> >
Fogos de artifício sem barulho: como funciona o espetáculo silencioso

Fogos de artifício sem barulho: como funciona o espetáculo silencioso

A cada ano que passa, mais cidades têm adotado o modelo de show pirotécnico que não agride bebês, idosos e animais

Publicado em 19 de dezembro de 2019 às 19:22

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
A reportagem testou os fogos de artifício "silenciosos" . (Ronaldo Rodrigues)

O uso de fogos de artifício já levanta discussões há algum tempo. Enquanto alguns defendem, outros são contra pelo barulho incomodar principalmente idososcrianças pequenas, animais de estimação e pessoas com alguma sensibilidade sonora. Pensando nisso, algumas cidades brasileiras, como Florianópolis, optaram pelos fogos de pouco ruído para o réveillon 2020. Conhecidos popularmente como fogos silenciosos, por terem um som mais baixo do que o convencional, a novidade também foi adotada por Vitória para iluminar a festa de virada de ano. 

Essa alternativa já foi adotada por cidades da Itália, além das brasileiras São Paulo (SP), Campos do Jordão (SP) e Poços de Caldas (MG) no réveillon do ano passado. Na Grande Vitória, a iniciativa vai ser adotada pela primeira vez este ano pela Prefeitura de Vitória.

A empresa que vai realizar o serviço de fogos silenciosos em Vitória é de Curitiba, no Paraná. Para entender melhor como é a  diferença entre os de baixo, médio e alto ruído, A Gazeta convidou uma empresa capixaba para fazer uma simulação.

É importante lembrar que não significa que os fogos do réveillon de Vitória serão como os mostrados no vídeo abaixo, mas sim uma demonstração para que tenhamos ideia de como os fogos funcionam e suas diferenças.

PONTOS DE QUEIMA DE FOGOS EM VITÓRIA

O espetáculo de luzes e cores acontecerá em cinco pontos da Capital capixaba: .

  • Três na Praia de Camburi (Jardim Camburi, Jardim da Penha e Mata da Praia), com duração de 17 minutos
  • Orla do bairro Santo Antônio, com duração de 10 minutos
  • São Pedro (Ilha das Caieiras), com duração de 10 minutos

O contrato com a empresa que fará a queima de fogos já foi fechado e custará R$ 979 mil à prefeitura. Quando a novidade foi anunciada, no dia 14 de dezembro deste ano, o diretor presidente da Companhia de Desenvolvimento, Inovação e Turismo de Vitória (CDV), Leonardo Krohling, afirmou que esse era um sonho antigo.

"Era um desejo nosso desde o ano passado, mas não tínhamos empresas suficientes que forneciam esses fogos em grandes quantidades e isso custava cerca de 40% mais caro na época. Agora, nós estruturamos isso desde o início do ano e teremos uma queima de fogos com barulho muito menor", afirma.

Krohling explicou, na ocasião, que apesar de serem conhecidos como "fogos silenciosos", na verdade eles fazem um pequeno barulho, só que muito menor do que os fogos tradicionais. "São fogos de baixo estampido. Como eles explodem com pólvora, não tem como serem totalmente mudos. Mas já reduzem significativamente o barulho".

OUTROS MUNICÍPIOS

Procurada, a Prefeitura da Serra informou que haverá queima de fogos no réveillon nos principais balneários da cidade: Manguinhos, Nova Almeida e Jacaraípe. Apesar de estarmos a menos de duas semanas da virada de ano, o município informou, por nota, que ainda "avalia a possibilidade de utilizar fogos silenciosos".

Em Vila Velha, a subsecretária municipal de Turismo, Neymara Carvalho, não descarta adotar a ideia para os próximos anos. "Este ano, dentro do orçamento que a gente traçou, a gente já orçou dentro das bases normais. Mas não vejo um distanciamento para os próximos anos. O foguetório vai ser com barulho ainda este ano, mas dentro das regras aceitáveis", comentou.

Na noite da última quarta-feira (18), na Câmara da Serra, foi aprovado o Projeto de Lei que proíbe o uso de fogos de artifício que façam barulho na cidade. Ao todo, quinze vereadores foram a favor da proposta, um foi contra, um se absteve e outros quatro não votaram. A proposta agora segue para o prefeito Audifax Barcelos (Rede) sancionar ou vetar.

