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STF adia julgamento de lei que tira R$ 18,5 bi do ES em royalties do petróleo

STF adia julgamento de lei que tira R$ 18,5 bi do ES em royalties do petróleo

Decisão sobre o tema estava prevista para o dia 3 de dezembro e foi cancelada após pedidos do governo do Rio para que o governos fluminense e o capixaba tenham mais tempo para fazer acordo com os não produtores

Publicado em 5 de novembro de 2020 às 09:54

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Plataforma P-57, no Litoral Sul do Espírito Santo
Plataforma P-57, no Litoral Sul do Espírito Santo. (Gabriel Lordello/Agência Petrobras/Divulgação)

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, adiou o julgamento da constitucionalidade da lei que promoveu uma nova divisão dos royalties do petróleo. A legislação, suspensa desde 2013 , se fosse validada pela Corte, teria impacto de R$ 18,5 bilhões nos cofres do governo e dos municípios do Espírito Santo nos próximos dez anos. A informação é do jornal O Globo.

A votação, até então, estava prevista para o dia 3 de dezembro. Entretanto, os Estados produtores vêm pressionando pelo adiamento. Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, os mais produtores de petróleo do país, querem que o assunto seja levado ao centro de mediação do Supremo. Os Estados tentam convencer os não produtores a aceitarem um acordo.

Terceiro maior produtor de petróleo do país, o Espírito Santo sofreria duro revés financeiro caso a legislação, que está suspensa desde 2013 por força de liminar, passe a valer. Estudos feitos pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) a pedido do governo estadual apontam para perdas de R$ 8,55 bilhões para o Estado e R$ 9,9 bilhões para os municípios até 2025. 

O dinheiro do petróleo recebido hoje não pode ser destinado ao custeio da folha de pagamentos ou outras despesas de rotina, mas deveriam ser usados para investimentos. Os recursos obtidos em compensação pela produção do “ouro negro”, em alguns casos, são usados para construir e reformar escolas, creches, unidades de saúde, e fazer obras em estradas, por exemplo.

O procurador-geral do Estado, Rodrigo de Paula, esclarece que uma eventual perda dessa fonte de recursos teria impacto direto na capacidade de investimento do Espírito Santo. Ele frisa que os recursos de petróleo representam entre 11% e 12% da receita corrente líquida do governo capixaba.

“Quando foi colocada essa lei, em 2012, ainda vivia-se a euforia do pré-sal, e houve uma pressão para que mudassem a regra. Mas isso mudou. Estados que não têm expertise no assunto acham que vão receber rios de dinheiro, mas não é assim. Por outro lado, haveria uma perda muito grande para os entes que já contam com esses recursos.”

Boa parte dos investimentos em território capixaba, segundo De Paula, tem sido feita com recursos do Fundo de Obras e Infraestrutura, mantido, principalmente, com os royalties e transferências advindas das atividades ligadas à produção e exploração do petróleo.

O dinheiro do petróleo também é alocado no Fundo Soberano, que é uma espécie de poupança criada pelo governo do Estado para as futuras gerações. 

“Esses recursos não podem ser utilizados para despesas com pessoal, por exemplo. Devem ser utilizados prioritariamente para investimentos, até porque são recursos finitos, uma vez que a exploração do petróleo e gás uma hora vai acabar. Vai demorar, mas vai acontecer.

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Uma mudança muito extensa na distribuição de royalties, como a prevista na lei cuja constitucionalidade o STF vai julgar, pode fazer com que diversos projetos deixem de sair do papel

Rodrigo de Paula
Procurador-geral do Estado
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A preocupação não vem sem motivo. R$ 18,5 bilhões, afinal, é uma quantia expressiva. A pedido de A Gazeta, o economista Eduardo Araújo, membro do Conselho Federal de Economia (Cofecon), realizou uma projeção que exemplifica o que é possível fazer com esses recursos, e tipos de projetos que poderiam não sair do papel.

Entre as possibilidades, está a construção de 3.660 creches com capacidade para atender 370 crianças em cada unidade, 4.625 unidades de saúde para atender 80 mil pessoas por ano, ou o pagamento, por pouco mais de 5 anos, de um benefício como o auxílio emergencial, com valor de R$ 300, para 1 milhão de capixabas.

Para Araújo, a perda dessa quantia seria um “evento catastrófico” para o Estado e municípios, somando-se ainda aos efeitos de outras perdas de recursos enfrentadas nos últimos anos.

“Tivemos mudanças de regras do ICMS, principalmente ligadas ao comércio exterior. Mudanças mais antigas, também, pela Lei Kandir, que afetaram a arrecadação. Somado a esses fatores, enfrentamos uma série de situações inesperadas, que também trouxeram prejuízos, como a questão da Samarco, parada há quase cinco anos.”

O economista considera que as discussões relacionadas à distribuição dos royalties são problemáticas, considerando a conjuntura atual.

Por volta da época em que foi extraído o primeiro óleo de pré-sal, surgiu a expectativa de que a produção de petróleo fosse levar o Estado a uma “situação de país de primeiro mundo”. O sonho, entretanto, não se concretizou, tendo sido frustrado por uma série de eventos ao longo dos anos.

“A situação atual traz um alerta em relação ao planejamento econômico do Estado. Ficar muito dependente desses recursos para financiamento de investimentos pode se tornar um negócio muito arriscado.”

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Perder esses recursos seria um evento catastrófico. Mas isso tudo também traz um alerta de que é preciso buscar a diversificação de economia capixaba, não apenas para gerar emprego e renda, mas para diversificar também as fontes de arrecadação

Eduardo Araújo
Economista
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ESTADOS TENTAM IMPEDIR PREJUÍZOS BILIONÁRIOS

O Espírito Santo e o Rio de Janeiro querem que a discussão sobre a divisão de royalties do petróleo vá para a Câmara de Conciliação do Supremo Tribunal Federal (STF). O pedido foi feito no último 27 pelo governo fluminense e teve apoio do Estado capixaba.

O procurador-geral do Estado, Rodrigo de Paula, explicou que o Espírito Santo apresentou uma proposta que contempla uma solução para esse tipo de litígio. Entre outros benefícios, se acatado, o acordo faria com que o Tesouro Estadual perdesse 6% da arrecadação anual com petróleo, em vez de 40%.

“O Estado apresentou uma proposta de interpretação da lei que contempla uma solução para esse litígio. São Paulo e Rio de Janeiro aderiram, e o que o Rio fez foi solicitar o envio do caso à Câmara de Conciliação, para que seja feita uma discussão entre a União e os Estados. Então, sim, a gente apoia.”

De Paula observa que, nesse caso, o adiamento do julgamento deve se tornar uma consequência, uma vez que não haveria tempo o bastante para discutir a questão adequadamente até o início de dezembro.

Com informações de Caroline Freitas.

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