Repórter de Economia / [email protected]
Publicado em 29 de abril de 2021 às 20:09
A pandemia do coronavírus impactou em cheio o mercado de trabalho. Enquanto muitos profissionais passaram a atuar em home office, outros se arriscaram e precisaram se expor mais para ajudar no enfrentamento da Covid-19 ou mesmo para manter a renda e o sustento da família. E são justamente esses os trabalhadores que mais são infectados pelo vírus no Espírito Santo.>
Mais de 187 mil trabalhadores foram infectados pela Covid-19 no Estado, o que representa 44% dos casos confirmados. Desse total, oito a cada 100 profissionais infectados no Espírito Santo contraíram a doença em função ao trabalho, o que equivale a cerca de 15 mil pessoas. >
Além dos profissionais da saúde, como enfermeiros, técnicos de enfermagem e médicos, que estão na linha de frente do combate ao coronavírus, as outras duas categorias com mais casos confirmados no Estado são os autônomos e os trabalhadores rurais. Os dados são do sistema estadual de notificação de agravos, da Secretaria da Saúde (Sesa).>
Ao todo, 1.543 trabalhadores morreram em decorrência da doença no Estado, sendo 70 deles em função do trabalho. O Boletim Epidemiológico contabilizou os números desde o início da pandemia, em março do ano passado, até o dia 23 de abril de 2021. >
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O cálculo levou em consideração todos os casos positivos da doença com o campo "ocupação" preenchido na ficha de notificação. Foram excluídos da análise os casos em que as ocupações foram preenchidas como dona de casa, aposentado, estudante ou em branco.>
O segmento que mais registrou infecções pelo novo coronavírus foi o da saúde. Ao todo, foram registrados 28.968 casos da doença na área, que engloba colaboradores que atuam na assistência direta aos pacientes além de ocupações como nutricionistas, farmacêuticos, recepcionistas, vigias, cozinheiros, auxiliares de limpeza e funcionários administrativos de unidades de saúde.>
A chefe do Núcleo Especial de Saúde do Trabalhador da Sesa, Liliane Graça Santana, ressalta que os trabalhadores da saúde respondiam por cerca de 40% dos registros logo no início da pandemia. Hoje, eles totalizam cerca de 7%. Foram registrados 89 óbitos entre os profissionais da saúde, sendo 32 médicos. Em relação à letalidade, os funcionários do setor morrem cerca de oito vezes menos do que a população em geral. >
“O alto índice de infecção nesta área é justificado por conta da exposição que todos são submetidos em um ambiente hospitalar, deste a recepação até o médico. No início, tudo era muito novo e os profissionais foram aprendendo a cada dia sobre a pandemia. Depois disso, fizemos diversas capacitações, inclusive com orientações sobre a maneira correta de colocar e tirar a máscara. Isso foi resultado de todo um amadurecimento em como tratar a doença. Agora com a vacina, a tendência é contribuir ainda mais na redução do número de trabalhadores infectados”, destaca Liliane. >
A estimativa é de que 33% dos enfermeiros, 24% dos agentes comunitários e 22% dos técnicos e auxiliares de enfermagem tenham contraído a Covid-19 no Estado. Segundo dados da Sesa, quatro em cada dez trabalhadores do setor foram infectados no ambiente de trabalho. >
Outras categorias também chamam a atenção no número de casos. Quando se considera cada uma das ocupações declaradas, sem agrupar em grupos como a área da saúde, a classe dos autônomos lidera os diagnósticos de Covid-19 no Estado, com mais de 21,1 mil casos. Isso significa que 11 em cada 100 trabalhadores infectados são autônomos.>
Tratam-se de profissionais que podem estar inseridos em ambientes de trabalho diversos, como motoristas de aplicativo, vendedores ambulantes ou pedreiros, por exemplo, que na maioria dos casos precisaram seguir trabalhando para manter a renda da família mesmo diante do risco do coronavírus.>
Em seguida, aparecem os trabalhadores da agricultura, que respondem por quase 6% do total de registros. A maior parte desses profissionais são do sexo masculino (60%), identificados com a raça/cor branca (52%) e estão distribuídos principalmente na faixa etária dos 40 a 49 anos. >
“Muitos trabalhadores da agricultura não usam máscara, alguns deles até dizem que o equipamento atrapalha no desempenho da atividade. Além disso, eles têm contato com outras pessoas em feiras e na Ceasa. Estes podem ser fatores que contribuem pelo grande volume de casos. É a mesma situação dos autônomos, em que a gente vê que a falta de máscara e de higienização também contribui para que eles estejam entre os mais infectados”, avalia Liliane.>
Além destes profissionais, os professores, administradores e empregados domésticos estão entre as 20 ocupações com mais notificações de casos, que somam 50% do total de trabalhadores infectados no Estado.>
Sobre a contaminação de trabalhadores em geral, a chefe do Núcleo Especial de Saúde do Trabalhador da Sesa afirma que na maioria dos casos não há como afirmar se a infecção pelo vírus ocorre mais no trajeto ou no ambiente corporativo. >
“Muita gente utiliza o transporte coletivo, não usa a máscara corretamente, não conegue fazer distanciamento social e não higieniza corretamente as mãos. Estes são fatores que geram um ponto de atenção na hora de fiscalizar. É preciso reforçar essas medidas simples e que ajudam na redução de casos da doença”, ressalta. >
Os dados compilados pelo Boletim Epidemiológico da Covid-19 vão auxiliar no desenvolvimento de ações conjuntas entre Sesa, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT), o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Superintendência Regional do Trabalho, órgão vinculado ao Ministério da Economia. >
A juíza do trabalho e gestora regional do programa "Trabalho Seguro" do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Germana de Morelo, destaca que é necessária a conscientização dos empregadores para que sejam cumpridas todas as normas de segurança de forma a evitar a contaminação dos colaboradores. A iniciativa do TST consiste em desenvolver ações que assegurem a saúde dos trabalhadores.>
A magistrada entende que a Covid-19 pode ser considerada, sim, uma doença do trabalho e pode ser equiparada a um acidente ocupacional se for comprovado que a infecção ocorreu no ambiente corporativo ou no trajeto utilizado para chegar até lá. >
Germana de Morelo
Juiza do trabalhoGermana destaca que o funcionário também tem obrigações a cumprir para evitar a propagação da doença. Uma delas é o uso correto da máscara no ambiente corporativo e fora dele. Ela lembra que ao se recusar em usar o equipamento, esse colaborador pode ser advertido e até mesmo ser demitido por justa causa. >
“O uso da máscara protege o trabalhador e todas as outras pessoas que estão no mesmo ambiente. Já quem não se sente seguro pode se negar a trabalhar naquele local. Outra discussão envolvendo a proteção está relacionada à vacina. Entendo que o empregador poderá exigir que todos sejam vacinados, pois é uma forma de proteção de saúde”, comenta. >
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