Repórter / [email protected]
Publicado em 15 de setembro de 2023 às 15:43
O Ministério Público do Trabalho no Espírito Santo (MPT-ES) vai investigar o caso de uma moradora de Cariacica que foi discriminada em uma entrevista de emprego por ser mãe. A história viralizou nas redes sociais após Samara Braga, de 32 anos, compartilhar a conversa que teve com o recrutador, na qual o homem diz: "Sempre difícil contratar quem tem filhos". >
A procuradora do Trabalho e vice-coordenadora nacional da Coordenadoria Nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho (Coordigualdade), Fernanda Barreto Naves, informou que a instituição já abriu um procedimento para apurar o episódio. >
Ela explicou que o órgão ficou sabendo do caso por conta da ampla divulgação e instaurou uma notícia de fato, que já foi distribuída entre os membros do órgão por sorteio. Feito isso, o procurador responsável apura o ocorrido, podendo utilizar prints de conversas de WhatsApp, depoimento de testemunhas e solicitação de documentos requisitados à empresa, com o objetivo de esclarecer o ocorrido e ainda conhecer a conduta dessa empresa em relação às outras mulheres. >
Segundo a procuradora, o MPT pode atuar mesmo que ainda não haja uma relação de trabalho propriamente dito, ou seja, que a pessoa ainda não tenha sido contratada. Havendo discriminação no processo de contratação, a instituição trabalha na prevenção do preconceito contra a pessoa trabalhadora, inclusive mulheres e mães.>
>
“Concluída e finalizada a investigação, o MPT propõe um Termo de Ajustamento de Conduta para resolver a situação, para que a empresa cesse esse tipo de prática e que isso não se repita no futuro. São estabelecidas obrigações para impedir conduta discriminatória. Caso haja descumprimento do acordo, a empresa pode ser multada”, explicou. >
Não havendo acordo, o órgão pode entrar com uma ação civil pública na Justiça do Trabalho. Nesse caso, o MPT pode pedir uma indenização por danos morais coletivos, pois houve um dano social muito forte. O processo aberto pelo órgão não impede que a pessoa lesada entre com um pedido individual pela prática discriminatória que sofreu. >
A Lei 9.029/95 tem uma previsão específica para a essa fase contratual. Fernanda Barreto Naves informou que o artigo primeiro da legislação considera discriminação a pessoa que dificulta o acesso ao emprego por fatores como sexo, situação familiar, raça, idade, entre outras causas. >
“Um enquadramento interessante dessa lei, e que serve de alerta, é que, se ficar configurada a discriminação, uma das punições é que a empresa fica proibida de receber empréstimo e financiamento públicos”, ressaltou. >
Além dessa lei, a Constituição Federal, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e tratados internacionais, dos quais o Brasil faz parte, garantem a igualdade nas contratações. >
O Artigo 373 A da CLT impede a divulgação de anúncios discriminatórios, como se ficar claro que a empresa não contrata mães. >
“Ainda não temos um mercado de trabalho equitativo, pois existem diferenças de oportunidades e de salários entre homens e mulheres. O MPT busca a conscientização da população e das empresas para que não se adotem posturas discriminatórias. Culturalmente, os cuidados com o lar e com os filhos recaem sobre as mulheres. Defendemos a paternidade ativa, com uma melhor distribuição de tarefas domésticas, para que se tenha uma desconstrução dessa cultura e se garanta a igualdade”, comentou. >
Quem se sentir lesado durante uma entrevista de emprego ou quando estiver no exercício da atividade laboral pode fazer a denúncia no site do Ministério Público do Trabalho no Espírito Santo. O endereço é www.prt17.mpt.mp.br. As denúncias são sigilosas. >
Fernanda Barreto Naves
Procuradora do Trabalho e vice-coordenadora nacional da CoordigualdadeTambém é possível fazer a denúncia presencialmente ou por telefone. Em Vitória, por meio do 2125-4500. Os canais como Disque 100 ou Disque 180 também podem ser utilizados para denunciar abusos em relação ao trabalho.>
O profissional pode acionar o MPT em assuntos relacionado ao trabalho e seus direitos. A apuração é feita, principalmente, em questões sensíveis como discriminação, trabalho infantil, assédio, entre outras situações. >
Samara Braga, de 32 anos, sofreu discriminação por ser mãe durante uma entrevista de emprego no Espírito Santo. Indignada, ela, que é formada em Administração, viralizou nas redes sociais após compartilhar a conversa que teve com o recrutador. Entre as declarações, o homem disse: “Sempre difícil contratar quem tem filhos”.>
“Isso aconteceu comigo e ainda estou sem acreditar que exista profissional assim. Muito se fala de como se comportar em entrevista, mas nada se diz sobre o comportamento do recrutador com a gente. Fiquei tão indignada que resolvi compartilhar o caso, para servir de alerta a outras mulheres. Esta não foi a primeira vez que sofri preconceito em um processo seletivo”, desabafou. >
Samara, que mora em Cariacica e estava desempregada havia dois meses, utilizava o Linkedin como uma ferramenta de recolocação profissional. A postagem teve mais de 30 mil curtidas, 4 mil comentários e mais de 530 compartilhamentos. >
O caso aconteceu no início do mês de setembro, quando ela estava concorrendo a uma vaga na área de Recursos Humanos. Para ter uma renda extra, a candidata ainda produz bolos e pudins para vender. >
Segundo a candidata, a entrevista com o recrutador estava agendada para às 8 horas da manhã, mas ele não apareceu para a conversa on-line. A moça chegou a mandar várias mensagens, mas somente às 11 horas, ou seja, três horas depois, o recrutador a chamou para a conversa. Em um primeiro contato, o homem havia dito que Samara tinha o perfil ideal para a vaga.>
Após a repercussão do caso, Samara recebeu mensagens de apoio e inúmeras propostas de trabalho. Depois, veio a boa notícia. Ela foi contratada por uma clínica médica credenciada do Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo (Detran), em Cariacica. >
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta