Publicado em 23 de julho de 2020 às 20:51
A primeira parte da proposta de reforma tributária do governo federal, que propõe unificar a Cofins e a contribuição ao PIS/Pasep em um novo imposto federal sobre consumo, a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), deve ser ampliada na avaliação dos Estados. Secretários de Fazenda avaliam que o melhor seria criar um único Imposto sobre Valor Agregado (IVA), unindo não só os tributos federais, como também o ICMS (estadual) e o ISS (municipal).>
Essa também é a avaliação do secretário da Fazenda do Espírito Santo, Rogélio Pegoretti, que defende o debate em torno de um IVA amplo, mas com respeito à autonomia dos Estados. Ele acredita que o projeto da União deveria ser ampliado, já que há certa concordância com a pauta de simplificação entre os demais entes, mas admite que a discussão é complexa.>
Hoje, já há duas propostas tramitando no Congresso que defendem um imposto sobre consumo mais amplo. A da Câmara extingue ICMS, ISS, PIS, Cofins e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e cria um IVA com alíquota entre 20% e 25%. E a do Senado, além desses, acabaria também com IOF, CSLL, Salário Educação e a Cide (que incide sobre combustíveis), criando um IVA e um outro imposto seletivo para alguns serviços.>
Já a equipe econômica do governo planeja uma reforma em quatro partes. A primeira unificando os impostos sobre consumo PIS e Cofins na CBS, com alíquota de 12%; a segunda reformulando o IPI, transformando-o em um imposto seletivo para alguns setores; a terceira alterando o imposto de renda, introduzindo a tributação de dividendos; e, por fim, a desoneração da folha de pagamentos das empresas com a criação de um imposto sobre transações eletrônicas.>
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Só depois dessas etapas que o governo federal pretende fazer o debate de uma unificação mais ampla de impostos sobre o consumo, como sinalizou o secretário especial da Receita Federal, José Tostes Neto, na terça-feira (21). Já o Comsefaz (Conselho de Secretários Estaduais de Fazenda), quer que toda essa discussão seja feita de uma vez. O grupo inclusive apresentou sua própria proposta.>
"O projeto da União, apesar de bom pelo lado da simplificação, pode melhorar tanto com a inclusão de outros tributos em um IVA amplo, com o respeito à autonomia de Estados e municípios. A nossa proposta do Comsefaz é de um IVA amplo, com alíquota única, e de competência federal, estadual e municipal. É uma agenda grande e difícil, mas muito necessária", avaliou.>
Hoje, PIS/Pasep e Cofins estão entre os tributos considerados como mais complexos, com várias alíquotas e regimes diferenciados, mas empresários também incluem o ICMS nessa lista das maiores dificuldades. Logo, uma unificação de todos esses impostos em apenas um tornaria o sistema tributário efetivamente mais simples. >
Rogélio Pegoretti
Secretário da Fazenda do ESO principal temor de Estados e municípios com a criação de um único imposto é a forma de repartição desses recursos entre os entes. O ICMS é a principal fonte de arrecadação do Estados e, dependendo do modelo de divisão do novo impostos, as perdas na receita seriam catastróficas.>
Logo, uma das principais condições colocadas na mesa pelos Estados para a criação de um IVA amplo é a constituição de um conselho gestor, com participação tanto dos municípios como dos Estados, e que não tenha o governo federal como manda-chuva e único dono do chave do cofre.>
"Os Estados têm uma insegurança grande com relação à União, com as experiências que temos com o Comitê Gestor do Simples Nacional e da Lei Kandir. A repartição, nesses casos, não costuma ser muito respeitada. Então, isso gera uma preocupação muito grande", comentou Rogélio.>
O secretário do Espírito Santo sinalizou que, com um comitê gestor que fosse democrático, seria mais factível fazer essa unificação. "O que os Estados e municípios temem é deixar só sob o controle da União sua principal fonte de arrecadação, o que traria problemas fiscais no futuro".>
A forma de distribuição dessa receita é outra preocupação de boa parte das Unidades da Federação. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) estima que o governo do Espírito Santo perderia R$ 1,6 bilhão em arrecadação de impostos no primeiro ano de vigência da reforma tributária, já que o modelo das propostas no Congresso privilegia Estados mais pobres.>
Ainda que com esses pontos-chave sem uma definição, Rogélio defende que se enfrente a discussão agora, diante da necessidade da reforma para estimular a economia: "Estamos vivenciando um ambiente raro de convergência nessa disposição de enfrentar a agenda. Temos que aproveitar esse momento para mudar o nosso sistema tributário".>
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