ALÉM DO RUÍDO PRODUZIDO, QUAIS DIFERENÇAS ENTRE OS FOGOS?

De acordo com Elias Teixeira, que há 12 anos é proprietário da Polifogos, em Vila Velha, o diferencial dos fogos com poucos ruídos é que ele não produz bombas arredondadas e sim bombas pequenas, ideais para serem usados em curta distância. "Apesar do tubo ser menor, ele tem a possibilidade de ter mais efeitos porque cada tubo consegue acumular mais projetis", disse.

Queima de fogos tradicionais na virada de ano na praia de Camburi - Editoria: Cidades - Foto: Vitor Jubini - GZ. (Vitor Jubini)

Zélio Muratori de Melo, da Brasil Pirotecnia, que atua há 25 anos na área, explicou que o impacto para abrir o colorido dos fogos foi reduzido após estudos, ocasionando a diminuição do barulho. "Dá para escutar, mas com um ruído bem menor. O brilho não se perdeu, o que diminuiu foi a capacidade de força para abrir os fogos", conta. 

Já José Fernando da Silva, gerente da fábrica de fogos Caruaru, em Minas Gerais, que vende o produto para lojas capixabas, acredita que os fogos sem ruídos tornam os efeitos mais limitados. "Aquele efeito que faz a abertura no céu, em formato de bola, abrindo como um coqueiro, gasta uma explosão, uma pólvora. Os fogos de baixo ruídos não têm essa capacidade. Enquanto os que fazem barulho possuem pólvoras que explodem, os sem barulho têm pólvora de propulsão", afirma. 

AS IMPRESSÕES DOS DIFERENTES FOGOS

A reportagem acompanhou uma demonstração de três tipos diferentes de fogos de artifício, durante a noite desta terça-feira (17). Na areia da Praia de Camburi, Zélio Muratori explodiu primeiro os tradicionais. O barulho, já bastante conhecido, chegava a dar aqueles pequenos sustos à equipe e foi mais que suficiente para agitar os cachorros das casas da região.

Em seguida, foram os fogos do tipo mais silencioso. O som era bem baixo, no momento da propulsão. Tamanha diminuição de ruído, porém, teve um custo: no céu, eles não se abriam, fazendo somente um caminho unidirecional de luz dourada, em um estilo "cometa". Apesar de bonito, a impressão para um leigo podia ser de falha no estouro.

Por fim, outro tipo de fogos considerados silenciosos. Com um barulho intermediário entre os outros dois, ele fazia um som forte perto do anterior, mas ainda consideravelmente mais baixo que os tradicionais e ainda abria colorido e bonito no céu. Com menos bombas na composição, a única perda é no tamanho do espetáculo – mas facilmente aceitável, se considerado os benefícios.

DIFERENÇA DE VALOR

A diferença de preço varia entre 15% e 20% a mais no valor dos fogos com baixos ruídos. Elias Teixeira contou que um conjunto com múltiplos tubos dos fogos tradicionais, com 110 explosões em alto ruído custa hoje R$ 1.500. Já o de baixo ruído, conhecido popularmente como "silencioso", com o mesmo número de explosões, custa R$ 1.900.

"Está começando a ter uma procura este ano. Os de baixo ruído possuem efeitos menores por terem bombas pequenas. Os valores são próximos. Os fabricantes começaram a fazer esse tipo de fogos esse ano em maior quantidade porque esse ano está tendo mais demanda de pessoas, principalmente, preocupadas com os animais", disse.

Já Zélio Muratori de Melo contou que uma caixa individual de fogos "silenciosos" coloridos, contendo seis foguetes que podem ser usados separadamente, custa hoje R$ 33. Enquanto o kit com 36 tubos, que faz um espetáculo de 45 segundos sozinho, custa R$ 179. "Tenho recebido muita procura de uns três anos para cá e, em 2019, decidimos inovar".

CUIDADOS AO MANUSEAR

Com a procura pelos fogos, tanto convencionais quanto silenciosos, os profissionais alertam para os cuidados que as pessoas devem tomar ao manusear os foguetes. "Todos eles vêm com uma base, que deve ser fixada em um local plano, para que a propulsão aconteça a uma distância segura. As informações estão nas caixas, é só segui-las", garantiu Muratori.

VÍDEO MOSTRA FOGOS DE BAIXO RUÍDO NO REINO UNIDO

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais