingidas são de 13 a 14 anos. Já quando há estupro de vulneráveis entre o gênero masculino, as idades mais afetadas são entre 4 e 5 anos.>
"Observa-se que a maior parte das vítimas de estupro e estupro de vulnerável são do sexo feminino cerca de 85,7%, na evidência de que as desigualdades latentes nas relações de gênero estão na raiz das relações violentas e hierárquicas", completou a nota. >
Ainda sobre estupro de vulneráveis, foi verificado que em 84,1% dos casos o autor era conhecido da vítima. Além disso, os dados mostram que 64% dos casos ocorrem no período da manhã ou da tarde. Para os pesquisadores, possivelmente os crimes ocorreram no momento que pais e responsáveis se ausentaram para o trabalho.>
"Isso sugere um grave contexto de violência intrafamiliar, no qual crianças e adolescentes são vitimados por familiares ou pessoas de confiança da família, muitas vezes por pessoas com quem tinham algum vínculo de confiança", completou a nota. >
Ao fazermos um recorte de gênero, é possível perceber que é o feminino o mais afetado pela violência sexual. No caso das vítimas de estupros de vulneráveis no Brasil, por exemplo, observa-se que cerca de 85,7% são meninas. >
No Espírito Santo, de todos os 602 casos, 446 foram contra mulheres e meninas de idades diversas. Entre o total vítimas em vulnerabilidade (421), 303 eram meninas e 118 eram meninos.>
Se compararmos os últimos dois anos, o Anuário Brasileiro de Segurança Público mostrou, ainda, um aumento de 9,7% dos casos registrados de estupro ou tentativa de estupro contra vulneráveis no Estado. Em todo ano de 2018 foram 1.555 registros. Já em 2019, foram 1.726 casos.>
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